Esforços foram superiores aos ganhos para a maioria dos atletas olímpicos retirados
Segundo o estudo "Transição de carreira, situação perante o emprego e mercado de trabalho", apresentado esta quarta-feira
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A maioria dos antigos atletas olímpicos considera que os esforços foram superiores aos ganhos desportivos, segundo o estudo "Transição de carreira, situação perante o emprego e mercado de trabalho", apresentado esta quarta-feira.
O estudo, elaborado pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior, pretendeu responder à necessidade identificada pelo Comité Olímpico de Portugal (COP) e, sobretudo, pela Comissão de Atletas Olímpicos (CAO) de conhecer a condição perante o emprego dos atletas que participaram nos programas de preparação olímpica e/ou em Londres'2012, Rio'2016 e Tóquio'2020 e que terminaram a sua carreira desportiva nesses ciclos.
Mais de metade – mais concretamente 54,3 por cento - dos 75 atletas (dos 146 já retirados) que responderam ao questionário consideram que os esforços realizados durante a sua carreira desportiva “foram maiores do que os ganhos” obtidos, com 35,7 por cento a estimarem que houve um equilíbrio e apenas 10 por cento a dizerem que as conquistas foram superiores.
Durante a apresentação do estudo, o presidente do COP, Artur Lopes, considerou que os atletas olímpicos têm por vezes "extrema dificuldade" em conciliar a carreira de atleta e a sua preocupação com a vida futura, referindo que estes "ganharam e muito naqueles anos que deram, com capacidade de luta, resiliência, tudo ao desporto".
"Temos de ver como vamos fazer uma junção dessas duas vidas. Toda a sociedade tem de ajudar. Não podem ser só os atletas, os treinadores, os dirigentes, os governantes, que devem fazer diplomas, e não só a sociedade civil, que deve ver a importância que têm nas suas empresas. Têm de ser todos e todos de uma foram junta, somada, aumentada. Só assim se fará com que um atleta não dê por perdidos os anos que deram ao desporto", disse.
Para o líder do COP, "há que continuar este estudo", que "é um pontapé de saída para um jogo que tem de continuar a ser jogado".
A nível financeiro, o rendimento mensal líquido médio mais frequente durante o auge da carreira desportiva - somando todos os rendimentos – oscilou entre os 1 001 e os 1 500 euros (26,7 por cento) e os 1 501 e os 2 000 (26,7 por cento). Contudo, 18,7 por cento auferiram apenas entre 551 e 1 000 euros, com 2,7 por cento a situarem-se acima dos 5 000 euros.
No rendimento anual dos atletas, o que mais pesou (59,67 por cento) foi o dinheiro de prémios, salário do clube, patrocinadores, apoio financeiro da federação desportiva ou bolsas do Projeto Olímpico/COP, seguindo-se o “rendimento de outro trabalho além do desporto de elite” (21,20 por cento) e “outras fontes de rendimento” (por exemplo: doações, apoio de fundações, bolsas de estudo), com uma média de 6,27 por cento.
Ainda assim, mais de 80 por cento dos atletas demonstrou estar “satisfeito(a)” ou “muito satisfeito(a)” com o sucesso alcançado na sua carreira, na qual a maioria, ou seja, um total de 77,3 por cento dos respondentes, foi “nem pouco nem muito conhecido(a)”, “não muito conhecido” e “nada conhecido(a)” – somente 21,3 por cento se consideram “bem conhecido(a)” e “muito conhecido(a)”.
A quase totalidade dos inquiridos (97,1 por cento) considerava-se como um atleta e gostava de competir (94,3 por cento), com 77,1 por cento a admitir que o desporto era a parte mais importante da sua vida, percentagens que refletem a forte dedicação e paixão destes pelo desporto durante a sua carreira ativa, que começaram maioritariamente aos 15 anos.
O estudo da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, incidiu sobre 75 dos 146 atletas retirados nos três ciclos olímpicos anteriores, com uma média de 39,4 anos e um desvio-padrão de 6,7 anos. Dos respondentes, 68,3 por cento são do sexo masculino e 31,7 por cento do sexo feminino.
Neste, verificou-se que natação (21,3 por cento), atletismo (18,7 por cento), judo (10,7 por cento), vela (10,7%) e canoagem (9,3 por cento) foram as modalidades que tiveram atletas com maior percentagem de término de carreira, com o ciclismo e a ginástica, ambos com 1,3%, a serem os desportos com menor representação.