A cumprir a sexta temporada na Luz, Marcel Matz não podia sentir-se mais realizado, como contou a O JOGO. Perfeitamente identificado com o clube, o brasileiro deseja que a ligação se estenda
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Natural de Três de Maio, estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, Marcel Matz chegou a Portugal em 2018, sendo sob a sua alçada que o Benfica tem dominado o panorama nacional, com 12 troféus conquistados. Porém, o técnico de 43 anos não se acomoda com o sucesso, lembrando constantemente a responsabilidade de ser pai de três filhos: Theo com 11 anos, Marina com oito e Júlia com seis. De resto, os laços fortes com a família ficaram bem percetíveis ao longo da entrevista ao nosso jornal.
Ao fim de mais de 200 vitórias, quatro campeonatos, cinco Supertaças e três Taças de Portugal, como se mantém desafiado?
-Não tenho muita margem para pensar no que passou. Tenho muita pressão comigo mesmo, porque sei das responsabilidades que tenho em casa como pai. Tenho uma família para criar. O passado foi uma história legal aqui em Portugal, mas sei que as coisas podem começar a dar errado. Esta profissão não é para ficar sonhando muito, tem de ser bem real e isso faz-me trabalhar sério todos os dias. Além disso, o grupo de trabalho da equipa técnica é muito competente e pressiona-me num bom sentido. Outro fator é gostar de ver a modalidade a crescer entre os mais novos de ano para ano.
Em 2018, quando recebeu o convite, já conhecia o Benfica?
-Já conhecia o voleibol português, porque dois conterrâneos meus tinham jogado aqui. Queria estar perto da família, a minha filha Júlia estava quase para nascer e, em Portugal, isso era possível. Fiquei muito feliz com o convite. É um clube centenário, muito grande, uma referência na Europa, principalmente no futebol, mas com muita tradição nas modalidades. Aqui as coisas são feitas com alto nível, temos uma estrutura fantástica para trabalhar.
Como foi recebida a mudança para Portugal?
-Eu e a minha esposa já estamos juntos há 20 anos e ela acompanha-me para fazermos essa trajetória familiar. Em 1997, saí de casa para estudar numa nova cidade e nunca mais voltei, os meus pais já me conhecem e já sabem que a vida é assim, que sou um cidadão do mundo. Eles ficaram satisfeitos. Uma Ásia é mais difícil, por exemplo. Portugal tem grandes ligações com o Brasil, é mais perto até para fazer uma viagem para qualquer lugar da Europa, acaba por ser uma porta de entrada. A minha cunhada e o meu cunhado moram em Madrid. Já tenho mais família perto. A minha mãe já veio cá, o meu pai não, porque tem medo de andar de avião. Já não faço muitos convites para ele não ficar pressionado e chateado de não poder vir.
Planeia ficar por muito tempo?
-A minha família não quer voltar para o Brasil. Se eu me mexer para algum lugar, eles querem ficar em Portugal. Eu estou feliz aqui e não tenho vontade de sair. Tenho contrato por mais um tempo ainda, vou tentar fazer o melhor. Se for para renovar, é possível que eu diga sim. Eu e a minha família gostamos daqui e queremos estar juntos.
A época está a correr dentro do esperado?
-Em termos de resultados, sim, mas estamos a passar por um momento de lesões e, logicamente, não fico satisfeito. Já vem sendo uma sequência, um jogador aqui, um jogador ali... Agora é o Bernardo [Westermann], que é uma lesão mais séria. Nisso fico bem chateado, porque não quero que ninguém se machuque. Trabalhamos no limite, mas com uma margem para deixar toda a gente saudável, em condições para jogar.
“Ligação entre os treinadores é super boa”
Dos treinadores das equipas masculinas de pavilhão na Luz, Marcel Matz já é o mais antigo, falando de “uma ligação super boa” com os colegas. “Estou com menos tempo para ver os jogos dos outros agora, há dois anos era mais tranquilo. Agora, o meu filho faz minivolei três vezes por semana à noite, quebrou a liberdade que tinha para vir aqui. Não tem sala coletiva para tomar café, mas cruzamo-nos nos corredores, conversamos e temos o grupo no Whatsapp”, relata, contando ainda que fica “apreensivo quando o Benfica tem jogos importantes em qualquer modalidade”.