Beatriz Pereira corre Volta pela seleção enquanto persegue "sonho" com realismo
A jovem natural de Vila Nova de Famalicão é ciclista da Bizkaia-Durango mas arranca esta quinta-feira a Volta pela seleção
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A ciclista portuguesa Beatriz Pereira integra a seleção portuguesa sub-23 e juniores que esta quinta-feira alinha à partida da segunda Volta a Portugal feminina, outro passo numa carreira em que persegue um "sonho", mas com realismo.
"Eu tenho o sonho e gostava de chegar ao topo do ciclismo. Às vezes, é um bocadinho difícil, a parte de ter calma, como sub-23, porque obviamente tenho 18 anos e compito com profissionais de há muitos anos. Tenho de ter calma, não estou no nível delas, mas não me quero sentar à "sombra da bananeira" e esperar que os resultados cheguem. É esta gestão de expectativas, do que devo ou não aceitar que me aconteça. É normal não acabar uma corrida, não é normal não acabar nenhuma. É precisa muita maturidade emocional", explica, em entrevista à Lusa.
A jovem natural de Vila Nova de Famalicão, no distrito de Braga, é ciclista da Bizkaia-Durango, equipa UCI de Espanha que Daniela Campos e Melissa Maia também representam, mas arranca esta quinta-feira a Volta pela seleção, ao lado de Beatriz Roxo, Nádia Henriques e Inês Santos.
Nem estava a contar regressar para a segunda edição, foi apanhada "algo de surpresa", porque a equipa não vai correr a prova, mas ficou "muito feliz" por vestir as cores nacionais e por "matar saudades" de correr em Portugal.
E será um nome a ter em conta, depois do quinto lugar final em 2021, ainda que diga que o objetivo é "levar um dia de cada vez" e focar-se na classificação da juventude, numa prova em que "meio pelotão" terá elegibilidade a aspirar à camisola branca.
"Tem tudo para correr bem, temos uma seleção forte, vamos jogar as nossas cartas da melhor maneira", comenta, afirmando a vontade de suprir o facto de serem só quatro inscritas com o talento e a vontade de controlar e seguir no grupo da frente.
Os bons resultados levaram a estudante de Ciências Biomédicas Laboratoriais a representar a equipa espanhola, à semelhança de outros jovens valores que regressam à Volta, de Beatriz Roxo (Rio Miera-Cantabria) à segunda classificada em 2021, e dorsal um desta edição, Sofia Gomes (Massi Tactic).
"O ciclismo feminino em Portugal está a crescer. Há mais meninas, mais nível, e é muito importante. Não é só ganhar corridas em Portugal, mas ter resposta competitiva nas corridas lá fora, na Europa. Isso está a melhorar a cada dia. Quero acreditar que também tive uma pequena influência nisso, mas pessoas como a Maria Martins, a Daniela Reis, a Daniela Campos, tiveram outra influência. Sinto que corridas como a Volta, de mais de um dia, são muito importantes para termos uma variedade mais interessante no calendário", analisa.
Para a Volta, que traz à memória a prova masculina, que quando passava pela terra "era algo mágico", tanto para Beatriz Pereira como para milhares de "miúdos" a cada ano, desejava que pudesse subir à categoria UCI, para "que as mais novas contactassem com profissionais".
"Para uma menina ter representatividade na estrada e em Portugal, tão perto de nós, seria importante e inovador", refere.
A jovem corredora apontou o pico de forma para esta altura, por causa dos Nacionais, que começam uma semana depois, e dos Europeus, na mesma Anadia em que termina a Volta no domingo, e gostaria de ter a oportunidade de voltar a estar na seleção, mesmo que quisesse "mais tempo para treinar, para descansar, porque com a universidade acaba por ser uma loucura".
Ainda assim, em "estradas tão familiares desde cadete", em Anadia, espera integrar "uma equipa fortíssima de sub-23 e também de juniores" que Portugal poderá apresentar.
O "salto grande, para não dizer gigante" que deu para Espanha tem sido, ainda assim, "uma experiência positiva", e ao analisar a carreira oscila entre o sonho e o realismo.
"Há aqui um grande abismo que demora algum tempo até subir de nível, estar ao nível delas. Todas as corridas têm sido um grande desafio", refere.
Num "mundo completamente diferente", em que é difícil "assimilar tanta coisa ao mesmo tempo", e em que é fácil desmotivar pelos maus resultados, e onde a gestão de expectativas e emoções é o mais importante, encontra-se enquanto ciclista que "tem muito para evoluir e descobrir", e gosta que o ciclismo "apesar de ser tão simples, acabe por ser tão complexo".
A segunda edição da Volta a Portugal feminina regressa de hoje a domingo com um prólogo seguido de três etapas, ligando Loures a Anadia ao longo de 273,4 quilómetros.
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