Um balanço da participação de Portugal no Mundial: luzes sobre Bruno e João Félix
Médio e avançado deram sinais claros de estarem na calha para assumir destaque que antes pertencia a Cristiano Ronaldo.
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Um Mundial agridoce para Portugal. Realisticamente falando, a presença nos quartos de final constituiu o terceiro melhor desempenho de sempre da Seleção, apenas superado pelo terceiro lugar em 1966 e o quarto em 2006.
Contudo, a eliminação diante de Marrocos coloca um carimbo de insucesso numa equipa recheada de grandes jogadores e que tinha como meta ser campeã, como de resto assumiu Fernando Santos.
Em termos individuais, este Campeonato do Mundo deixa também sensações diferentes nos 26 convocados de Portugal, dois dos quais nem sequer entraram em campo - os guarda-redes Rui Patrício e José Sá. Entre os 24 utilizados, houve quem tivesse dado um salto em frente, assumindo um protagonismo nunca antes visto com a camisola das Quinas. Outros mantiveram a bitola habitual, alguns cumpriram quanto baste, mas também houve grandes desilusões.
Pela positiva, dois jogadores destacaram-se: Bruno Fernandes e João Félix. O médio deu o primeiro grande sinal de poder replicar na Seleção o que de bom faz no Man. United no play-off de apuramento, onde bisou. No Catar foi o cérebro do jogo ofensivo luso terminando a prova com dois golos e três assistências. Com Marrocos foi quem mais perto esteve de marcar, num tiraço à barra, e deixou outros bons apontamentos ao longo dos quatro jogos em que participou. Para O JOGO foi a figura de Portugal nas partidas diante de Gana, Uruguai e Marrocos e o site "sofascore", com base em dados estatísticos, dá-lhe um rating de 8,38 pontos, sendo antes das "meias" o jogador mais pontuado (ver tabela ao lado) à frente de Messi.
João Félix é apenas o sétimo luso no rating "sofascore", mas com um golo e duas assistência e uma exibição de sonho frente à Suíça, demonstrou que tem qualidade para assumir muito maior protagonismo no futuro, esperando-se que uma boa escolha de um futuro clube também para isso contribua.
Outros quatro jogadores merecem destaque. O lateral Dalot ganhou com todo o mérito o lugar a Cancelo, uma das grandes desilusões; o central Pepe que, após ficar no banco o primeiro jogo, mostrou não ligar à idade no Cartão de Cidadão: foi um muro a defender, marcando ainda um belo golo; Rafael Leão suplente utilizado em todos os jogos e que só fez 83 minutos mas ainda assim apontou dois golos; por fim, Gonçalo Ramos por uma noite mágica em que fez três golos e uma assistência.
Num plano elevado estiveram Raphael Guerreiro - que foi de menos a mais e teve um jogo extraordinário com a Suíça, acabando com um golo e duas assistências na prova - e Otávio - com muito trabalho de formiguinha e bem refletido no rating "sofascore".
A um nível q.b., estiveram os médios Bernardo Silva (de quem muito mais se esperava) e William, entre os mais utilizados, mas também Vitinha, Palhinha e Ricardo Horta que cumpriram nas oportunidades recebidas.
Diogo Costa e CR7 no pior
O futebol pode ser muito injusto e o bestial de ontem pode ser a besta de amanhã. Mas não há como fugir às evidências e não se trata de querer apontar culpados. Num jogo coletivo, os sucessos e insucessos devem ser repartidos, mas por motivos diferentes este Mundial ficará negativamente marcado nas carreiras de Diogo Costa e Cristiano Ronaldo.
Para o guarda-redes de 23 anos, a disputar a sua primeira fase final de uma grande competição, o adeus foi inglório. Na estreia, contra o Gana, Danilo salvou-o de um erro e no jogo seguinte foi decisivo frente ao Uruguai. Mas, diante de Marrocos, uma saída em falso permitiu a En-Nesyri assinar o único golo do jogo e da eliminação lusitana.
Mais problemática foi a situação de Cristiano Ronaldo a disputar o seu quinto Campeonato do Mundo, começou por fazer história tornando-se o primeiro a marcar em cinco fases finais. Mas as exibições nunca convenceram e foi sempre mais notícia pelo que não era desportivo. As polémicas já vinham desde a entrevista que motivou a sua saída do United e tudo piorou com as palavras dirigidas a Fernando Santos após o terceiro jogo, o último em que foi titular. Aos 37 anos, uma saída de cena em Mundiais que ninguém desejaria: sem brilho desportivo, recheada de casos e polémica. Fica a grande questão: há futuro para CR7 na Seleção?
Olhando aos desempenhos individuais convém dizer que outros atletas deixaram a prova com rendimento muito abaixo do desejado. Desde logo o lateral Cancelo, incompreensivelmente inofensivo no ataque e permeável a defender, além do central Rúben Dias e do médio Rúben Neves. O defesa não teve a presença autoritário que lhe vimos no passado, e também não fica bem no golo marroquino, o centrocampista não deu dimensão ao futebol da equipa, mostrando-se quase sempre muito acanhado.
João Mário e Matheus Nunes também não aproveitaram as suas oportunidades, enquanto as avaliações a Danilo e Nuno Mendes ficam condicionadas pelas lesões.