Nathan Rooney treinou o Espinho em 2023/24 e volta agora a Portugal para enfrentar o Santa Clara e tentar um milagre nos Açores, ao leme do Larne
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O Santa Clara saiu cómodo da viagem à Irlanda do Norte, onde praticamente resolveu a eliminatória na primeira parte, com três golos sem resposta. Um pormenor curioso guia-nos ao banco dos irlandeses, onde se sentou Rooney, não o famoso dianteiro inglês, máquina de muitos golos, mas sim Nathan Rooney, sendo mais admirável do que esse cruzamento de identidade o facto de Nathan, de 35 anos, ter treinado o Espinho em 2023/24, mas sem que tivesse dirigido um jogo sequer. Durou pouco mais de um mês, mas foi tempo suficiente para garantir uma experiência bonita, quebrada por razões de força maior, da esfera pessoal. Resumiu-se a uma pré-época. Nada que diminua o proveito de uma bagagem interessante deste jovem técnico, que exerce funções desde os 19 anos, com batismo na formação do Blackburn Rovers.
Em conversa com O JOGO, já contando os dias para estar com o Larne em Ponta Delgada, Rooney quis lembrar o afeto que tem por Espinho, quando chegou para orientar os tigres na AF Aveiro.“A minha estadia foi muito curta, durou uma pré-época inteira, com futebol vistoso, e conseguimos fazer um plantel muito forte. Adorei Espinho, uma cidade piscatória especial com uma costa lindíssima e um povo altamente apaixonado, muito simpático. Admirei toda a cultura trabalhadora, que era evidente na terra, vinha de fora para o campo”, relembra, conquistado ainda pelo palato. “Os pratos de marisco encantaram-me, mas, sobretudo, a francesinha, o prato favorito. Sempre que havia sessões duras de trabalho, era o que me apetecia comer: uma bela francesinha! Não esqueço os surfistas, os churrascos e grelhados na rua, tudo em família. Foi uma vibração diferente para o meu verão, fizeram-me perceber a importância de uma vida familiar e profissional equilibrada”, relata, garantindo que a saída nada teve de causas futebolísticas, remetendo para definições pessoais.
Se Espinho foi uma porta de entrada em Portugal, em 23/24, Rooney recua aos primeiros contactos, em 2018/19.“A minha relação com Espinho começou quando estava no Fleetwood, em Inglaterra. Foi, então, que visitei esse estádio verdadeiramente histórico [do Espinho] para assistir a um jogo ao vivo, quando Rui Quinta era o treinador. Fui recebido pela incrível Direção, pelo Bernardo [Lito de Almeida, presidente] e pelo Bruno [Santos, vice]. Era jovem e estava a investir num programa de desenvolvimento profissional”, sustenta, avançando para o segundo ato de proximidade. De olho no passado, confessa-se radiante pelo que viveu. “Depois, a carreira levou-me a ter algum sucesso em jogos da Liga Conferência, quando treinava em Gibraltar. Fizemos novos contactos, estimularam-se as relações, e surgiu a oportunidade de emprego. Foi um sonho concretizado sentir ao peito o emblema do Espinho. Espero poder voltar ao país um dia para ter sucesso num novo projeto”, reclama o técnico de 35 anos, valorizando ferramentas apreendidas em Portugal. “Aprendi a cultura e pude mostrar as minhas capacidades de treinador a jogadores que atuaram nos níveis mais elevados da pirâmide portuguesa. Gosto de criar e entregar uma ideia de futebol que abrace uma mudança e reúna um forte balneário, de homens que sejam grandes personagens. Acredito que consegui isso”, realça, convicto de que terá futuro no nosso país. “Sempre planeei treinar em Portugal e, de preferência, imaginava chegar à II Liga ou acima. Penso que as ligas profissionais adequam-se melhor ao meu entendimento. Aguardo nova oportunidade”, diz, partilhando dois atletas que o maravilharam. “Recordo do meu tempo dois grandes jogadores do Espinho, o central Zé Pedro e o capitão João Ricardo. Foram duas grandes influências e dois grandes profissionais com que lidei. Mantenho contacto com muita gente.”
"Santa Clara, o maior desafio da carreira"
A treinar o Larne, após passar por Gibraltar, onde teve experiências europeias no Bruno’s Magpies, Nathan Rooney reconhece que os confrontos com o Santa Clara o elevaram a outro patamar. “São os meus jogos mais difíceis enquanto jovem treinador. É um grande desafio enfrentar o Santa Clara, apesar do sucesso que tive em algumas eliminatórias da Liga Conferência. Temos de ver o nível da liga portuguesa e a capacidade de recrutamento de jogadores. O que o Santa Clara fez em Portugal para acabar em 5.º lugar foi, realmente, impressionante. Somos os ‘underdogs’, mas ambiciono que a nossa ideia e paixão de jogo sejam evidentes”, confidenciava, antes da primeira mão. “Estou motivadíssimo para este regresso a Portugal. Sei que me espera conhecer um lugar muito bonito e o clube é digno representante de uma tradição futebolística que tem progredido. Vejo no Santa Clara talento, ritmo e aura genuína. Há agressividade, paixão e preocupação com o clube”, elogia Nathan Rooney.
A lei do profissionalismo
Discorrendo sobre a atualidade na Irlanda do Norte, somada a expectativas de carreira, Rooney resume o presente. “É o lugar certo para mim, mas sinto falta de algumas coisas. Estou satisfeito com o meu trabalho, cheguei como coordenador-técnico quando estavam na fase de grupos da Liga Conferência. Temos tido sucesso, e esta eliminatória é um exemplo”, declara, definindo a evolução do jogo na Irlanda do Norte. “Estamos a ver uma variedade de novos treinadores e jogadores a chegar. O sucesso dos clubes na Europa nos últimos anos estabeleceu um novo padrão. Alguns ainda operam de forma híbrida, mas não gosto, porque outras profissões costumam atrapalhar e chocar com horários de treino e aprendizagens específicas para cada jogo”.