Kaden Groves, um sprinter, venceu isolado a etapa 20 da Volta a França
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Kaden Groves chegou à 112.ª Volta a França em bicicleta sem oportunidades anunciadas, mas participou este sábado numa nova bem-sucedida reinvenção da Alpecin-Deceuninck, demonstrando ser mais do que um sprinter ao fugir para a vitória na penúltima etapa.
Vencedor da classificação por pontos nas últimas edições da Vuelta, o australiano de 26 anos estreou-se no Tour "despromovido" à condição de lançador de Jasper Philipsen, o primeiro camisola amarela da 112.ª edição, mas depois dos abandonos do belga, devido a queda, logo na terceira etapa e do estelar Mathieu van der Poel, por doença, antes da 16.ª, teve o seu momento para brilhar e não o desperdiçou.
“São tantas emoções por ganhar aqui. Viemos para cá com tantos planos diferentes, com o Jasper e o Mathieu, e tive as minhas oportunidades e não correram bem, mas hoje sentia-me com boas pernas”, resumiu Groves, após cumprir os 184,2 quilómetros entre Nantua e Pontarlier em 04:06.09 horas.
Aos 26 anos, o australiano completa a trilogia em grandes Voltas, depois de este ano já ter vencido uma etapa no Giro – tinha outra em 2023 – e de ter somado sete nas últimas três edições da Vuelta, um feito ainda mais assinalável por ter sido alcançado a partir da fuga.
Após mais de uma centena de quilómetros escapado, o ciclista da Alpecin-Deceuninck atacou os seus companheiros de jornada a 16 quilómetros da meta e não mais foi apanhado, relegando os neerlandeses Frank van den Broek (Picnic-PostNL), segundo a 54 segundos, e Pascal Eenkhoorn (Soudal Quick-Step), terceiro a 59, para os lugares de ‘honra’ numa etapa em que Tadej Pogacar (UAE Emirates) ficou um dia mais perto do triunfo final.
“É a primeira vez que ganho isolado, é bastante incrível. […] Apesar de ter triunfado no Giro e na Vuelta, havia a dúvida se era bom o suficiente para ganhar no Tour e agora demonstrei que sim”, salientou um emocionado Groves, que chorou quando cortou a meta.
O australiano e a Alpecin-Deceuninck deram hoje um novo exemplo de reinvenção ao pelotão, com a equipa belga a sair desta edição da ‘Grande Boucle’ com (pelo menos) três vitórias em etapas e cinco dias de amarelo, tendo estado também na luta pela classificação da regularidade, finalmente assegurada pelo italiano Jonathan Milan (Lidl-Trek).
Hoje, os pretendentes a integrar a fuga do dia foram tantos, que esta tardou em formar-se, sendo preciso esperar 60 quilómetros para que um grupo numeroso, que incluía os três primeiros da etapa, Tim Wellens (UAE Emirates), Matteo Jorgenson (Visma-Lease a Bike) ou o 11.º classificado da geral, o francês Jordan Jegat (TotalEnergies), se isolasse.
Sob chuva intensa, os 13 homens da frente ganharam uma vantagem superior a três minutos, obrigando a Jayco AlUla a perseguir para defender o top 10 de Ben O’Connor, uma tarefa que ficou mais difícil quando Jegat atacou na Côte de Thésy, o mesmo ponto escolhido por Wout van Aert (Visma-Lease a Bike) para sair do pelotão.
O belga, em branco nas últimas duas edições da ‘Grande Boucle’, levou consigo outros corredores, mas foram incapazes de chegar à frente da corrida, já a mais de cinco minutos de distância.
A Côte de Longeville, a quarta categoria que era a última contagem de montanha da jornada, não selecionou tanto o grupo como uma queda à entrada dos derradeiros 20 quilómetros: com o chão molhado, Iván Romeo (Movistar) e Romain Grégoire (Groupama-FDJ) caíram numa curva e perderam o contacto com Groves, Van den Broek (Picnic-PostNL) e Jake Stewart (Israel-Premier Tech).
Foi pouco depois que o australiano se isolou, numa altura em que o seu compatriota O’Connor assomou à frente do pelotão para defender o seu 10.º lugar.
No entanto, era demasiado tarde – dececionado, o líder da Jayco AlUla vociferou com os ciclistas da UAE Emirates, quando o erro de não acompanhar Jegat, que partiu com mais de quatro minutos de atraso para a penúltima etapa, foi apenas seu.
Numa jornada em que Nelson Oliveira (Movistar) foi 113.º e desceu à 74.ª posição, a saída do vice-campeão da Vuelta2024 do top 10 foi o único motivo de interesse numa geral que Pogacar lidera com 04.24 minutos de vantagem sobre o dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) e 11.09 sobre o alemão Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe).
No domingo, o esloveno de 26 anos vai confirmar, no final dos 132,3 quilómetros entre Mantes-la-Ville e Paris, que incluem uma tripla ascensão à colina de Montmartre, o seu quarto triunfo final na Volta a França, igualando o britânico Chris Froome e ficando a apenas uma vitória do recorde detido por Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Indurain.