Artem Nych viveu odisseia para se juntar à Glassdrive. Foi oitavo na Volta à Turquia, 12.º na Eslovénia, sagrou-se campeão russo e a carreira, bem encaminhada, ficou num impasse com a invasão da Ucrânia. O gigante encontrou nova vida em Portugal.
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"Vim porque queria continuar a correr e achei que era uma boa oferta. Estou a gostar muito de Portugal, encontrei uma boa equipa e boas corridas", diz Artem Nych a O JOGO, num português muito razoável para quem está no nosso país há meio ano. Natural de Kemerovo, cidade industrial de meio milhão de habitantes do sudoeste da Sibéria, o russo tem uma figura pouco comum para um ciclista - 1,93 metros de altura - e sorri muito. Mesmo quando tenta escapar a perguntas mais difíceis, pois não fala da guerra.
"Não queria ficar no meu país", confessa, relatando uma viagem difícil até se encontrar com Rúben Pereira, diretor-desportivo da Glassdrive-Q8-Anicolor e responsável pela sua contratação. "Estive na Bielorrússia, depois fui para o Cazaquistão, passei para a Turquia e daí é que pude apanhar o avião para Portugal", conta Nych, que agora vive em Santa Maria da Feira, sozinho, mas tendo Pereira e Mauricio Moreira como vizinhos.
"Encontrei outra família em Portugal. A equipa é agora a minha família", diz abrindo mais o sorriso ao agradecer aos colegas a conquista do GP das Beiras, há duas semanas. Foi o primeiro êxito internacional do russo que já festejou cá os 28 anos e quer continuar: "Gosto muito. O nível das corridas é semelhante ou um pouco melhor que o da Rússia".
Feliz, Nych só se engasga quando o tema é a guerra. "Não gosto de falar disso", diz, revelando que por vezes liga à família.
Mudar de país é uma possibilidade
Pavel Sivakov, o mais famoso dos ciclistas russos, aproveitou as novas regras criadas para os ciclistas do seu país e mudou de imediato a sua licença para França, país que já representou no Mundial. Artem Nych hesita nesse passo. "Corro como neutro. Sei que posso mudar para outro país, mas ainda não sei o que fazer", responde.