João Benta: "Bastará lançar suspeitas para que os mesmos fiquem automaticamente arredados de competir"
João Benta (Efapel), ciclista que fazia parte da primeira lista de inscritos da Volta a Portugal, está fora da prova que tem o arranque marcado para esta quinta-feira
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João Benta criticou a organização da Volta a Portugal e a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) por "pretender colocar no mesmo grupo todos os alvos de buscas", depois de ter sido confirmado que está fora da 83.ª edição.
"No dia de ontem [quarta-feira], fui também alvo de buscas domiciliárias. Desconheço a motivação e muito menos compreendo o timing. Certo é que concluídas as buscas - com as quais colaborei integralmente, merecendo da parte dos inspetores da PJ igual correção - não fui constituído arguido. Nada foi encontrado na minha residência que pudesse estar relacionado com qualquer substância ou utensílio utilizado na prática dopante", detalhou o ciclista da Efapel, em comunicado publicado no Facebook.
Finalizadas as buscas, João Benta entendeu "o ato como integrado nas recentes notícias que afetaram a modalidade".
"Foi-me, aliás, dito aquando das buscas que se algo fosse encontrado seria de imediato constituído arguido e presente a juiz, de outro modo o assunto ficaria resolvido com o relatório da diligência. Relatório esse que, depois de lido, naturalmente assinei", prosseguiu.
Revelando-se "triste, desolado e revoltado, mas acima de tudo de consciência tranquila", o corredor disse ter sido "com surpresa" que tomou "nota das indicações da organização e FPC dirigida às equipas, que, de forma mais ou menos clara, pretendeu colocar no mesmo grupo todos os profissionais alvos de buscas, tenham eles sido ou não constituídos arguidos".
"Não reconheço justiça em tais medidas. Isto não é defender a modalidade, isto é dar uma machadada nos atletas cumpridores, nas equipas e nos patrocinadores", argumentou.
O corredor de Esposende, de 35 anos, considera que "a mera suspeita que alguém entendeu lançar" sobre o seu nome coloca "assim em causa o trabalho de toda uma época e faz, além do mais, pairar sombras" sobre o que será o seu futuro.
"Estou de consciência tranquila e certo de que tudo fiz para corresponder às expectativas dos que em mim confiaram e confiam, mas estou também invadido por um forte sentimento de injustiça, porque a consciência tranquila não faz esquecer o quanto trabalhei durante esta época para chegar ao nível desejado à prova rainha da temporada e ver ruir todo esse projeto", reforçou.
Para João Benta, "abre-se assim um precedente grave, fazendo crer que no futuro bastará lançar suspeitas sobre atletas para que os mesmos fiquem automaticamente arredados de competir, condicionando-se assim a verdade desportiva de uma prova".
"Agradeço por fim à minha equipa [a Efapel] por todo o apoio transmitido neste momento, compreendendo a difícil decisão que tomaram comigo tendo em vista protegermos este projeto desportivo e todos os que ao nosso lado se colocaram", concluiu.
Após o comunicado de João Benta, o diretor desportivo da Efapel disse à Lusa que a equipa tomou a decisão de não fazer alinhar o corredor para "que o foco se mantivesse na prova".
"O João não foi constituído arguido em nenhum processo", notou José Azevedo, indicando que o ciclista continua a fazer parte da Efapel.
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