
Amara Antunes fala do regresso ao ciclismo português
Miguel Pereira/Global Imagens
Amaro Antunes volta a uma casa onde foi "muito feliz" depois de dois anos a correr no estrangeiro, um deles no World Tour.
Amaro Antunes vai regressar ao pelotão nacional. Depois do frio e da chuva das clássicas europeias terá de novo o calor nas estradas portuguesas, e com a camisola que lhe deu mais alegrias, a da W52-FC Porto. Em conversa com O JOGO, não se assume líder e elogia a evolução de João Rodrigues.
Regressar ao ciclismo português, após dois anos na polaca CCC, significa que a experiência não correu muito bem?
-Não o encaro nesse sentido, até porque tive a oportunidade de continuar na CCC e tomei a decisão de apostar num outro projeto. A decisão foi minha. Sou jovem, ambiciono vitórias e os meus objetivos pessoais passam pela W52-FC Porto. É assim que vejo este novo desafio.
Foi a segunda experiência fora de Portugal, depois da passagem pela Flaminia...
-Isso foi um projeto falhado; a meio do ano já tinha terminado. Não a considero sequer experiência. Esta foi, indiscutivelmente. Durante dois anos aprendi muito e estive um ano a correr no WorldTour. Estou mais maduro, com mais inteligência e mais calma nos momentos críticos de uma corrida. A passagem pela CCC foi bastante benéfica e acredito que conseguirei colocar em prática toda esta aprendizagem.
As diferenças entre o mundo do WorldTour e o ciclismo nacional são abismais?
-Onde notei maiores diferenças foi no clima. Acho que é o mais evidente e constituiu um handicap para mim. Oitenta por cento das corridas foram ao frio e à chuva, aumentando em muito as dificuldades de cada prova, enquanto nós, por cá, corremos quase sempre com sol e bom tempo. Podem contar-se pelos dedos as etapas em que apanhamos chuva. Um pelotão WorldTour é diferente, também no modo como se encara as corridas, sobretudo uma Grande Volta. Aqui não temos corridas de 21 dias. Mas, atenção, o ciclismo português continua a evoluir e o nível competitivo já é elevado.
"Sou um ciclista com responsabilidades, não fujo delas, mas dizer quem é o líder é algo que passa pelo diretor"
Era inevitável, neste regresso, que a escolha recaísse no FC Porto?
-É uma equipa onde fui muito feliz. Conheço bem o diretor e a forma de trabalhar e foi aqui que obtive os melhores resultados da minha carreira. Tudo isto contribuiu para a escolha, bem como o facto de fazer os treinos diários, no Algarve, com colegas da equipa [os também algarvios Samuel Caldeira, Ricardo Mestre e João Rodrigues].
Teve outros convites?
-Tive mais propostas, inclusive de equipas estrangeiras, que analisei e ponderei bem. Não tive dúvidas.
Conta ser o líder da W52-FC Porto?
-Isso são coisas da própria corrida, é ela que dita a tática. Sou um ciclista com responsabilidades, não fujo delas, mas dizer quem é o líder passa pelo diretor e pelo modo como as provas se desenrolam.
Como vê o crescimento do João Rodrigues?
-O João evoluiu muito nestes dois últimos anos. É bastante regular e tem imenso potencial. Foi um justo vencedor da Volta a Portugal e acho que vai dar continuidade ao que fez este ano.
"Uma aposta clara no penta para que tudo seja perfeito"
Ganhar a Volta a Portugal pelo quinto ano consecutivo é o maior dos objetivos do FC Porto. "A aposta no penta é total e foi o que nos transmitiu o senhor Quintanilha. A equipa habituou os adeptos a encarar todas as provas com determinação e espírito vencedor, e, para que tudo volte a ser perfeito, vamos tentar ganhar a Grandíssima", resume Amaro Antunes, que continua a contar com Alarcón. "O Raúl pode surpreender e melhor do que falar é ele chegar à estrada e mostrar que tem pernas e corpo para muito mais. É sempre um atleta que dá garantias".
Giro foi experiência para a vida
Amaro Antunes estreou-se numa Grande Volta ao correr o Giro, algo que rotula como inesquecível. Foi 54.º, mas fez terceiro numa etapa e andou uma semana nos dez primeiros.
Que balanço faz da participação no Giro?
-Foi melhor do que esperava, visto que mês e meio antes estive lesionado e só treinei duas semanas. Entrei expectante, mas depois andei nos dez primeiros e o corpo reagiu muito bem. Senti-me feliz e foi uma experiência enriquecedora. Para toda a vida.
E agora, que objetivos tem?
-Tenho algo a que me propus, mas não quero revelar. É algo pessoal. Ganhar a Grandíssima? É importante, mas na equipa, na forma como está desenhada, qualquer um pode vencê-la.
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"Este escalão até faz mais sentido"
Amaro Antunes não duvida: o projeto da W52-FC Porto continua a ser meio caminho andado para o sucesso.
A descida da equipa a nível continental é um revés?
-O calendário é similar, inclusive em corridas no estrangeiro, e, no meu entender, este escalão até faz mais sentido. No Pro Continental os custos são elevadíssimos e voltaram a aumentar.
Mas não é um passo atrás?
-Acho que não. É a opção certa. Depois desta experiência, a equipa estará mais forte se voltar ao escalão acima.
Encontrou muitas diferenças na equipa?
-É um projeto parecido. A qualidade, o potencial e o ambiente continuam fantásticos. Isso é meio caminho andado para o sucesso.
