"Festejos do Mundial? Foi uma direta, a beber uns copos com uma genuinidade fantástica"
ENTREVISTA, PARTE I - Momentos que colocaram a Seleção Nacional à prova deram a certeza a Jorge Braz que Portugal ia sagrar-se campeão mundial. A festa fez-se até às tantas, de direta e a "beber uns copos"
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A família tinha-o proibido de voltar a casa antes do último dia do torneio e o selecionador não desobedeceu. As meias-finais foram "o clique".
Cumpriu a ordem da sua esposa de só voltar a casa depois do último dia do torneio...
-A minha esposa e a minha filha só foram à Lituânia porque eu só voltaria a casa no dia 4. No patamar onde estamos, ganhar o grupo e passar os oitavos de final, onde ainda se apanham segundos e terceiros de outros agrupamentos, é uma obrigação. Nos quartos de final define-se o sucesso, ou não, do Mundial. Ganhando nos "quartos" ficas até ao fim, estás entre as quatro melhores seleções e tudo pode acontecer. Tinha dito que o jogo mais difícil de todos para dar o clique seria o da meia-final, para superarmos o que não tínhamos superado antes. Com a Espanha, da maneira como jogámos e o que fizemos levou-me a acreditar que íamos ser campeões.
Foi um Mundial em crescendo a partir da fase de grupos?
-Para estes jogadores, o primeiro jogo oficial desta época desportiva foi com a Tailândia. Podem dizer "ai, mas fizemos sete jogos de preparação". Pois, mas isso serviu para preparar o Mundial, não é para ganhar. A única coisa que eu queria era ganhar o grupo para ter uma distância de cinco dias para o próximo jogo. Queria lá saber com quem jogava. Se passássemos em segundo, só íamos ter dois dias de descanso até ao final do Mundial e isso permitiu-nos preparar as eliminatórias de outra forma.
Em que prova sofreu mais, no Europeu ou no Mundial?
-No Mundial houve momentos em que estávamos a sair um pouco do trilho. No Europeu, a nossa diferença para os outros foi tão grande que permitiu uma tranquilidade e uma segurança brutal. No Mundial houve um momento ou outro... estar a ganhar 2-0 com a Sérvia e permitir o empate, santa paciência... abana toda a gente. Ao estar a perder 2-0 com a Espanha, quem é que não abana? O Cazaquistão empatou a segundos do fim, passou a ganhar no prolongamento, quem é que não abana? Agora, a forma como superámos isso é que não é para toda a gente. Foi o principal indicador que me disse que na final só com uma catástrofe é que não caía para o nosso lado.
Depois de receber a medalha, de festejar, e de jantar, o que fez quando chegou ao quarto do hotel?
-Foi pegar na mala e vir embora que eram horas. Estivemos a pé até de manhã a festejar, a brincar, a refletir sobre o que tinha acontecido. Foi um convívio espetacular. Foi uma direta, a beber uns copos com uma genuinidade fantástica como quando estou na aldeia [Sonim] com os meus amigos.
O apoio, especialmente na final, impressionou-o?
-Sem dúvida. Temos uma mania de falar mal do nosso país e Portugal é uma marca fantástica. Veio gente das cidades todas da Lituânia, de outros países e chegamos ali e dizemos: é impossível não ganharmos isto. Foi fabuloso.