Corredor dinamarquês chegou a sentir-se "culpado" por viajar dos Emirados Árabes para Berlim e conviver com a sua seleção de pista, na altura sem saber que em Abu Dhabi havia dois casos suspeitos de coronavírus
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Michael Morkov, ciclista dinamarquês da Deceuninck-Quick Step, desistiu depois da quarta etapa da Volta aos Emirados Árabes Unidos, na passada quarta-feira, para apanhar um avião rumo a Berlim, pois era um dos candidatos às medalhas na prova de madison do Campeonato do Mundo de pista. Pouco depois de chegar à Alemanha, soube que a corrida árabe tinha sido cancelada devido a dois casos suspeitos de coronavírus. Os responsáveis da União Ciclista Internacional, em pânico, mandaram fechá-lo no seu quarto de hotel, do qual só foi autorizado a sair 34 horas depois para... se sagrar campeão mundial!
"Há dois dias duvidava que pudesse correr, agora estou no topo do mundo", comentou Morkov, que tem 34 anos e tinha ganho outro título mundial em 2009. Mas a sua atual parceria com Lasse Norman Hansen - o madison é uma corrida de 200 voltas e 50 quilómetros feita por pares de corredores - tem sido bem-sucedida e já havia rendido o título europeu do ano passado à dupla, que ontem deu uma volta de avanço a todos os rivais, incluindo os portugueses Iuri Leitão e Ivo Oliveira, que foram 14.ºs, falhando o apuramento olímpico.
A odisseia do dinamarquês é inesquecível, mas nem tudo foram bons momentos. Não só fez uma longa viagem de avião como na quinta-feira, quando chegou a Berlim, foi, juntamente com Hansen, ao velódromo para aplaudir a equipa dinamarquesa que se sagrou campeã mundial de perseguição. Caso estivesse infetado, os efeitos poderiam ter sido desastrosos.
"Senti-me culpado. Eles tinham sido campeões e abraçámo-nos centenas de vezes", contou, depois de na sexta-feira, dia em que se suspeitou terem dois membros do staff da equipa UAE Emirates contraído o vírus, ter sido fechado num quarto de hotel.
"Foi como uma onda em cima de mim. Tentei manter-me calmo, fazer a preparação no quarto, concentrar-me na corrida e cruzar os dedos para que me deixassem alinhar", contou em Berlim, onde fez 34 horas de quarentena treinando com a bicicleta no quarto, em cima de rolos.
Na tarde de sábado, as boas notícias chegaram de Abu Dhabi, onde outros 133 corredores também estavam fechados num hotel: não havia infetados com o coronavírus e todos podiam sair e competir. "Parece que funcionou. Era capaz de me fechar outra vez!", brincou, quando lhe perguntaram se fora a quarentena a ajudá-lo a ser campeão.
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