Doping" é a palavra que abala o ciclismo português desde que, em abril, a PJ levou ao terreno a operação "Prova Limpa". A Volta a Portugal ficou sem a W52-FC Porto, outras equipas temem pelo futuro.
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A 83.ª edição da Volta a Portugal inicia-se esta quinta-feira em Lisboa, pelas 15h21, com um prólogo de 5,4 km nas retas bem conhecidas da Avenida da Índia e a transmissão em direto na RTP, mas o colorido do pelotão e o ruído típico das bicicletas a alta velocidade dificilmente irão fazer esquecer o ambiente sombrio dos bastidores.
De fora ficaram a W52-FC Porto, equipa vencedora das últimas edições, suspensa pela União Ciclista Internacional por indicação da Autoridade Nacional Antidopagem (ADoP), e quatro outros corredores, Luís Mendonça (Glassdrive-Q8), João Benta e Francisco Campos (Efapel) e Daniel Freitas (RP-Boavista), todos afastados pelas suas equipas por terem sido revistados anteontem pela Polícia Judiciária, em busca de substâncias dopantes. Os dois primeiros foram dados como inocentes e afastados para preservar o bom nome da corrida.
A realidade é que o bom nome do ciclismo português vai para a estrada abalado como nunca. Não há memória de um início de corrida tão deprimente, com várias das equipas a temerem a saída de patrocinadores, pois na modalidade a mancha do doping alastra como o pior dos vírus e não distingue culpados de inocentes. Provavelmente esta será uma Volta imaculada, mas nos ouvidos do público ressoam ainda os termos "bolsas de sangue" ou "toneladas de produtos proibidos" que "fontes" da ADoP colocaram a circular nas últimas semanas, sem ter existido, até agora, uma acusação formal, nem sequer aos corredores banidos da W52-FC Porto.
O vencedor da Volta, a anunciar dia 15, após o contrarrelógio entre Porto e Gaia - se tudo correr bem até lá... -, vai ter de mostrar, além de boas pernas, uma capacidade de argumentação que supere a palavra maldita. E a corrida, com uma incursão a Espanha, um final em montanha novo (Miranda do Corvo) a somar aos da Torre e da Senhora da Graça, também precisa de entusiasmar para que se volte a falar... de ciclismo!
Favoritos
67 Mauricio Moreira
Glassdrive-Q8
Uruguaio
Mauricio Moreira teve um 2021 estrondoso (oito vitórias). Perdeu a Volta a Portugal por queda no contrarrelógio e é favorito por ser forte no crono e na montanha. Teve lesões em 2022, mas já ganhou o GP Anicolor.
61 Frederico Figueiredo
Glassdrive-Q8
S. Sebastião Pedreira
O melhor trepador do pelotão tem a chance de uma vida pela amarela, jogando na equipa que pode atacar com vários corredores. Figueiredo luta por outro pódio na Volta. Venceu três corridas este ano.
132 Delio Fernández
Atum General Tavira
Espanhol
Outrora pódio na Volta a Portugal, Delio Fernández andou no estrangeiro, mas tem a apetência natural para subir e a Volta a Portugal para liderar. O trepador joga na experiente equipa do Tavira.
131 Alejandro Marque
Atum General Tavira
Espanhol
Alejandro Marque ganhou a Volta em 2013, foi segundo em 2015 e terceiro... em 2021, aos 39 anos. Ganhou na Torre no ano passado e no crono final saltou de quinto a terceiro. Despede-se com qualidades intactas.
81 Joaquim Silva
Efapel
Português
A Efapel tem Tiago Antunes e Henrique Casimiro, dois trunfos para libertar Joaquim Silva da pressão. O vencedor do GP Jornal de Notícias 2021 tem um percurso com subidas mais a ritmo, que o favorecem.