Treinador israelita do Estrela Vermelha: “O mundo do futebol desiludiu-me”

O Estrela Vermelha defronta, esta quarta-feira, a partir das 20 horas, na Red Bull Arena, na Alemanha, o Leipzig, na terceira jornada do Grupo G da Liga dos Campeões.

Na conferência de Imprensa de antevisão ao duelo contra a turma alemã, Barak Bachar, treinador israelita da equipa de Belgrado, quebrou o silêncio sobre o ataque do grupo Hamas e partilhou um relato emocionado acerca da situação em Israel.

No início da sua intervenção, Bachar revelou que tinha falado com Michael, o filho de Roy Edan, um fotógrafo da Ynet que foi assassinado por terroristas do Hamas, juntamente com a sua mulher, em Kfar Aza, no sul de Israel.

“Falei com o Michael ontem [segunda-feira]. É um miúdo fantástico, tem nove anos. Adora futebol e apoia o Barcelona. No dia 7 de outubro, o Hamas entrou em sua casa, matou os seus pais e raptou a sua irmã. Michael e a sua irmã, de seis anos, esconderam-se num armário, de onde ouviram como os seus pais foram mortos. A partir daí, conseguiram corajosamente chamar a polícia, que os salvou. Foi apenas um dos muitos horrores que aconteceram nesse dia”, partilhou o técnico, de 44 anos.

E prosseguiu: “Dizem que o futebol faz a ligação entre nações e raças e falam sempre de paz e respeito, mas eu pergunto onde está o respeito pelas 1 400 pessoas que foram assassinadas, jovens inocentes, que alguns só queriam desfrutar de uma festa de paz e foram chacinados. Famílias inteiras foram queimadas vivas e as suas casas. As raparigas foram violadas antes e depois de serem mortas. As mulheres grávidas foram cortadas ao meio por estes monstros que também mataram o bebé. Centenas de crianças foram mortas e muitas foram raptadas. Como é que se pode ignorar isso? O mundo do futebol desiludiu-me, muitos dos que foram assassinados adoravam futebol, adoravam o Barcelona, o Real Madrid e o Liverpool. O mundo do futebol é realmente dececionante, pergunto-me se é tudo uma questão de dinheiro. Será que o dinheiro também pode comprar valor e justiça?”, questionou Barak Bachar.

“Todos nós estamos aqui na Alemanha, todos nós conhecemos a sua história. Os clubes falaram aqui, escolheram estar do lado da vítima, do lado correto. É uma pequena luz nesta escuridão. Quero também salientar o apoio do meu clube e das pessoas na Sérvia. O meu país está a sangrar e a minha família, a minha mulher e os meus três filhos, corre para o abrigo todas as noites, porque, há uma hora, bombardearam perto da nossa casa. Muitas pessoas estão destroçadas. Toda a gente devia saber uma coisa importante. Ninguém vai quebrar o espírito israelita e nós vamos ganhar, porque não temos escolha, ‘Am Yisrael Chai!’”, finalizou o treinador do hexacampeão sérvio, num relato verdadeiramente impressionante.