Diogo Costa e Carolina João foram das revelações em Paris’2024 e já trabalham para LA’28, com ambição acrescida
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O portuense Diogo Costa tem 27 anos, foi campeão mundial em 420 e vice-campeão em 470 ao fazer equipa com o irmão Pedro, mas uma alteração dos regulamentos internacionais, que depois de Tóquio tornaram o barco misto, obrigou-o a mudar. Passou a fazer equipa com a lisboeta Carolina João e este ano foram segundos no Europeu e quintos nos Jogos de Paris, o melhor resultado da vela portuguesa desde Pequim’2008. Agora, pensam alto para Los Angeles’2028.
Regulamentos obrigaram os portuenses irmãos Costa a desfazer uma dupla vitoriosa, mas o 470 misto de Diogo pretende dar à vela lusa uma quinta medalha olímpica. Só lhe faltam mais alguns apoios.
O 470 com a Carolina nasceu por imposição de regulamentos internacionais?
-Sim. Depois de Tóquio sabia que tinha de parar com o meu irmão e começar com uma rapariga. Com a Carolina ou não, existia essa imposição. Foi uma questão de escolher e ela dizer que sim.
Como surgiu a ligação? Um de Lisboa e outro do Porto não era escolha óbvia...
-Na vela não há muitas raparigas, já nos conhecíamos há muito e sempre nos demos bem. E a Carolina tem uma estatura física muito boa para o 470. Ao mesmo tempo, ela queria algo diferente depois de ter ido a Tóquio. Como é super talentosa, sempre teve bons resultados e é muito lutadora, era uma ótima escolha. Também estava à procura de uma pessoa que já soubesse o que era a vida olímpica. É preciso passar muito tempo fora, abdicar dos amigos e da família. Com a Carolina foi fácil, ela já tinha ganho no laser, foi só fazer a adaptação.
Revelação: quinto lugar do 470 misto foi dos melhores resultados depois dos quatro pódios
Ganharam logo na primeira competição. Foi um impulso?
-O grande desafio no primeiro ano era a adaptação, depois conseguir apanhar os outros até o fim da campanha. Vencemos, mas era uma competição pequena, só com portugueses e polacos, em Vilamoura. Vínhamos de dois meses de treino e foi ótimo ter ganho. Mas já estava decidido que era esta a dupla. Começámos logo com o objetivo de ir até Paris, a única questão era estender até Los Angeles. Dependia de correr bem.
Sendo um do Porto e outro de Lisboa, como treinam?
-Treinamos muito fora. Por exemplo, agora vamos a Itália, depois a Vilamoura e a seguir Cascais. Treinamos muito em sítios que nem são a minha casa, nem a casa dela. Cascais é perto dela, mas também é o nosso clube. Treinar fora é necessário, para o fazermos com outros, de mais países e outra dupla portuguesa.
Foram sempre evoluindo os resultados, mas tirando o segundo lugar no Europeu ninguém vos dava como candidatos a medalhas olímpicas?
-Não. No princípio da campanha o objetivo era um top 5 num campeonato grande e top 10 nos Jogos Olímpicos. Depois, no segundo ano, já fizemos alguns resultados que nos colocariam entre os oito primeiros. Não falámos de medalhas, mas tivemos uma reunião em que decidimos ser o objetivo o top 5 nos Jogos. Queríamos também um pódio num dos campeonatos do ano, mas tivemos o azar de todos terem vento e não somos os melhores com muito vento. O Europeu era como o último teste. Deu-nos a confiança de que necessitávamos.
Nos Jogos houve um momento em que pensaram nas medalhas?
-Houve vários momentos. A primeira regata foi terrível, um erro enorme e ninguém quer começar os Jogos com uma desqualificação. Tira toda a margem de erro, porque podemos deitar fora uma regata e passou a ser a primeira. Depois fomos terceiros e a seguir 16.º e 14.º, o que foi terrível. Vimos as medalhas a escapar, mas depois dessa desilusão gigante voltámos a subir na classificação. No último dia fizemos segundo e oitavo e estávamos a quatro pontos do quarto, que estava a um ponto do terceiro. Então sim, estávamos próximos das medalhas. Mas não aconteceu.
Vão a Los Angeles a pensar no pódio?
-Exatamente. E por isso estamos à procura de mais patrocinadores, para termos uma boa preparação. Sentimos que ainda nos falta um bocadinho para as medalhas, que são o grande objetivo. Queremos começar já fortes e ir ao top 5 do mundo esta época, para desenvolver os últimos detalhes e chegar a Los Angeles com hipóteses.
Patrocínio da federação não chega: "Falta-nos um patrocínio para pagar uma peça nova"
Fazer carreira internacional é dispendioso, mas a federação paga os treinos no estrangeiro. “A federação, felizmente, dá uma liberdade que agradecemos muito. Fazemos o calendário, eles autorizam e pagam depois. Só não paga coisas pequenas”, explica Diogo Costa, que tem “patrocinadores, que dão uma ótima ajuda, mas nunca são suficientes”.
E dá um exemplo: “Queremos fazer o desenvolvimento de uma peça do barco, que é caro, e procuramos mais patrocinadores para o fazer. É tão caro que a federação não patrocina e o nosso dinheiro não é suficiente”. Os rivais, esses, já têm a peça. “Diria que todos os que andam para o diploma olímpico”, revela.
“Os portugueses são muito talentosos”
Diogo Costa, que agora tem o irmão Pedro num 49er, acha que a sua pode ser uma nova geração de ouro.
A vela nunca leva mais de três ou quatro barcos aos Jogos, fica perto do pódio, mas não o consegue desde 1996. Como se explica isto?
-Os portugueses são muito talentosos. A nossa vela teve uma geração de ouro, a que conseguiu a medalha em Atlanta e ainda foi a Sydney, Atenas e Pequim. Essa geração acabou em Londres e no Rio’2016 fez-se a transição para a nova. Entre Londres e Rio parou o crescimento, até surgir a atual geração - o Eduardo Marques será o mais velho e tem 30 anos -, que, acho, vai ter ótimos resultados. Por vezes falta massa crítica, mas somos ótimos se olharmos ao dinheiro que temos. Há equipas que gastam muito, mesmo muito dinheiro.
Um problema da vela é ser muito cara...
-Estou a começar a treinar miúdos de 15 anos e sai um bocadinho caro, é verdade. Quando se começa, e se faz vela por lazer, não será assim tão caro. Mas a alta competição é caríssima.
Treinar jovens já é uma profissão?
-Não. É um hobby, mas estou a fundo nisso. É na Associação de Vela do Norte e estou a gostar muito. Sempre disse que a geração de ouro quebrou radicalmente para a seguinte e sou apologista de não repetir essa quebra. Passar informação para miúdos, treinadores e federação é o caminho.