Fernando Nunes em aventura na Índia: "Há muita gente a viver nas bermas das ruas..."
Antigo ponta-direita tem viajado em função dos compromissos profissionais da mulher, mas, desta vez, foi a modalidade que sempre praticou a fazer-lhe um apelo, vindo da Ásia; Fanã, como carinhosamente sempre foi tratado, tem esta tarde o primeiro jogo ao serviço do Telegu Talons, da Liga Indiana de Andebol. Uma aventura de 40 dias, já contando com o período de preparação.
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Fernando Nunes, antigo ponta-direita, que se notabilizou ao serviço do Sporting - um Campeonato Nacional, três Taças de Portugal, uma Supertaça e uma Taça Challenge -, tendo também passado, entre outros, por V. Setúbal e Ginásio do Sul, está a treinar na Índia, no Telugu Talons, de Hyderabad, cidade capital do estado de Telangana, no sul do país mais populoso do Mundo - 1.428 biliões de habitantes, segundo as mais recentes estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU).
A liga, que dura cerca de 20 dias, é disputada por seis equipas e, quem chegar à final, faz 12 jogos, começa hoje, às 16 horas portuguesas.
Fanã deixou Portugal em janeiro de 2017, tendo andado por França, Holanda e Suécia, nestes três casos em virtude de afazeres profissionais da esposa, Vanessa, que trabalha numa multinacional. Na Suécia, perto de Malmo, Nunes treinou uma formação de sub-20. "Sempre tive a curiosidade de saber como é que os suecos trabalhavam o andebol de formação", explica a O JOGO.
Hoje, às 16h00 de Portugal, começou então a Liga indiana de andebol. "Em 2020, antes da covid, um treinador espanhol meu amigo, que trabalhava nestes países emergentes, entrou em contacto comigo e disse-me que Índia pretendia criar uma liga profissional, pediram-me o currículo e eu disse que sim. Apareceu o covid e deixaram cair a ideia porque não havia condições", conta. "Este ano, para surpresa minha, recebo um contacto da mesma pessoa para saber se podia dar o meu currículo a duas equipas que queriam apostar em treinadores estrangeiros, e eu disse que sim. Mais tarde percebi que ele passou o meu contacto ao CEO da Liga, que me ligou. Não levou mais de dez minutos a receber uma chamada de uma equipa. Ouvi a proposta, disse que ia pensar, até porque era para começar de imediato. Ficamos um pouca na dúvida, mas como isto são dois meses, resolvi fazer uma contra proposta, que foi recusada. No dia seguinte tinha novo contacto, ajustamos as coisas e cinco dias depois estava a voar para a Índia", prossegue.
"Isto são seis equipas de empresas com um investimento brutal. A minha tem badminton, voleibol e investiu numa equipa de voleibol em Itália", conta Fanã, sobre o clube de Abhishek Reddy Kankalla, considerado pelo português como "um dos motores do andebol na Índia".
"Há gente a viver na berma da rua"
Sobre o andebol indiano, Fernando Nunes fala num jogo "pouco tático, pouco técnico e em que se corre muito e sem critério". Por isso, o português precisa "dar-lhe alguma educação", sendo que "para desenvolver a parte técnica o tempo é curto". O antigo atleta explica ainda que "todos jogadores são ligados ao Estado e com base nas Forças Armadas", para a seguir falar do país.
"A Índia é extremamente pobre, mesmo muito pobre. Aqui ao lado do hotel há bons condomínios, bons centros comerciais, bons restaurantes, mas deve servir, diria, uns 10% da população. A restante vive abaixo do limiar da pobreza", descreve. "Vim mentalizado que seria uma experiência única como treinador, mas quando aterrei e vi o que vi, passou a ser uma missão. É desolador. O que se vê aqui é uma lição de vida para o ocidental", garante. "A Índia tem, apesar de tudo, o seu fascínio, mas é verdadeiramente pobre. Todos nós devíamos passar uns dias na Índia para pensarmos bem nas nossas vidas e daquilo de que nos queixamos. Isto está a fazer-me mais humano. Há muita gente a viver nas bermas das ruas...", conta ainda.