Ingleses na final do Mundial de râguebi com "ajuda" portuguesa

Foi dos gabinetes da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), e pela mão do professor Vítor Frade, que saiu a periodização tática, há quase quatro décadas.

Trata-se de uma metodologia de treino que José Mourinho tornou famosa - foi considerada o seu maior segredo - e que amanhã pode originar mais um enorme e totalmente inesperado êxito. Foi esse o modelo que Eddie Jones, australiano de 60 anos que orienta a equipa de Inglaterra, descobriu e utilizou para revolucionar o jogo de uma equipa que já surpreendeu a Nova Zelândia e que amanhã alinhará na final do Mundial como favorita. As casas de apostas colocam os ingleses à frente da África do Sul, com 54% de favoritismo.

"O râguebi e o futebol são muito semelhantes, pois trata-se de mover a bola e ocupar os espaços. Todos os dias treinamos um parâmetro específico do jogo. Não há treino físico extra, é tudo feito nessas sessões", contou Eddie Jones ao jornal "The Guardian", enunciando os princípios da teoria de Vítor Frade, que preconiza exercícios com bola para desenvolver em conjunto a técnica, o físico, a tática e a mentalidade. "Medimos o tempo que eles demoravam a levantar-se do chão; alguns pareciam ter tomado um chã e comido um biscoito com compota antes de se erguerem. Era terrível."

A Inglaterra atual é bem diferente desse exemplo. O treinador que já levou a Austrália à final de 2003, foi assistente na equipa técnica da África do Sul que venceu o Mundial de 2007 - e aí teve como colega Rassie Erasmus, atual técnico principal dos springboks - e orientou o Japão em 2015, surpreendendo a África do Sul, somou todas essas experiências e acrescentou-lhes o sistema de treino criado em Portugal para obter uma equipa imprevisível e fisicamente temível. Os ingleses são sempre mais fortes nos últimos 20 minutos.

"Já tinha lido muito quando cheguei à Aspire. Foi aí que um espanhol, o Alberto Mendez-Villanueva, me ajudou a entender a periodização tática", contou Eddie Jones, que conheceu o professor universitário em 2013, na famosa academia do Catar. E é Mendez-Villanueva, que já publicou um livro sobre o tema, a destacar que "Vítor Frade é o pai do conceito, um mestre, uma pessoa brilhante". "Quando percebi até que ponto o Eddie era grande no râguebi, senti-me humilde por ele me procurar. Não se importou por eu não saber de râguebi, só estava interessado nos conceitos. Creio que os entendeu bem. E, agora, muita gente do râguebi me envia emails com perguntas", diz o espanhol. Se amanhã a Inglaterra ganhar, a caixa de correio provavelmente irá entupir...

"Mourinho é a referência"

"Não vi treinos do José Mourinho, mas ele é o melhor exemplo da aplicação da periodização tática numa equipa do mais alto nível", diz Alberto Mendez-Villanueva, que destaca a importância que Rui Faria tinha nas equipas de Mourinho, "por neste método não existir uma separação entre o treino tático e o físico". O conceito inventado por Vítor Frade é utilizado nas equipas da Academia Aspire, mas o espanhol destaca os treinadores que considera mais importantes na sua aplicação: "José Mourinho, André Villas-Boas, Vítor Pereira, Leonardo Jardim, Nuno Espírito Santo, Marco Silva, Brendan Rodgers, Mauricio Pellegrini e, claro, Eddie Jones."