Jorge Braz: "Às vezes dou por mim a dar-lhes nas orelhas e nem mereciam muito..."
ENTREVISTA, PARTE II - Mesmo constatando que os jogadores lhe facilitam o trabalho, Jorge Braz pede-lhes sempre mais
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Jorge Braz defende que o plantel tem de dar sempre o melhor para conseguir atingir os objetivos e, por isso, chegou a negar uma folga ao grupo. Compromisso dos jogadores
é elogiado.
“Um atleta de alta competição faz sacrifícios enormes. Quem os lidera tem de fazer muitos mais”
Em que aspetos é mais exigente?
-Em todos. Nesta fase há muito a preocupação de como é que equilibramos a forma desportiva entre eles, como é que tática e estrategicamente vão adquirindo os conhecimentos ou relembrando-os. Essa é a parte mais difícil, a quantidade de informação, o foco e a intensidade que colocam no treino, com um estado emocional extremamente positivo e resiliente. Como é que se liga tudo isto para que nada falhe... todos os dias durante cinco semanas não é fácil. Para mim, isto de tem de acontecer todos os dias. Um atleta de alta competição faz sacrifícios enormes. Quem os lidera tem de fazer muito mais. Não pode facilitar na preparação, não pode facilitar na exigência, mas aqui tem sido muito fácil graças ao compromisso dos jogadores.
Tem dado muitas reprimendas aos jogadores?
-[Risos] Às vezes. Como alguém me ensinou, decisões difíceis tornam a vida fácil. Se formos exigentes no trabalho diário, na forma como nos vamos preparando, a competição vai ser mais fácil.
“Decisões difíceis tornam a vida fácil. Se formos exigentes no trabalho diário, a competição vai ser mais fácil”
Como é que consegue fazer com que não haja deslumbramentos?
-Eles ajudam muito. Temos de lhes colocar tarefas que estão sempre no limite do que eles conseguem. Um dia colocámos-lhes uma série de tarefas em que tinha a equipa técnica a dizer “já rebentaram, é melhor parar”. Não, eles têm de andar no limite dos limites. Para sermos melhores do que os outros temos de trabalhar mais do que eles, estar um passo à frente. Eles têm de olhar para o que vem a seguir, e o que vem a seguir é o campeonato do Mundo. Só acrescentam todos os dias se andarem sempre no limite. Uma vez, toda a gente queria folga de manhã; eu disse que não. Disse: “Faz-se mais devagar, mas temos de andar mais um bocado.” E a resposta, mais uma vez, foi brutal, porque foram os primeiros a perceber que sabem para onde vão. Hoje em dia é muito fácil definir objetivos. Mas cuidado com o que se define. Para se ser campeão do Mundo, tem de se ser melhor do que o mundo inteiro. Não há dias de “hoje não me apetece”. Estes jogadores têm um sentido de compromisso total. Às vezes dou por mim a dar-lhes nas orelhas e nem mereciam muito. Mas é para ver se o limite sobe mais um bocadinho”.