O último selecionador a estar nuns Jogos Olímpicos antes de Rui Jorge é um caso sério de popularidade nos países do Magrebe e no Médio Oriente. Só volta para um projeto ambicioso ou por um apelo do coração
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O último treinador a dirigir o futebol português nos Jogos Olímpicos chama-se José Romão, tem 62 anos, nasceu em Beja, e é hoje um caso sério de respeito e popularidade nos países do Magrebe e no Médio Oriente. Curiosamente, a última vez que treinou em Portugal foi mesmo no comando da Seleção olímpica que esteve em Atenas"2004 e não conseguiu passar da fase de grupos. O país acabara de sair orgulhoso da organização impecável do Euro, mas frustrado pela derrota no Estádio da Luz com a Grécia. Histórias que se contam num outro texto deste trabalho. Para já, José Romão e quase apenas ele.
Há cerca de um ano disse que só regressaria a Portugal para um projeto de grande ambição. Mantém essa ideia?
-Nestes últimos 12 anos fiz uma caminhada muito rica. Posso dizer que a minha casa é o mundo. Sinto-me hoje mais capaz, mais conhecedor do jogo e das equipas. Têm sido anos fantásticos e continuo com uma enorme vontade de entrar em campo para cada treino, para cada jogo. Sim, mas mantenho essa ideia. O que se conseguiu até agora leva-me a pensar assim.
Então só mesmo com um projeto desses é que voltaremos a vê-lo nos relvados portugueses...
-Ou isso ou uma chamada do coração. Também temos sentimentos, portanto... Comecei no Vizela em 1984, sinceramente, perdi a contagem dos jogos que fiz até deixar Portugal. Tenho muito orgulho na carreira que construí e é agradável saber que o nosso trabalho é reconhecido. Tenho consciência do prestígio que ganhei nos países do Magrebe e do Médio Oriente. Agora mesmo estou numa fase de decisão do meu futuro, tanto posso continuar em Marrocos como ir para um clube do Médio Oriente. Não decidi ainda, mas está por dias. Não estou muito virado para continuar a trabalhar em Marrocos, mas não sei ainda. Treinei os três principais clubes de Marrocos e, nesse pormenor, sou tipo único.
Vizela, Penafiel, Chaves, Famalicão, Belenenses, Académica, Chaves, Alverca... Algum destes clubes está no tal apelo do coração?
-Quando falo em apelo do coração falo de saudades do nosso campeonato, do nosso futebol. Será normal dizer-lhe que hei de um dia voltar a trabalhar em Portugal, acho que todos os treinadores, emigrantes como eu, dirão algo do género, mas não será já. Julgo...
Continua a ser muito requisitado no estrangeiro?
-Eu como outros treinadores portugueses. Abrimos portas nestes últimos anos, pela qualidade que temos, pela seriedade com que nos atiramos aos projetos e pelas vitórias que conseguimos. O futebol português tem hoje uma imagem fantástica. Acabámos de ser campeões europeus de futebol com um selecionador português.
A sua popularidade é imensa, mais do que em Portugal...
-É natural, porque estou desde 2004 a trabalhar fora do país. Identifiquei-me com outras culturas, procurei compreendê-las e assimilar valores. Sim, a popularidade é fantástica. Não acontece apenas comigo. Particularmente na Ásia e em África, o Manuel José, por exemplo, é um rei, mas isso vem tudo das vitórias que se conseguem.
Tem sempre muitos convites para trabalhar?
-Muitos, do Kuwait ao Catar, sei lá! Ligam muito, felizmente.
Atendendo à qualidade que se vê no futebol de Marrocos ou da Argélia, que conhece muito bem, os clubes portugueses ligam-lhe para lhe pedirem uma opinião sobre a qualidade deste ou daquele jogador?
-Sim, mas já ligaram mais, no início do meu tempo fora. Hoje há outras formas mais avançadas de analisar as características dos jogadores e de saber se estão dentro dos parâmetros que os clubes estabelecem. Há realmente uma qualidade enorme no futebol magrebino, mas há uma razão para isso. Marrocos, por exemplo, não perdeu o futebol de rua. São muitos miúdos a jogar futebol. Já passei muitas horas a ver esse futebol de rua, onde se percebe que há futuro. É uma mina de talentos e claro que aconselharia muitos jogadores marroquinos a equipas portuguesas.