Um português de sucesso no futebol saudita: "Honrado por ter sido escolhido"
Um ano após ter subido o Al Kholood ao primeiro escalão saudita, o português Fabiano Flora repetiu a dose no Al Diriyah. Futuro está em aberto
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Aos 39 anos, Fabiano Flora tem já uma bagagem assinalável como treinador, com passagens de sucesso por destinos exóticos. Nas últimas três épocas assentou na Arábia Saudita e conseguiu duas subidas de divisão, a segunda esta temporada, no Al Diriyah. A O JOGO disseca a história de sucesso e projeta ambições.
Está desde 2022/23 na Arábia Saudita. Como surgiu a hipótese de rumar ao Médio Oriente?
—Surgiu quando eu estava na liga da Letónia, no Spartaks. Se não me engano, o clube tinha um ponto quando cheguei e estava em zona de descida. Conseguimos três ou quatro vitórias seguidas e fomos ganhar a casa do campeão, que estava também a disputar a Champions. A partir dali começou a surgir interesse da Arábia Saudita, uma possibilidade aliciante para jogadores e treinadores. Comecei no Al Sahel e, apesar de alguns resultados interessantes, não fiquei até ao fim da época, o que, na Arábia, é normal. Mais tarde, já no Al Kholood, conseguimos subir à liga saudita. Um trajeto incrível num clube difícil, com poucas infraestruturas. Decidi não continuar e surgiu este projeto do Al Diriyah, que vai muito além do clube. É um “giga-project”. Até estão a criar um dos estádios que vai fazer parte do Mundial’2034. Decidi abraçar este projeto sério, com pernas para andar, e que tem o apoio do fundo soberano [PIF], tal como o Al Hilal, o Al Nassr, o Al Ittihad e o Al Ahli. É, também, uma responsabilidade enorme, porque está ligado ao Rei. Tivemos 25 vitórias em 31 jogos, subimos de divisão quando ainda faltavam cinco jornadas para terminar e acabámos com a cereja no topo do bolo, sendo campeões no terceiro escalão. Foi absolutamente incrível, mérito de toda a gente.
Já se fala no objetivo de subir novamente na próxima época...
—O objetivo é fazer do clube um dos maiores da Ásia. Vai para lá da subida à Premier League saudita. Tenho a certeza absoluta de que mais três ou quatro anos e estará ao nível do Al Hilal ou do Al Nassr. É um projeto que vai muito além do que as pessoas pensam, é enorme. Mas, lá está, tem pernas para andar. Este foi só o primeiro passo e sinto-me honrado por ter sido escolhido para fazer parte desta história. Penso que foram equacionados treinadores de nível mundial, contratámos o Marega, que tem mais um ano de contrato... É um projeto incrível.
E o Fabiano vai continuar no Al-Diriyah?
—Neste momento ainda não sei. O Al Diriyah contratou recentemente um diretor-desportivo que estava no Crystal Palace, de Inglaterra. Por aí já se consegue ver a realidade deste projeto. Tenho contrato até dia 15 de maio. Depois, logo vemos o melhor caminho a seguir.
Que tipo de impacto tem a presença de Cristiano Ronaldo e de outras estrelas na liga saudita?
—Um impacto incrível. O Cristiano foi o pioneiro e, a partir da chegada dele, os jogadores começaram a olhar para a Arábia Saudita como prioridade, mesmo perante outras propostas. Foi o Cristiano que deu este passo em frente e que fez com que a liga saudita se tornasse no que é agora. Tem sido um crescimento sustentado. Há apoio do Governo, a nível financeiro, para que estes jogadores que toda a gente conhece possam ingressar nestes clubes, sobretudo nos quatro maiores. Há outros também muito bons, que já estiveram num nível de Champions e de seleção. A visibilidade é cada vez maior e acredito que vai continuar a crescer até ao Mundial’2034. Agora, também acho fundamental que o futuro passe, sobretudo, pela formação. Há muitos treinadores europeus a ingressar nos escalões de formação. Precisam desta base para que, quando chegarem à equipa principal, estejam mais preparados. Acredito que, até 2034, o campeonato seja ainda mais competitivo.
“O Al Hilal não esperava a nossa qualidade...”
Num amigável recente, Fabiano Flora quase surpreendeu… Jorge Jesus.
Recentemente, jogou um amigável com o Al Hilal. Houve alguma troca de impressões com Jorge Jesus?
—Nem por isso, porque eles até estavam a perder 1-0 ao intervalo [risos]. Estavam a jogar com os habituais titulares e não estavam muito contentes. Provavelmente, não estavam à espera da qualidade da nossa equipa. Mas entendo perfeitamente o míster Jesus, estava focado na equipa... Também, na altura, falava-se muito da hipótese de treinar o Brasil, portanto, percebo perfeitamente que não quisesse estar a abrir-se muito.