Guilherme Soares joga pelo Politecnica Iasi, da Roménia. Tem dois portugueses a seu lado e foram todos levados por Tony, que sairia ao fim de poucos jogos
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Guilherme Soares teve uma vida em Braga, passou pela Oliveirense na última época num registo de empréstimo, partindo na aventura, aos 23 anos, rumo à Roménia, desafiado pelo convite do Politecnica Iasi com um apelo especial do treinador Tony. O jovem central vai apreciando a escolha feita, a decisão tomada para longe de um contexto que indicasse facilidades. Já fez oito jogos e assinou um golo, que rendeu triunfo sobre a Universidade Cluj.
"Considero que a experiência romena é também uma oportunidade, não só desportiva, mas também de vida… pois fez-me sair da zona de conforto e procurar novas oportunidades e novos desafios. Em Portugal, não sei porquê, existe a prática de apostar no jogador estrangeiro em detrimento do jovem português, o que leva muitos de nós a procurarem um caminho alternativo de valorização desportiva e financeira", avisa. "E consciente estou que muitas vezes impossibilita novo regresso a Portugal. A mudança de país era algo em que eu já pensava e creio que foi o passo certo", resume, esperando que soprem bons ventos desta viragem. "Tenho a ambição de progredir na carreira, valorizar-me ao encarar um desafio novo. Quero superar-me… Claro que a presença inicial de um treinador português teve influência, desde logo o Tony explicou-me o projeto que tinha para mim e a vontade que tinha em que eu fizesse este caminho", relembra Guilherme Soares, entretanto privado do carismático técnico, que bateu com a porta. "Existiu um período de adaptação, mas vim com mais dois jogadores portugueses, o Cláudio Silva e o Gonçalo Teixeira, e isso facilitou um pouco. Tento levar uma vida normal, perdi vida social mas é algo que sabemos que temos de ir abdicando em certos momentos. Com a saída do Tony não foi fácil a primeira semana, diria mais estranha do que difícil. Foi um ligeiro abalo mas o importante é continuar a jogar, somar minutos, boas exibições e vitórias", regista Guilherme Soares, agora treinado por Emil Sandoi.
"Jogar na Roménia tem sido enriquecedor, tem trazido novas aprendizagens e nova perceção da realidade. O jogo é muito mais livre taticamente, não existe a preocupação tática que existe em Portugal, sobretudo para quem tem uma formação de clube grande. É um jogo muito mais partido que me levou a aprimorar alguns aspetos do meu jogo. Sinto-me cada vez mais completo e quero continuar a aprender", sublinha, mentalizado também de outras etapas a abraçar. "Quero naturalmente alcançar outros “voos”, mas concentrado no presente, porque acredito que é isso que vai ditar o meu futuro", aclara, perentório num leve escrutínio do futuro.
Carvalhal e o sonho de criança
Sobre o tempo passado em Braga, uma formação de excelência e contacto com condições de topo, Guilherme Soares valoriza a visão da primeira equipa que ainda lhe foi dada por Carlos Carvalhal, estreado contra o Portimonense em 20/21, fazendo outra aparição em 21/22 contra o FC Porto.
"Tenho muito orgulho no meu passado em Braga, sou muito grato por tudo o que aprendi e vivi. Tenho muito a agradecer a várias pessoas, a muitos dos meus colegas com quem construí amizades para vida e a muitas pessoas do clube. Ao mister Custódio, que sempre acreditou imenso no meu potencial e, ao mister Carvalhal, que acreditou também muito em mim e me fez realizar um sonho de criança", lembra, precisando os méritos do técnico que regressou à Pedreira e o reflexo nas conquistas do atleta. "Do mister Carvalhal só tenho boas impressões, identifico-me muito com a maneira como pensa o jogo, da pessoa… Deu-me oportunidade de trabalhar com grandes jogadores, de aprender muito e de jogar. Melhorei muito fisicamente, era algo que precisava, e a pensar e decidir de forma mais rápida. Tornei-me sem dúvida mais completo. Desfrutei muito, embora, logicamente, gostasse de ter jogado mais. Mas são momentos. Sinto que podia ter conquistado outro espaço, mas é algo que não controlo e com o qual não posso gastar energia", reflete, abordando também a atualidade guerreira e ainda evidentes problemas com aspetos por afinar, mormente na retaguarda. "Claro que, quando uma equipa sofre mais golos, as críticas, certas vezes de forma errada, são apontadas aos defesas e guarda-redes. No caso do Braga vemos que existe sempre muitos jogadores que entram e saem na equipa, o que torna difícil acertar e afinar comportamentos coletivos, que são decisivos no momento defensivo do jogo", alerta, não se furtando a uma avaliação mais ampla. "O momento ofensivo é mais sobre inspiração individual e criatividade. O momento defensivo, da forma que o Braga quer e deve defender, com pressão alta e forçar o erro do adversário, é algo que exige claramente mais trabalho e tempo. Obviamente que tem também de partir da qualidade individual dos jogadores. Tenho a certeza, até porque conheço a forma de trabalhar, que o mister vai corrigir e acrescentar muito do que tem faltado", antecipa Guilherme Soares.
Revelação antes das férias
No centro da defesa do Politecnica Iasi, Guilherme Soares joga muitas vezes com Cláudio Silva, outro jovem central, filho do ex-FC Porto e Boavista, Ricardo Silva. Uma relação forte que foi crescendo com amigos em comum, talvez também pela proximidade entre Santa Maria da Feira e Oliveira de Azeméis, já que o ex-Braga atuou pela Oliveirense e o ex-FC Porto pelo Feirense na época transata.
"É curioso, porque tínhamos marcado férias juntos com outros amigos e viemos a saber que tínhamos a possibilidade de ir para o mesmo a uma semana das férias. Foi engraçado", revela. "A relação é ótima, vamos passando muito tempo juntos, embora ele viva com a namorada. Mas temos no grupo o Gonçalo Teixeira. No campo a relação torna-se mais forte, porque estamos lado a lado na defesa."