"VAR? No início pensámos que ia ser simples, mas quando estamos à frente do monitor..."
Palavras de Ricardo de Burgos Bengoetxea, árbitro da LaLiga
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Ricardo de Burgos Bengoetxea, árbitro espanhol, concedeu esta terça-feira uma entrevista ao jornal Marca, na qual admitiu que a sua profissão resulta muitas vezes em “momentos complicados”, descartando ainda assim que isso retire felicidade ao seu trabalho.
“Não há outra opção senão ser árbitro por vocação. Ser árbitro é algo em que se tem de entrar. É difícil para as pessoas compreenderem uma profissão em que se recebe tantas críticas. Para nós, é uma ilusão estar em campo e a verdade é que estou mais do que feliz por poder fazer o meu trabalho todos os fins-de-semana", começou por dizer.
“Sabemos que este é um mundo onde haverá sempre críticas. Ninguém fica satisfeito. Em todos os jogos há sempre uma voz discordante, mas temos de estar preparados para esses momentos. A verdade é que ao longo da nossa carreira recebemos muitas críticas, mas bem, isso ajuda-nos a continuar a crescer, a amadurecer e a saber filtrar as críticas ferozes e por vezes destrutivas”, explicou.
Natural de Bilbau, o árbitro de 37 anos elogiou a cidade basca por permitir que possa andar na rua sem ser confrontado com adeptos descontentes com decisões que tomou em campo.
“Tenho a sorte de viver em Bilbau, a maioria das pessoas compreende-nos e recebemos muito apoio para continuar a trabalhar. Dizem-nos que gostam da nossa forma de arbitrar e a verdade é que são muito respeitadores. Houve alguns incidentes ou contratempos nos aviões, mas tentamos não lhes dar muita atenção”, revelou.
Questionado sobre os “momentos complicados” que por vezes tem de atravessar dentro de campo e que levam posteriormente a esse tipo de incidentes com adeptos, De Burgos Bengoetxea, destacou a importância de os árbitros terem sempre a consciência “tranquila”.
“Temos de estar à altura, não lhes dar ouvidos e não nos envolvermos em provocações ou confrontos, porque temos muito a perder. Não vale a pena, porque quando fazemos o nosso trabalho de forma honrada, estamos calmos e dormimos tranquilos todas as noites, não temos de nos preocupar com nada”, salientou.
O árbitro considerou que a mudança de normas no futebol também afeta o rendimento dos colegas de profissão, abordando ainda as polémicas em torno do VAR.
“Há certas situações que são complicadas. Por exemplo, a questão das mãos, que são sempre as que geram mais problemas para nós e no mundo do futebol. O importante é ter claro o conceito, os critérios, mas sabendo que vai haver jogadas cinzentas, interpretáveis, que não há duas jogadas iguais e que há sempre uma voz discordante que não entende ou não quer entender certas situações”, defendeu.
“VAR? No início pensámos que ia ser simples, mas quando nos colocamos em frente ao monitor, a verdade é que há certos elementos que são difíceis. Uma perna no ar, a bola fora do chão... há uma série de condições para lançar as linhas. Obviamente que o sistema tem uma percentagem de erro e quando uma máquina o faz, também tem uma percentagem de erro. O que é preciso fazer é minimizar todos os elementos, todos os fatores, para que a linha seja o mais precisa possível”, apontou, antes de um desabafo.
“Seria bom se todos pudéssemos normalizar a figura do árbitro, se conseguíssemos eliminar o erro. Tal como eles, que a qualquer momento podem falhar um penálti ou um defesa perder uma bola num controlo e que acaba em golo, os árbitros também podem cometer erros. Obviamente que somos humanos e sabemos que cometemos erros, mas temos de os tornar normais. Compreendemos que um erro pode afetar o resultado final no marcador. Quando se vai para casa depois de um erro que afeta o resultado de qualquer equipa, é doloroso porque teve uma influência e um impacto importantes nesse jogo, nesse resultado. O que estamos a procurar é melhorar para que isso não aconteça”, sentenciou.