Khelif derrotou a húngara Anna Luca Hamori por pontos, numa decisão por unanimidade, e agora, na terça-feira, vai discutir com Janjaem Suwannapheng o acesso à final
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A pugilista argelina Imane Khelif, que tem sido alvo de forte escrutínio quanto ao seu género, garantiu já uma medalha nos Jogos Paris'2024, ao apurar-se para as meias-finais da categoria de -66 kg, numa modalidade que atribui dois bronzes.
Khelif derrotou a húngara Anna Luca Hamori por pontos, numa decisão por unanimidade, e agora, na terça-feira, vai discutir com Janjaem Suwannapheng o acesso à final, depois da tailandesa, vice-campeã mundial, ter afastado a campeã olímpica, a turca Busenaz Surmeneli.
No final do combate, a pugilista argelina não conteve a emoção, ficando em lágrimas, com o seu treinador, Mohammed Chaaoua a sair em sua defesa: “É muito difícil para uma jovem muçulmana e árabe. O seu orgulho foi ferido e é muito difícil para nós, para a Imane, para a sua família e para todas as mulheres argelinas e todos os argelinos. O COI está a fazer o seu trabalho”.
Um discurso à rádio RMC Sport que contou com o apoio de Khireddine Barbari, chefe daquela delegação de boxe: “Imane é a nossa campeã e uma questão de Estado. Ela está aqui para ganhar a medalha olímpica. Estamos todos a apoiá-la. Conhecemos bem as pessoas que estão por detrás desta polémica, mas isso deu ainda mais motivação à nossa campeã. Um, dois, três, viva a Argélia!”.
Khelif, que atingiu os quartos de final em Tóquio’2020, bem como a taiwanesa Lin Yu-ting (-57 kg), para já nos “quartos”, após ter sido afastada na primeira ronda há três anos no Japão, estão no centro de acesa controvérsia sobre o seu género no torneio olímpico de boxe.
O Comité Olímpico Internacional (COI) tem defendido a sua participação, ante um coro de vozes que entendem que não deveriam estar a competir entre mulheres.
Esta situação tem sido mesmo das mais polémicas de Paris’2024, com os debates nas redes sociais, nos quais até já participam, entre outros, o antigo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a escritora J.K. Rowling, ou a Primeira-Ministra italiana Geórgia Meloni.
“Vamos ser muito claros aqui: estamos a falar sobre boxe feminino. Temos duas pugilistas que nasceram mulheres, que foram criadas como mulheres, que têm passaporte de mulher e que competem há muitos anos como mulheres. E esta é a definição clara de mulher. Nunca houve qualquer dúvida sobre elas serem mulheres”, defendeu o presidente do COI, Thomas Bach.
Khelif e Lin enfrentaram escrutínio internacional depois de terem sido banidas do Mundial de 2023 pela Associação Internacional de Boxe, entidade reguladora excluída do olimpismo pelo COI, e na qual competiram desde sempre, e que nunca apresentou dados concretos para justificar a sua nova decisão, alicerçada em supostos níveis elevados de testosterona.
“Alguns querem possuir a definição de quem é mulher. Só posso convidá-los a apresentar uma nova com base científica sobre quem é mulher, e como pode alguém que nasceu, cresceu, competiu e tem passaporte como mulher não pode ser considerado mulher?”, reforçou o presidente do COI.
Thomas Bach assegura que o COI está “pronto para ouvir” e disponível para “investigar” sobre o tema, contudo garante que o organismo “não vai participar numa guerra cultural por vezes motivada politicamente”.
Independentemente de todo o escrutínio e polémicas, na arena de Paris Norte, tanto Khelif quanto Lin, que agora vai defrontar a búlgara Svetlana Staneva rumo às meias-finais, só têm recebido aplausos pelos seus desempenhos.
“O que está a acontecer neste contexto nas redes sociais, com todo este discurso de ódio, com toda esta agressão e abuso, e alimentado por esta agenda, é totalmente inaceitável”, completou Thomas Bach.