Magnus Andersson, as diferenças para os rivais e as saídas do FC Porto: "É a vida"
<strong>ENTREVISTA, PARTE I - </strong>Treinador sueco da equipa de andebol do FC Porto há três épocas, Magnus ganhou tudo a nível interno e diz que isso se justifica com o facto de os "jogadores formarem uma equipa fantástica"
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Foi em conversa telefónica, sentado no jardim de casa, em Halmstad, no sul da Suécia, entre Gotemburgo e Malmo, que Magnus Andersson se disponibilizou para conversar com O JOGO.
"O que queremos é voltar a ganhar tudo. Ter qualidade de jogo para ganhar tudo. Não acredito na falta de motivação"
Ouviam-se os pássaros a chilrear, o que para o técnico escandinavo do andebol do FC Porto, que adora animais, é perfeito. "Estou no meu jardim e está um excelente dia. É bom estar de férias, descansar, estar com os amigos, depois do Corona, do Alfredo [Quintana], de tudo o que aconteceu. Estou a recuperar energias para voltar ao FC Porto", disse-nos antes de começar a conversa.
Depois de um campeonato 100% vitorioso, ganhar a Taça de Portugal, ser o detentor da Supertaça, onde arranjará motivação na próxima época para as provas internas?
-A nossa motivação é sempre ganhar os jogos e os títulos. Ganhar todos os jogos talvez não seja realista, este ano foi um pouco especial. Ganhámos todos os jogos e isso, para nós, foi mais uma pequena motivação. Foi bom o FC Porto também dar isso ao Alfredo [Quintana]. Mas o que queremos é voltar a ganhar tudo no FC Porto. Ter qualidade de jogo para ganhar tudo. Não acredito na falta de motivação. A motivação é sempre ganhar. Nós amamos ganhar e é sempre esse o nosso foco.
Já alguma vez tinha sido campeão só com vitórias?
-Não. Nunca. Esta foi a primeira vez que me aconteceu, quer como jogador, quer como treinador.
Em agosto terá já uma Supertaça a disputar com o Benfica...
-Eu não sei se será uma final-four ou um só jogo... Ouvi qualquer coisa sobre ser uma final-four, mas não estou seguro disso. Mas se for com o Benfica será para ganhar, embora com todo o respeito pelo adversário. O Benfica também tem uma excelente equipa, é um grande clube e, se não jogarmos bem, podemos perder. Mas iremos jogar, com respeito pelo adversário, para conquistar mais um troféu.
Se para o ano for campeão, mas perder um jogo, será uma desilusão para si?
-Não, não! O mais importante é ganhar o campeonato. Nós sabemos que temos chances de o conseguir, sabemos que somos uma das três equipas com chances, será o Benfica, o Sporting e nós. Mas o importante é ter muito respeito por todos e a noção de que podemos ter uma semana má, um jogo mau, que essas coisas acontecem. Voltar a ganhar os jogos todos do campeonato creio que não é realista. Desiludido posso ficar se a outra equipa jogar melhor do que nós. Isso sim, deixar-me-á desapontado e levar-me-á a trabalhar mais e melhor para evitar que volte a acontecer.
Quais são as grandes diferenças do FC Porto para as outras equipas, em especial para os rivais, Benfica e Sporting? É que desde que o Magnus chegou, o FC Porto ganhou tudo: dois campeonatos, duas Taças de Portugal e uma Supertaça...
-Quase três campeonatos, quase três... (ri-se, referindo-se ao campeonato de 2019/20, que a Federação, por via da covid, não atribuiu). A primeira razão é termos bons jogadores, muito talentosos. Depois começamos a jogar andebol internacional, com bons resultados na Taça EHF, e eles começaram a ficar confiantes. Os jogadores começaram a jogar e a ganhar a adversários que só viam na televisão e isso deu-lhes muita confiança. Mas a chave de tudo é os jogadores formarem uma equipa fantástica. Eles serão cada vez melhores à medida que o tempo for passando.
Já se sabe que o Miguel Martins, o André Gomes, o Manuel Spath e o Marton Székely deixam o FC Porto. Sabe-se também que entram o Diogo Oliveira e o Sebastian Frandsen. Como será a nova versão do FC Porto?
-Os jogadores que saem são excelentes, mas isto é a vida, jogadores que vêm e outros que vão. O guarda-redes é dinamarquês, conheço-o muito bem, desde os tempos em que estive na Dinamarca, mas tenho-o seguido sempre. É alto e joga a um nível bastante elevado. É fantástico termos dois excelentes guarda-redes na próxima época, o Frandsen e o Niko [Nikola Mitrevski]. Para ganhar jogos de andebol é decisivo ter grandes guarda-redes e nós vamos ter. O Diogo Oliveira é também um excelente jogador, conhece bem o andebol português e acredito que irá crescer, evoluir muito aqui. Não teremos os mesmos jogadores e provavelmente jogaremos de forma algo diferente. Mas, honestamente, espero não jogar assim tão diferente.
Desde que chegou, o Magnus, para além de ter ganho tudo o que disputou internamente, não pára de bater recordes: a chegada à final-four da Taça EHF, a ida aos oitavos de final da Liga dos Campeões, fez duas "dobradinhas" quando o clube nunca o tinha conseguido, foi campeão só com vitórias, a equipa marcou mais de 1000 golos...
Que importância dá a estas marcas?
-Fico muito orgulhoso da minha equipa, é uma equipa fantástica. Mas não penso muito nos recordes. O que me importa é ter novas chances de continuar a ganhar coisas. Tenho muito orgulho nesta equipa, mas tenho o foco mais no que podemos fazer a seguir. Quero continuar a vencer, é aí que está o meu pensamento. Manter este caminho de vitórias. As marcas podem ser interessantes, mas o que importa é o que está para vir.
Tem noção de que já faz parte da história do FC Porto?
-Não. Não penso nisso. Mas claro que quando me dizem isso, eu penso e fico orgulhoso, mas não muito mais do que isso. Creio que toda a gente está orgulhosa do que esta equipa de andebol tem feito. É um orgulho enorme fazer parte deste grande clube.
No que diz respeito à Liga dos Campeões, acredita que este FC Porto 2021/22 pode chegar aos quartos de final?
-Claro que sim, mas sabemos que é sempre bastante difícil. É preciso jogar mesmo muito bem para se alcançar essa fase da Champions. Sei que temos chances, mas a linha entre perder e ganhar nesta prova é muito curta. Às vezes são pequenas coisas que nos fazem ganhar, mas também essas mesmas pequenas coisas fazem-nos perder. Comete-se um erro e pode perder-se. Tenho de ser realista e a verdade é que ficamos nos oitavos de final. São muitas coisas que podem acontecer. É uma nova equipa, são novas oportunidades e vamos lutar por elas. Teremos de jogar verdadeiramente bem para conseguir dar esse passo até aos quartos de final.
Creio que tem contrato até 2022/23. Até essa altura tem algum sonho europeu para o andebol do FC Porto?
-Todos precisamos de um sonho. Sonho estar na final-four da Champions com o FC Porto. Eu já lá estive, com o Copenhaga [2011/12], numa equipa em que tinha o Mikkel Hansen [tido como o melhor jogador do mundo] e perdemos a meia final com o Atlético de Madrid. Mas eu, como toda a gente, preciso ter sonhos. Não acredito que para já seja realista o FC Porto chegar à final-four, há equipas muito boas, com orçamentos muito maiores, mas o sonho é estar lá com o FC Porto.
Ia perguntar-lhe exatamente isso, se é possível o FC Porto chegar à final-four da Liga dos Campeões...
-Se perguntar a qualquer jogador da minha equipa todos vão responder o mesmo, que sim. E, na verdade, não temos estado longe. Chegar à final-four da Champions é um sonho de todos, mas também somos realistas. Por outro lado já vencemos o Kielce, o Magdeburgo, o Kiel e outras grandes equipas. As chances estão lá e o sonho também.
Este ano, 2020/21, o FC Porto foi afastado dos quartos de final por ter marcado menos golos fora. Ganhou em casa por três (32-29) e perdeu fora por três (27-24). Que sensação lhe deixou essa eliminação com uma equipa que chegou à final?
-Ficamos muito desapontados... É muito melhor perder por dez e perceber que não tivemos hipótese nenhuma. Desta forma é terrível, são os tais detalhes e falhamos alguns. Mas, se olharmos aos dois jogos, fizemos coisas incríveis, embora saibamos que podemos fazer ainda um pouco melhor. Às vezes o desporto é tão brutal quando se perde, a sensação de desilusão é tão forte... Se fosse com o Aalborg, o treinador deles certamente diria a mesma coisa. São detalhes, nada mais. Quem é eliminado, ou passa, um apuramento desta forma, consegue-o verdadeiramente nos detalhes.