Emoções à moda antiga na F1: recorde as mais espetaculares decisões na última corrida
Uma das edições mais eletrizantes dos 72 anos da Fórmula 1 decide-se este domingo, em Abu Dhabi, onde Max Verstappen e Lewis Hamilton chegam com os mesmos 369,5 pontos. É a segunda vez que dois pilotos partem empatados no derradeiro Grande Prémio, mas o título já se decidiu na última corrida 28 vezes. Aqui recordam-se as mais espetaculares.
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No culminar de uma temporada que teve um recorde de 22 Grandes Prémios e seis mudanças de liderança no Mundial, Max Verstappen ou Lewis Hamilton decidem este domingo (13h00, Eleven Sports 3) quem é o novo campeão de Fórmula 1.
Largando ambos com 369,5 pontos em Yas Marina, ou o britânico somará o oitavo título da carreira, superando o recorde de Michael Schumacher, ou o neerlandês consegue o seu primeiro e quebra a hegemonia da Mercedes.
O piloto da Red Bull leva vantagem no confronto direto, por ter mais vitórias. O triunfo que lhe foi atribuído na Bélgica, onde não se chegou a correr devido ao mau tempo e os pilotos receberam apenas metade dos pontos, pode revelar-se decisivo meses depois...
as este ano não foi só o do Grande Prémio mais curto da história. Vários imbróglios envolveram os dois protagonistas, que colidiram pela primeira vez na volta inaugural do GP da Grã-Bretanha - o piloto da Red Bull sofreu um impacto de 51 G e o da Mercedes foi penalizado com 10 segundos, mas mesmo assim ganhou - e dois outros choques se seguiriam, em Monza, onde o Red Bull passou por cima do Mercedes e foi o halo a salvar a vida a Hamilton, e mais recentemente em Jeddah, onde foram primeiro e segundo, mas com Verstappen duas vezes penalizado.
Depois de ter estado 32 pontos atrás do rival (no final do GP da Áustria), Hamilton recuperou com três vitórias consecutivas antes de Abu Dhabi (Brasil, Catar e Arábia Saudita). Em São Paulo fez uma exibição memorável (largou de último para ser quinto na corrida sprint; partiu de 10.º no domingo por trocar peças no motor e ganhou) e deixou o Mundial ao rubro. Numa época com emoções à altura dos anos mais populares da F1, recordamos outras com finais empolgantes.
OUTROS ANOS EM QUE O CAMPEONATO SE DECIDIU NA ÚLTIMA CORRIDA
1974 Fittipaldi "bi" após empate
Clay Regazzoni (Ferrari) só venceu uma vez ao longo da temporada, mas chegou aos EUA igualado com Emerson Fittipaldi (McLaren), na única vez até este ano em que houve empate à entrada da última corrida (52 pontos). Em Watkins Glen, num GP ensombrado pela morte instantânea de Helmuth Koinigg (Surtees-Ford) na volta 10 - acabou decapitado pelo rail da curva 7, onde embateu -, Fittipaldi largou de oitavo e Regazzoni de nono. Numa altura em que a pontuação era 9-6-4-3-2-1, ao brasileiro bastou ser quarto para se sagrar bicampeão, pois o suíço caiu para 11.º com problemas na caixa de velocidades.
1976 Lauda privilegiou a vida
Numa temporada tão emocionante que deu origem ao filme "Rush - Duelo de Rivais", Niki Lauda, que ajudou a Mercedes a contratar Lewis Hamilton em 2013, tinha três pontos de vantagem sobre o irreverente James Hunt (McLaren) antes do GP do Japão. No entanto, o austríaco da Ferrari colocou a vida em primeiro lugar e abandonou no final da segunda volta, face ao dilúvio que se abateu sobre o Monte Fuji. Dois meses antes, na Alemanha, Lauda tinha sobrevivido milagrosamente a um acidente em que o Ferrari se incendiou - um padre foi ao hospital para lhe dar a extrema unção -, e tinha ainda uma dificuldade, pois sem pestanas a água entrava-lhe nos olhos, enquanto Hunt foi mesmo até ao fim. Ainda sofrendo um furo, o britânico foi terceiro e celebrando o único título da carreira por meio ponto!
1986 Mansell tramado por pneu
Recordado como um dos anos mais renhidos de sempre, 1986 teve quatro candidatos, Alain Prost, Nigel Mansell, Nelson Piquet e Ayrton Senna, os três primeiros com chances matemáticas no derradeiro GP da Austrália. Tudo corria de feição a Mansell, que subiu ao necessário terceiro lugar com o abandono de Keke Rosberg, mas o pneu traseiro esquerdo do britânico rebentou à 63.ª volta e afastou-o da luta. Temendo que o mesmo acontecesse ao colega Piquet, a Williams fez parar o brasileiro. A liderança ficou para Prost e o francês da McLaren, que nunca tinha liderado o Mundial nessa época, ganhou em Adelaide e festejou o segundo título.
1994 Os choques de Schumacher
O campeonato de 1994, marcado pela trágica morte de Senna em Imola, decidiu-se com uma colisão entre Michael Schumacher (Benetton) e Damon Hill (Williams), separados por um ponto antes de Adelaide, onde o piloto germânico teve uma saída de pista à volta 36. Quando regressava ao asfalto e o britânico o tentava passar, os dois chocaram. Schumacher abandonou de imediato e Hill, apesar de tentar continuar, desistiu também. A discussão sobre se o embate foi deliberado persistiu, mas era o primeiro dos sete títulos mundiais do alemão. Em 1997, Schumacher repetiu o gesto, batendo no Williams de Jacques Villeneuve quando este o ultrapassava para ser campeão, mas correu-lhe duplamente mal: desistiu ele na corrida e foi desclassificado no Mundial.
2008 Massa campeão 38 segundos
No seu segundo ano na Fórmula 1, Hamilton passou pela sensação de ser campeão na última corrida, depois de o campeonato anterior lhe ter escapado para Kimi Raikkonen por um ponto. Mas em 2008 o desfecho foi dos mais dramáticos de sempre: Felipe Massa ganhou a última corrida, o "seu" Grande Prémio do Brasil, o que lhe valia o título mundial com um Ferrari, pois o McLaren de Lewis Hamilton era apenas sexto. Mas tinha começado a chover e Timo Glock arrastava-se em pista com um Toyota ainda de pneus slicks. Hamilton ultrapassou-o na última curva e foi campeão por um ponto, para desilusão das boxes da Ferrari e das bancadas da Interlagos, onde se festejava desde a chegada de Massa, 38,9 segundos antes...
2012 Vettel foi de último ao título
Numa época que teve oito vencedores diferentes, Sebastian Vettel (Red Bull) estava 13 pontos à frente de Fernando Alonso (Ferrari) antes do Brasil. O alemão tremeu com um acidente na primeira volta, que o atirou para último. A seis voltas do fim, Schumacher (em dia de despedida) facilitou a passagem do compatriota, que ascendeu a sexto, o suficiente para ser campeão mesmo com Alonso em segundo. Num dia em que a chuva baralhou a corrida, faltava que nada sucedesse a Jenson Button na frente. Com a entrada do safety-car até ao fim, após um despiste de Paul Di Resta, Vettel sossegou e tornou-se o mais jovem a chegar ao "tri".
2016 E eram amigos de infância...
Até aos duelos Lewis Hamilton e Max Verstappen, a maior rivalidade da década tinha sido entre o britânico e Nico Rosberg, que eram amigos de infância mas se incompatibilizaram durante os quatro anos juntos na Mercedes. Em 2016, o alemão sagrou-se campeão mundial na última corrida, em Abu Dhabi, e por cinco pontos de diferença, mesmo depois de Hamilton, contra as ordens da equipa, ter baixado o ritmo quando liderava para que Vettel e Verstappen se aproximassem do colega, que perderia o título se fosse quarto. A estratégia não resultou, mas, dias mais tarde, Rosberg anunciava o adeus à Fórmula 1. Toto Wolff deixou claro que uma hostilidade assim dentro da Mercedes não podia voltar a repetir-se.