Presidente da federação, Miguel Laranjeiro, conversou com O JOGO sobre o setor, que vai ter a Seleção Nacional A no Europeu da Suíça no final do mês
Corpo do artigo
A única vez que a Seleção Nacional feminina foi a um Europeu ocorreu em 2008, na Macedónia. A partir do dia 28, na Suíça, Portugal estreia-se frente à Espanha e joga depois com Polónia e França na primeira fase de grupos.
É a primeira vez em muitos anos que Portugal vai a um Europeu feminino. A que se deve esta evolução?
-Há 16 anos que não íamos a uma competição internacional sénior feminina. Parece impossível, mas corresponde à realidade. É o culminar de um trabalho de anos, com objetivos traçados, confiança nos técnicos e atletas e muita resiliência.
Era um objetivo?
Era e estava traçado no documento “Rumo 2028”. Queríamos colocar as Seleções Nacionais nas competições internacionais. Sabíamos que era mais fácil atingir nos masculinos, mas apostamos sempre no feminino. Temos confiança na equipa técnica liderada pelo professor José António Silva e no profissionalismo das atletas, e temos resiliência suficiente para não sucumbirmos ao primeiro desaire. Mas este é um resultado que envolve muitas atletas e técnicos dos clubes, e um trabalho desenvolvido nos centros de treino regionais, que promovem a deteção das melhores. Há um pirâmide de trabalho que está a resultar.
Qual o ponto da situação no feminino?
Temos boas notícias. Na última década tivemos um aumento de 34% do número de atletas e de 20% nos clubes. Também ao nível das treinadoras tivemos um incremento de 63% na última década, o que é muito relevante. É um percurso que nunca tive dúvidas que seria concretizado. O potencial do crescimento no feminino era muito grande e está a confirmar-se.
Está satisfeito?
Quem está no desporto nunca está satisfeito. Posso garantir que o foco da federação é criar condições para o crescimento do feminino, quer em número de praticantes quer na performance. A ida ao Europeu dará uma visibilidade muito importante. Espero que todos consigamos aproveitar. A presença nas competições europeias de clubes está também a ter uma evolução positiva, muito importante para todo o percurso do andebol feminino.
Como foi pensado este projeto?
Os projetos só podem ser pensados a médio/longo prazo. Quem quiser resultados imediatos no desporto está muito enganado. Não existem. Quisemos escolher as pessoas certas para este momento, dar as condições possíveis dentro da nossa realidade e garantir confiança e tempo. Funcionou no masculino e está a funcionar no feminino. A articulação entre clubes, direção técnica nacional e treinadores dos vários escalões tem sido uma das chaves deste caminho.
Há hoje mais atletas com capacidade de ir à Seleção?
Ao aumentarmos a base de recrutamento, certamente teremos mais atletas com essa capacidade. A internacionalização de várias jogadoras também tem introduzido um fator positivo na Seleção.
“Não podemos ser vítimas do sucesso”
Que desafios se colocam ao andebol feminino em Portugal?
Infelizmente, em Portugal as condições ainda não são iguais entre masculinos e femininos. Mas estamos a fazer esse caminho e isso é o mais importante. Temos de continuar a crescer no número de atletas e aumentar o seu nível de profissionalismo, sendo que é uma questão que está dependente dos clubes, que também têm dificuldades e enormes desafios.
A federação está preparada para os custos de ir ao Europeu?
É um enorme esforço financeiro que a FAP faz para o período de estágios e para participar no Europeu, que decorrerá na Suíça. As federações vivem com dificuldades crescentes - os custos de viagens, estadias e alimentação, tiveram um incremento na ordem dos 20%. Os responsáveis políticos sabem, e espero, sinceramente, que possa haver uma leitura desta realidade. Não podemos ser vítimas do sucesso, de um sucesso internacional que é feito em nome do país. O sucesso deve ser premiado, caso contrário não vale a pena, e será uma imagem errada que é dada.