"Os médicos afirmam que vivi um milagre, em casa tive pessoas a dar-me banho"
Ivo Oliveira teve uma queda em abril que lhe poderia ter acabado a carreira. O ciclista gaiense detalha a O JOGO o sorriso que cresceu à medida que o pesadelo foi terminando. Já aponta a 2020
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Ivo Oliveira foi contratado pela UAE Team Emirates à Hagens Berman Axeon no final de 2018 e entrou em 2019 com a ambição de mostrar o talento no World Tour. Mas, aos 23 anos, o destino pregou-lhe uma ratoeira. A O JOGO abre o coração e revela as novas perspetivas para 2020, depois de ter ficado com a vida em risco devido a uma queda grave.
2019 tinha tudo para ser de sonho, mas não foi...
-Não correspondeu às expectativas, claro. Fiquei doente em fevereiro, já depois de ter caído duas vezes na Austrália [no Tour Down Under, que concluiu, e na clássica Cadel Evans]. Estava a crescer de forma e apontava ao contrarrelógio da Volta à Romandia, em maio, mas a queda grave que sofri no final de abril estragou a época toda.
Qual foi a reação depois dessa queda perto de casa?
-Senti que não estava bem na zona do pescoço, apesar de me querer levantar logo. Percebi que tinha uma fratura [veio a confirmar-se uma lesão no côndilo occipital esquerdo, um osso na base do crânio], desconfiei de uma lesão na cervical.
"Tive pessoas a dar-me banho... Passamos a dar valor às pequenas coisas da vida"
Correu risco de vida?
-Nos primeiros dois meses não foi fácil mentalmente, pois faltava saber se seria operado. A fratura não estava a consolidar durante esse tempo. Sabia que, se fosse operado, tinha de deixar a profissão. Já não podia andar mais de bicicleta e havia a possibilidade de nunca mais andar. Em casa, foi duro: tive pessoas a dar-me banho, enfermeiros a cuidar de mim, a minha namorada [Martina Alzini, ciclista italiana da Bigla, que conhece desde a adolescência] também. Passamos a dar valor às pequenas coisas. Ao terceiro mês, já me disseram que não havia perigo de operação ou de ficar numa cadeira de rodas, porque existiu esse perigo. No quarto mês tirei o colar cervical e comecei a fisioterapia na Clínica do Dragão.
Lembra-se de como reagiu, quando soube que não era precisa a cirurgia?
-Foi dos melhores dias da minha vida. Porque era a minha vida que estava em risco e isso é, claro, mais importante do que o ciclismo. Sinceramente, passei a ver o ciclismo de outra forma.
"Deverei fazer fisioterapia o resto da vida. Mas estou bem e sonho com anos melhores"
Ficou com sequelas que se notem no futuro?
-Deverei fazer fisioterapia o resto da vida. Os médicos da UAE Emirates dizem que vivi um milagre e estou contente pela recuperação: ninguém esperava que fosse tão rápida [já competiu no final do ano e até se sagrou campeão nacional de omnium]. Espero estar a 100% e, neste momento, sinto-me bem. Dizem-me que posso sonhar com anos melhores do que já tive.