"É impossível falar de FC Porto e de andebol sem falar no Alfredo Quintana"
Se a época do andebol do FC Porto foi altamente positiva, por outro lado ficou marcada pela trágica morte de Alfredo Quintana, o primeiro cubano a chegar ao andebol português, em março de 2011
Corpo do artigo
O desaparecimento do guardião luso-cubano Alfredo Quintana, a 26 de fevereiro, vítima de paragem cardiorrespiratória, abalou imenso o plantel azul e branco. Iturriza, grande amigo do guarda-redes, recordou-o com emoção.
Onde arranjaram forças para superar a tremenda adversidade deste ano?
-Foi difícil (pausa). Foi com o tempo. Eu posso falar por mim e, quando tivemos aquele primeiro jogo, com o Elverum, para a Champions, fui com o pensamento de que tinha de o fazer porque ele esteve aqui a jogar andebol e a querer levar a equipa para a frente (pausa). Foi muito difícil estar nesse jogo sem ele, ainda é muito difícil jogar sem ele.
Como contornaram essas dificuldades?
-Tivemos que pensar num objetivo e esquecer o resto. Foi isso que eu fiz, foi isso que a equipa fez: o objetivo este ano era dedicar tudo à memória do Alfredo, à pessoa que ele é. É impossível falar de FC Porto e de andebol sem falar no Alfredo. Ele faz parte deste ano, destas conquistas e vai fazer sempre. Nós temo-lo sempre bem presente em cada jogo e em cada vitória. Aprendemos a transformar a dor em força. Naquele momento era preciso focarmo-nos nele para conseguirmos o que queríamos.
Após a Taça de Portugal disse que se sentia arrasado. Como foi aguentar um ano atípico, com essa dor terrível, mas também com muita competição, entre clube e a Seleção Nacional?
-Não é fácil, não foi nada fácil. A preparação que tivemos ao longo do ano foi muito bem elaborada, porque é preciso saber quando podemos fazer um pouco mais de carga, para não baixar tanto o nível, é preciso saber quando é preciso fazer recuperação, é preciso conhecer o corpo, perceber quando precisa de descanso ou de ginásio. No final da Taça de Portugal havia uma mistura de cansaço físico e mental. Já estávamos muito perto do limite, ou mesmo no limite. Foi uma época mesmo muito dura. No FC Porto foi campeonato, Taça de Portugal e Champions e depois levamos o núcleo da equipa para a seleção. Foi duríssimo.
"Não me sentia capaz de ajudar, mas fui..."
Iturriza revela nesta entrevista a O JOGO que, devido à morte de Quintana, pensou não ir à qualificação olímpica, jogada em março, em Montpellier. "O Alfredo era muito recente e não me sentia capaz de ajudar a equipa. Falei com os meus colegas, falei em casa e percebi que a melhor maneira de o honrar era fazer o que ele amava. Tinha de ir. Se hoje estou na Seleção, muito devo ao Quintana, foi ele que me puxou para o processo de chegar à seleção", diz o pivô, contendo a emoção.
"Eu, como atleta, quando estava em Cuba, nunca imaginei ir a uns Jogos Olímpicos. Aqui em Portugal também é o sonho de muitos jogadores, mas antigamente não era alcançável. Nós conseguimos, foi muito lindo. Os Jogos Olímpicos são o sonho de qualquer atleta em qualquer modalidade e resta-nos vir de lá com uma medalha", atira.
Pelo menos uma semana fora do andebol
"É verdade, nunca precisei tanto de férias como este ano", reconhece Victor Iturriza, que até para se levantar da cadeira onde se sentou para conversar com O JOGO teve de fazer algum esforço. "Já há algum tempo que estávamos a precisar, e bastante. Há que colocar a mente fora do mundo do andebol pelo menos uma semana, é preciso pensar na família, nos filhos e esquecer o andebol por uns dias", diz o pivô do FC Porto, que em julho terá Jogos Olímpicos e já imagina que "para o ano vai ser de novo durinho".