"Quem sou eu para apresentar propostas à IHF? Temos as pessoas da arbitragem em Portugal"
Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional, conversou com O JOGO e abordou todos os temas do Campeonato do Mundo. Técnico reconheceu erros, mas contou situações que só quem as vive sabe, como o facto de alguém ter passado a bola um jogador do Brasil que, assim, teve tempo para marcar o famoso livre de 9 metros.
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Selecionador nacional chegou a Vigo, onde reside, e descansou dois dias. Na quarta-feira, Paulo Jorge Pereira atendeu e falou em exclusivo a O JOGO.
Como analisa a participação de Portugal no Campeonato do Mundo?
-Não atingimos o objetivo ambicioso que tínhamos, embora não considere que tenha sido uma participação negativa, muito pelo contrário. Tínhamos a fase preliminar mais equilibrada e imprevisível do Mundial e acabámos em primeiro lugar. Depois, quando combatemos com os melhores do mundo, poder ganhar ou perder já é um grande avanço para Portugal.
O que faltou para alcançar esse objetivo ambicioso?
-Uma vez mais, faltou-nos um golo e o que vamos continuar a fazer é procurar esse golo. Mas esse golo que falta não depende só de nós, depende de outros fatores.
Quer detalhar?
-É melhor ficar por aqui.
Admite que, com o Brasil, Portugal podia e devia ter jogado melhor, ter sido mais rápido?
-Podíamos ter feito mais, jogámos mais lento do que nos outros jogos, é verdade.
Encontra explicação para isso?
-Na segunda-feira acabámos de jogar às 22 horas, tivemos de jantar a correr porque os funcionários do hotel tinham de ir embora.
Desculpe interromper: isso aconteceu num Mundial?
-É verdade, aconteceu num Mundial... E lembro que esse foi o jogo com a Hungria, com muita adrenalina à mistura. Depois, fizemos a viagem de quatro horas e tal de autocarro, fizemos um treino de descarga e, no dia seguinte, tendo nós sido primeiros do grupo, jogamos às 15h30. Não estávamos no melhor dia e vimos isso logo na primeira parte. Custou-nos a entrar no jogo, é verdade, mas não deixa de ser redutor centrar tudo no encontro com o Brasil.
Quer comentar aquela reviravolta final: depois de Portugal ganhar, acabou por empatar...
-A decisão está correta, a única coisa que pode estar a acontecer é o jogador do Brasil tocar com o pé na linha de nove metros; se não estiver a tocar, a decisão está bem tomada.
Na altura, falou do exagero do castigo. Pode explorar um pouco mais essa ideia?
-Sim, não há proporcionalidade na punição que é dada. Transformar-se um livre de nove metros num de sete metros não é justo. A possibilidade de golo num nove metros é totalmente distinta da possibilidade num sete metros. A minha proposta é que os últimos cinco minutos sejam jogados ao cronómetro. Se aquele jornalista não tivesse passado aquela bola, o Brasil nem tempo teria para marcar o livre de nove metros...
Jornalista?
-Não reparou? Estava ali um jornalista, ou um fotógrafo, alguém que, se não tivesse passado logo a bola, o Brasil não teria tido tempo para atirar à baliza. Esta regra dos 30 segundos parece que quer corrigir defeitos, mas acaba por dar lugar a outros acontecimentos.
Falou numa proposta. Vai apresentá-la à Federação Internacional?
-Falei, é verdade, mas quem sou eu para apresentar propostas à IHF? Temos as pessoas da arbitragem em Portugal, que deviam fazer alguma coisa. São elas que têm essa competência e responsabilidade.
Frente à Suécia Portugal fez uma bela partida. A "verdadeira" Seleção é essa?
-Não podemos fazer uma divisão assim. A nossa equipa ficou em 13.º lugar só tendo perdido com a Islândia e a Suécia... Estamos tristes por não alcançarmos o objetivo, mas nunca iremos ter metas fáceis. Nunca colocaremos objetivos fáceis para no final ficarmos felizes.
É a sua veia ambiciosa?
-Vou-lhe contar uma coisa: no final do jogo com a Suécia, o Gottfridsson [central do Flensburgo] e o Palicka [guarda-redes do PSG] vieram cumprimentar-me e agradecer o jogo que fizemos. Eles perceberam que podiam perfeitamente ter perdido aquele jogo, em que jogámos a um altíssimo nível; de resto, como contra a Islândia.
"Depois da partida com os suecos disse-lhes que os amava"
"Fica-se triste quando se está ali mesmo a tocar o céu e não se consegue", reconheceu Paulo Jorge Pereira, que revelou a O JOGO o que disse aos atletas no final da partida com a Suécia: "Depois da partida com os suecos, no balneário, o que lhes disse foi que os amava. Fiz a mesma coisa no grupo do WhatsApp mal terminou o jogo com a Hungria, em que lhes agradeci e escrevi-lhes: "Amo-vos"". Foram sinais invulgares de carinho e afeto para com os atletas, mas que são utilizados poucas vezes. "Nem sempre pode ser assim... Mas eles falam muito em família, mal seria se o patriarca não sustentasse a família", explicou.