Renato Veiga "nasceu" jogador: "O único sítio em que estava calmo era no estádio"
REPORTAGEM O JOGO - Central do Chelsea deu nas vistas esta época e mereceu a titularidade em jogos da Seleção Nacional. Pai destaca sofrimento a ver os desafios do "irrequieto" lá de casa
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Corria o mês de outubro quando Roberto Martínez surpreendeu na convocatória da Seleção Nacional para os jogos da Liga das Nações ao dizer o nome de Renato Veiga. Pouco depois, voltou a causar surpresa ao promover o central de 21 anos a titular, diante da Polónia. Para muitos, o nome do atleta podia ser ainda desconhecido, mas, com apenas 21 anos, Veiga já tinha dado muitas provas de que tinha nascido para o desporto-rei. Desde muito cedo. “O futebol entrou na vida dele às três semanas, que foi a primeira vez que foi a um estádio”, conta a O JOGO o pai do atleta, Nélson Veiga.
Jogador do Chelsea desde cedo mostrou estar atento ao futebol e querer seguir o mesmo rumo do pai, Nélson Veiga, que a O JOGO recorda o percurso do filho, cujas birras só passavam nas bancadas.
Criado numa família ligada ao futebol, com o pai nos relvados, Renato era ainda mais feliz quando podia ver a bola a rolar: “Foi sempre muito irrequieto e ativo. Mas a verdade é que o único sítio, enquanto bebé, em que ele estava calmo, era no estádio. Ia e parecia um homenzinho, fosse com poucos meses de vida ou mais velho. Sempre foi muito irrequieto mas, quando ia ao estádio, estava sempre muito atento a ver o jogo. Se fazia birra, a solução era levá-lo ao estádio [risos]. Ao sair, não dava descanso a ninguém. Estava sempre com travessuras, partiu coisas em casa. Foram asneiras incontáveis. Depois, obrigava, a mim e à mãe, a dar treinos, que era mandar bolas ao ar para ele dominar. A mãe, coitada, era obrigada a mandar a bola exatamente como ele queria. Se não mandasse, era logo a confusão”, revela.
Fez grande parte da formação no Sporting, mas não chegou a estrear-se pela equipa principal. Despediu-se de Alvalade em 2022, com 15 jogos e três golos pela equipa B.
“Bom aluno” na escola, garante o pai, a paixão pelo futebol era tanta que o central até deixava de comer só para poder estar mais tempo a jogar com os amigos. “Às vezes chegava tarde a casa porque se distraía com as horas. Outras vezes levava lanche e não comia porque ia jogar. Ou então até saltava as refeições”, recorda, bem-humorado.
"O futebol entrou na vida dele às três semanas, que foi a primeira vez que foi ao estádio"
Mas tal admiração pela bola e pelo relvado não foi apenas uma fase. Renato queria mesmo ser jogador e os pais acabaram por inscrevê-lo numa escolinha, onde começou a jogar com atletas mais velhos para evoluir mais depressa: “Quando eu ainda jogava em Chipre, ele começou muito pequenino a jogar numa escolinha, nem tinha seis anos ainda. Depois, regressámos a Portugal”. E, aí, começaram os convites. E logo de dois rivais lisboetas. “Começou no Atlético Cacém e, num torneio, destacou-se. Então recebeu convites do Benfica e Sporting. Ele não hesitou e escolheu o Sporting, que era o clube dele. Ainda hoje, um scout do Benfica me diz que o fintei e pergunta porque não o convenci a ir para lá, que tinha tudo para correr bem”, recorda, sempre com boa disposição.
De leão ao peito, começou a jogar mais à defesa depois de ter alinhado como extremo em experiências anteriores. Depois, aos 11 anos, foi para Marrocos com a família, onde o pai ia jogar, e começou a alinhar como médio. No regresso a Portugal, continuou a atuar no miolo: “Ainda treinou no Benfica mas, depois, como não havia decisões, acabei por inscrevê-lo no Real, porque tinha espaço para jogar e ele precisava de minutos. Começou a defesa esquerdo e, depois, voltou a jogar como médio até chegar a sénior no Sporting”.
"Levava o lanche e não comia por passar as horas de refeição a jogar à bola."
Renato Veiga passou 13 anos no Sporting, tendo chegado à equipa B, mas nunca se estreou pela equipa principal. Acabou cedido durante meia época ao Augsburgo, na Alemanha, e a adaptação não foi fácil. “Foi difícil, porque é a primeira saída do ninho, somos uma família muito unida. Na ida para a Suíça foi mais fácil. Já não era a primeira saída, havia um período de adaptação e também já está mais independente. Agora em Londres, pelo Chelsea, felizmente está a correr bem. Foi um salto enorme ter atingindo um nível tão alto. Dá uma satisfação muito grande. Como pai, é um orgulho. Sofro muito a ver os jogos. Muito mais do que na altura que jogava. É um sofrimento que nunca senti”, admite, entre risos.
Agora, numa das melhores ligas do mundo e entre os escolhidos de Roberto Martínez na Seleção, Renato Veiga está um jogador mais desenvolvido em campo mas as partidas... mantêm-se. “Vê-lo com a camisola de Portugal é uma emoção muito grande. Mas nas conferências ele engana bem! Ele não é assim tão calmo. Os companheiros não devem dizer o mesmo, há muitas chuteiras a serem escondidas no balneário! Ele tinha um ritual muito engraçado, em miúdo. Quando ia para os jogos e para os treinos, ele também fazia a malinha e fingia que ia jogar”. Passou a ser uma realidade.