"Posições aerodinâmicas proibidas? É uma medida que não faz qualquer sentido"
Ciclistas portugueses dizem que proibição de posições aerodinâmicas "não faz sentido".
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Os ciclistas portugueses Samuel Caldeira (W52-FC Porto) e Rafael Reis (Efapel) disseram esta quarta-feira à Lusa que a proibição decretada pela União Ciclista Internacional sobre posições aerodinâmicas "não faz sentido", enquanto Nelson Oliveira (Movistar) vê outras necessidades de regulação.
"É uma medida que não faz qualquer sentido. Não é qualquer tipo de manobra destas, que identificaram, que põe em perigo a segurança dos ciclistas. Não se têm verificado acidentes provocados por alguma destas manobras. Quem o faz é quem tem mais habilidade na bicicleta, quem não tem não se arrisca", resume à Lusa Samuel Caldeira.
As medidas recentemente anunciadas pela União Ciclista Internacional (UCI) incidem sobre a posição de descida conhecida por "super tuck", em que um corredor se protege do vento saindo do selim e colocando-se sobre o quadro superior da bicicleta.
Outra das posições abrangidas prende-se com a colocação do antebraço sobre as barras do guiador, próximo do que acontece durante contrarrelógios.
Para Samuel Caldeira, por absurdo, o pelotão fica "próximo" de "nem poder tirar as mãos do guiador para poder festejar" ao cruzar a meta.
"Toda a vida, desde que há ciclismo, este tipo de posições aerodinâmicas fazem parte. Não entendo porque se foram lembrar de as proibir", critica o ciclista da W52-FC Porto, um dos "habitués" no trabalho na frente do pelotão nas corridas nacionais.
Também Rafael Reis concorda que a medida "não faz muito sentido", porque nunca se sentiu "em perigo em nenhuma das posições", ele próprio assumindo que, por ser de estatura alta, beneficia delas para se resguardar do vento.
"Vamos ter de nos reinventar um bocado. O que questiono é se é só estas posições ou outras, como a do Marco Pantani [antigo ciclista italiano que a popularizou], em que ele ia para trás, encostava a barriga no selim", questiona o homem da Efapel.
Para Nelson Oliveira, "a proibir, devia ser tudo".
"Se se chegam para trás para encostar a barriga no selim, torna-se mais perigoso do que sentar no quadro", lembra.
Fora do pelotão nacional, vários foram os ciclistas que se insurgiram contra a medida, como o veterano belga Iljo Keisse, da Deceuninck-QuickStep.
"Nós decidiremos para nós mesmos como corremos e como descemos. A UCI tem primeiro de garantir que o que está nas suas responsabilidades está em ordem", comentou, na rede social Twitter.
"É mesmo assim. Acho que explicou bastante bem. Espero é que ponham estas medidas, mas depois pensem um bocado e melhorem as condições, vejam realmente a estrada em que vamos. A estrada, o percurso em si, se está tudo bem. Às vezes, vamos bem e de repente aparece uma curva cheia de areia e lá vamos todos ao chão. Aí a culpa não é de irmos no quadro", atira Nelson Oliveira, que como Keisse corre no escalão WorldTour.
Também Rafael Reis, um dos melhores contrarrelogistas nacionais, lembra outros "perigos", como óleo na estrada, como responsabilidades da UCI e das organizações de acautelarem, no prisma da segurança do pelotão em prova.
Outra das medidas da UCI prende-se com o arremesso de objetos como bidons e invólucros de barras energéticas fora das chamadas "zonas verdes", que passam a penalizar o ciclista em pontos de "ranking", tempo (em provas por etapas) ou mesmo a conduzir à desclassificação, em corridas de um dia, com novas diretrizes a entrarem em vigor em 01 de abril.
"Tudo o que seja para proteger o ambiente, acho boas medidas. Às vezes, para que possam ser cumpridas, não basta o bom senso e é preciso mão pesada. Neste caso, a mão é bastante pesada", considera Samuel Caldeira.
Rafael Reis, por seu lado, recorda que "muitos dos bidons já são biodegradáveis" e que os ciclistas terão de se "lembrar, porque é penalizador", mas as organizações também terão de "ter mais zonas verdes".