<strong>ESPECIAL ANDEBOL - </strong>Uma época sem precedentes na modalidade está prestes a confirmar-se, faltando a seleção a apurar-se para o Europeu. Para isso bastar empatar esta quinta-feira, na Roménia.
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Quando faltam dois jogos para se concluir o apuramento para o campeonato da Europa de 2020 - o primeiro com 24 seleções e em três países, Áustria, Noruega e Suécia -, Portugal está a um ponto de garantir uma presença que lhe escapa desde 2006. Num ano fantástico para o andebol português, em que FC Porto, Sporting e Madeira SAD tiveram desempenhos notáveis na Europa, também a Seleção Nacional pode confirmar já hoje, na Roménia - ou domingo, quando receber a Lituânia em Matosinhos (17h00) -, que o andebol português recuperou o fulgor que exibiu até à entrada neste século.
Tendo estado concentrada desde quarta-feira, primeiro em Melgaço e a seguir na Póvoa de Varzim, a equipa das Quinas tem uma oportunidade imperdível de voltar à alta roda, e não por o Europeu passar a ter mais oito países, mas por mérito próprio: Portugal é segundo no Grupo 6 após quatro das seis jornadas, mas com os mesmos seis pontos da França, a seleção com o mais rico palmarés da modalidade: seis vezes campeã do mundo, três da Europa e duas olímpica (2008 e 2012). "Está a ser um grande ano para o andebol português, que teve o Sporting nos oitavos de final da Liga dos Campeões, o FC Porto nas finais da Taça EHF e o Madeira SAD na final da Taça Challenge, enquanto a equipa nacional venceu a França (33-27). Esse resultado surpreendeu o mundo do andebol, mas foi um grande passo rumo à qualificação. Com três vitórias, Portugal é uma das equipas em destaque até agora", Chris O"Reilly, na análise da Federação Europeia de Andebol (EHF) à qualificação, colocando a equipa de Paulo Jorge Pereira no segundo lugar de um "power ranking", a seguir à imbatível Hungria.
Este bom momento surge mais de uma década depois de um período em que Portugal esteve com regularidade nas fases finais, tendo disputado os Europeus de Portugal (1994), Croácia (2000), Suécia (2002), Eslovénia (2004) e Suíça (2006), e os Mundiais do Japão (1997), França (2001) e Portugal (2003). Seguiu-se um período de crise, com sucessivas qualificações falhadas.
Agora, o selecionador Paulo Jorge Pereira e um grupo de jogadores que é uma mescla dos talentos que, em 2010, foram medalha de prata no Europeu de sub-20, e uma nova fornada, como André Gomes, Luís Frade, Miguel Martins e Gustavo Capdeville, podem terminar com a malapata. Com as seleções masculinas de sub-19 e sub-21 apuradas para os Mundiais, e as femininas nos Europeus de sub-19 e sub-17, todas a decorrer este ano, só falta a seleção A concluir com um êxito uma caminhada que começou a 24 de outubro do ano passado, em Santo Tirso, com uma vitória sobre a Roménia (21-13), continuou quatro dias depois na Lituânia (23-24) e teve um ponto alto a 11 de abril, em Guimarães, com um triunfo tão raro quanto claro sobre a França.
Atuações europeias ficam para a história
FC Porto, que fez a sua melhor temporada de sempre na modalidade, foi a primeira equipa portuguesa a jogar a final-four da Taça EHF.
Os clubes tiveram um papel decisivo neste ano ímpar do andebol português, com destaque para o Sporting na Liga dos Campeões, o FC Porto na Taça EHF e o Madeira SAD na Taça Challenge.
Apesar de Portugal já ter tido um clube, o ABC, na final da Champions (1993/94) e com quatro presenças nos quartos de final (1993/94, 1996/97, 1997/98 e 2000/01), o Sporting, num novo e mais exigente sistema competitivo e numa altura em que mais países evoluíram na modalidade, conseguiu uma caminhada notável, tendo atingido os oitavos de final. Os homens de Hugo Canela caíram perante o Veszprém, da Hungria, que foi finalista frente ao Vardar e, nas últimas seis épocas, esteve cinco vezes na final-four.
O FC Porto, na Taça EHF, foi a equipa que mais jogos europeus fez esta época, 16. O Sporting, na Champions, fez 14, e o Madeira, na Taça Challenge, esteve em dez
Na Taça EHF, cujos níveis de dificuldade também cresceram bastante, o FC Porto foi apenas a segunda equipa portuguesa a jogar uma meia-final, depois de ABC lá ter chegado em 1999/2000. Mais, desde que a "EHF" passou a jogar-se com fase de grupos e em final concentrada (2012/13), os dragões foram os primeiros representantes lusos a chegar à final-four. Perderam a meia-final com os alemães do Fuchse Berlim, duas vezes vencedores da prova (2014/15 e na época passada) e, na partida para o terceiro lugar, o conjunto de Magnus Andersson derrotou os dinamarqueses do Holstebro. Tudo isto numa campanha em que, no acesso aos grupos, afastou o poderoso Magdeburgo, tendo depois feito seis vitórias em seis jogos no poule C.
Por fim, o Madeira SAD de Paulo Fidalgo alcançou a final da Taça Challenge, que perdeu para o CSM Bucareste, de Paulo Jorge Pereira. Foi a primeira final europeia entre dois treinadores portugueses e, mais do que isso, entre os homens que formam a equipa técnica da Seleção Nacional. Portugal já tinha alguma tradição nesta prova - com as vitórias de Sporting em 2009/10 (Paulo Faria era o técnico) e 2016/17 (Hugo Canela), e de ABC em 2015/16 (Carlos Resende), numa decisão com o Benfica treinado pelo espanhol Mariano Ortega -, mas esta foi a primeira vez dos insulares na final.
"Colocava também o Benfica na lista dos clubes com um percurso positivo nas competições europeias. Creio que quando os clubes abordaram esta época, o fizeram com um sentido de uma aposta muito clara. A participação em competições traz mais competitividade, visibilidade, audiência e presença nos pavilhões. Foi uma aposta que muito nos satisfez e que teve os resultados que referiu", reagiu Miguel Laranjeiro, presidente da Federação de Andebol de Portugal. "Temos hoje um conjunto de clubes com organização, competência e foco ao melhor nível do que se vê. Sou testemunha que, em toda a Europa, o nome de Portugal ganhou um enorme respeito e isso deveu-se muito à qualidade da participação dos clubes nas provas europeias", reconheceu o dirigente, terminando: "É muito importante a consistência dos projetos e a sua manutenção aos longo dos anos. Só assim se pode chegar longe."