Em entrevista a O JOGO, Guilherme Ramos, defesa de 26 anos, lembra que foi o primeiro português a saltar diretamente da II Liga para a Bundesliga, pela porta do Arminia Bielefeld. Está a iniciar a quarta época na Alemanha
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Aos 26 anos, Guilherme Ramos está a começar a segunda época no Hamburgo, clube da cidade que vai receber o Portugal-França, e descreve as vivências em exclusivo a O JOGO.
Rumou à Alemanha em 2021, após duas épocas no Feirense. Como surgiu a oportunidade?
-O Arminia já me estava a acompanhar. Depois de me mudar para o Feirense, fiz duas boas temporadas. Fui distinguido como melhor jovem do mês várias vezes e eles estavam de olho em mim, iam fazendo relatórios e decidiram avançar. Acho que fui o único português que deu o salto da II Liga portuguesa para a Bundesliga.
Como correu a adaptação?
-Enfrentei algumas barreiras. Até me considero uma pessoa sem dificuldade em ambientar-me, mas a língua é muito diferente. Quando cheguei, nem uma palavra percebia. Era como se tudo fosse texto corrido. Ainda agora me fio bastante no inglês. Tenho aulas [de alemão] todas as semanas, mas é um processo lento. O tempo também é muito diferente. O inverno é mais longo, os dias mais escuros... Para mim, é importante ter um bocadinho de sol e estar próximo do mar. De resto, na altura em que jogava na II Liga já estava, provavelmente, num nível mais elevado e a adaptação foi gradual. Acabei por fazer alguns jogos de bom nível na Bundesliga. Infelizmente descemos, mas foi uma experiência muito boa. Joguei contra os maiores da Alemanha.
Nesses jogos, qual foi o adversário mais temível?
-Não é fácil escolher. Tive uma adaptação a defesa-direito, posição que nunca tinha feito, mas a equipa precisava e até correu bem. Diria que onde fiquei pior na fotografia foi num lance com o Bellingham, que até se tornou viral. Foi o meu jogo de estreia na Bundesliga, um batismo em grande... Acabou por conseguir passar por mim. Ao ver o vídeo, até parece que há alguma facilidade, mas ele já estava num nível bastante elevado.
Após duas épocas no Arminia, foi para o Hamburgo. O objetivo é voltar à Bundesliga?
-Sem dúvida. O Hamburgo está há seis anos sem subir, mas dentro de campo é uma das melhores equipas. Normalmente, o arranque é incrível, mas temos tido alguns problemas depois. Na época passada, a minha primeira cá, não aguentámos o ritmo inicial e não conseguimos subir. É um clube histórico, com uma massa adepta gigante. Pertence à Bundesliga e nunca esperamos menos do que a subida.
“CR7 nunca se iria perdoar”
Guilherme Ramos viu o jogo com a Eslovénia e não ficou indiferente às lágrimas de Ronaldo. “Não conseguiu controlar as emoções, porque sentiu que podia ter deitado tudo por água abaixo. É o último Europeu dele e não sei se algum dia se iria perdoar... Felizmente, temos um grande guarda-redes, que acabou por salvar o jogo”, refere o central, que perspetiva “uma grande atmosfera” amanhã, no Volksparkstadion que tão bem conhece. “Até arrepia. Não sei se vou poder estar lá. Estamos em estágio e ainda estou a tentar convencer quem de direito”, diz, entre risos.
“Andei na mesma ama de Rúben Dias e depois fomos adversários”
Um dos patrões da defesa da Seleção foi “o melhor amigo” de Guilherme Ramos durante a infância. E tudo começou na... ama. “Quando tínhamos dois ou três anos, andámos na mesma ama. Depois, perdemos um bocadinho o contacto, mas acabámos por ter uma relação muito próxima. Cada um seguiu o seu caminho, mas, como temos a mesma idade, fizemos alguns jogos um contra o outro. Houve um que me marcou, porque a nossa ama estava a ver, comigo a capitão do Sporting e ele a capitão do Benfica. É de louvar onde ele chegou”, recorda o central do Hamburgo.
“Seleção? até aos 40 anos...”
Chegar à Seleção Nacional é “o objetivo de carreira” de Guilherme Ramos. Quem o diz é o próprio, prometendo lutar até ao último dia pela realização do sonho.
“Posso jogar até aos 40 anos e será sempre um sonho. Sei que, a cada ano que passa, as probabilidades descem um pouco, mas trabalho todos os dias para, eventualmente, chegar lá”, assegura a O JOGO. Em termos clubísticos, adota um discurso “realista”. “Não é fácil fazer futurologia. Só passando para o patamar da Bundesliga é que se acaba por ter mais acesso a saltos tão grandes. Teria de mostrar que sou uma aposta segura a esse nível”, reconhece Ramos, já com um plano mais ou menos definido para a reta final da carreira. “Depende sempre do projeto, mas sinto que será inevitável acabar a carreira em Portugal. Terei todo o gosto”, finaliza.