"O sonho do menino de 14 anos, que era jogar no Barcelona, é o que vivo agora: jogar no FC Porto"
ENTREVISTA - Rui Silva talvez tenha aparecido cedo demais. Aos 14 anos O JOGO foi falar com ele, tinha em Resende o ídolo e sonhava com o Barça. Hoje tem 28 anos e está feliz no Dragão
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Na pausa do campeonato, uma vez que está para chegar mais um período das seleções, Rui Silva conversou com O JOGO.
Lembro-me de o entrevistar, tinha o Rui 14 anos, e ter-me dito que o seu sonho era jogar no Barcelona. Está a cumprir a sétima temporada ao serviço do FC Porto. O que o clube lhe dá e o nível que alcançou, permite-lhe que o sonho seja estar no FC Porto?
-É mais do que suficiente. Ao longo da vida vamos percebendo que o andebol é importante, mas existem outras questões que, se as conseguirmos envolver, também se tornam importantes. O FC Porto proporciona-me uma vida familiar estável, estar perto dos meus amigos e, ao mesmo tempo, o sucesso dentro daquilo que eu gosto de fazer. Isto tudo junto faz com que o sonho do menino de 14 anos, que era jogar no Barcelona, seja isto que vivo agora: jogar no FC Porto. E não tenciono mudar.
Os últimos seis troféus que se disputaram a nível nacional foram ganhos pelo FC Porto. Acredita que essa tendência pode manter-se?
-É um desejo nosso, é a vontade que temos e todos vimos a trabalhar para isso, mas também temos noção de que os adversários cada vez mais querem bater o FC Porto, procuram investir mais e reforçar-se de forma a estar ao nosso nível e que, seja no desporto seja na vida, não há invencíveis. Algum dia iremos perder, mas se pudermos adiar isso e manter isto mais anos, assim o faremos e muito felizes.
Esta temporada conta também com um FC Porto preparado para o conseguir?
-Sim, claramente. É o FC Porto dos últimos três anos e com aquilo que nos tem caracterizado, que é uma vontade de ganhar que nunca mais acaba.
O jogo frente ao Sporting não foi fácil e a vitória por um golo até poderá vir a revelar-se curta...
-Já sabíamos que ia ser difícil, o Sporting tem vindo a crescer e a fazer bons jogos. A nossa intenção era a de ganhar por mais, mas, desde o início, a verdadeira ideia é ganhar em casa e na visita ao Sporting.
O elevar do nível do FC Porto, que se nota mais na Europa, tem a ver com o quê? O treinador?
-Muitos fatores influenciaram. É óbvio que o Magnus tem um papel muito importante, mas a sorte também. E a sorte que tivemos com o Magdeburgo fez com esse jogo seja um ponto de viragem...
Não foi bem sorte. O FC Porto ganhou por 34-27 e chegou a estar a vencer por 12 (28-16), algo impensável naquela altura.
-Sim, de acordo. Mas, lá está, é como diz, o normal seria isso não acontecer. E para termos um dia assim é óbvio que a qualidade está lá, mas também precisamos da sorte. Depois, com o Magnus a comandar e o FC Porto a profissionalizar cada vez mais o andebol tudo ficou mais facilitado. A seguir foi ir crescendo. Nós, jovens, com a ajuda dos cubanos que agora são portugueses. A seguir foi o facto de ter aparecido o Miguel [Martins], o André [Gomes], estar agora a aparecer o Leonel e o Tito, tudo isso faz com que consigamos, com várias gerações, consolidar a equipa e mostrar toda a nossa qualidade.
"Clube é capaz de olhar para o lado humano e isso noutros não acontece"
"O FC Porto esteve nas fases mais complicadas da minha vida, mas também nas mais felizes e o facto de estar aqui há tantos anos e ter vivenciado isso faz com que eu tenha um carinho enorme pelo FC Porto, mas, acima de tudo, pelas pessoas que, diariamente, lidam ou lidaram comigo", explana Rui Silva.
"Pessoas que me ajudaram a superar problemas, a que eu festejasse ainda mais o que conquistava e crescesse como pessoa. À volta do andebol, e do clube todo, há uma estrutura fortíssima, que rema toda para o mesmo lado. Mesmo quando as coisas não estão tão bem a nível pessoal, o clube é capaz de olhar para o lado humano, o que, muitas vezes, noutros clubes não acontece", conclui.