Renato Paiva: como convenceu Paulinho, paciência para Biel e a desilusão com o futebol português
Novo técnico do Botafogo treinou o ex-Sporting e o recente reforço dos leões
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Em entrevista ao programa Além Fronteiras, da SIC Notícias, Renato Paiva recordou quando levou Paulinho do Sporting para o Toluca e congratulou os leões pelas contratações dos seus ex-pupilos Maxi Araújo e Biel. O técnico abordou ainda o estado do futebol português.
A contratação de Paulinho pelo Toluca: "Tivemos algum trabalho de sapa difícil para convencer os diretores. Ninguém conhecia o Paulinho. A trajetória fala muito por ele. Tem vários patamares de rendimento do Santa Maria ao Sporting e sempre demonstrou consistência, seja em que realidade fosse. Faz golos e a equipa jogar. Fez 13 golos e umas 10 assistências no México, não foi só finalizador. Quando lhe liguei estava numa situação de suplente no Sporting, mas mesmo como suplente fez 21 golos. Já me conhecia, a forma das minhas equipas jogarem. E foi muito fácil convencê-lo, explicando o campeonato. A grande dúvida dele e da família dele era o México: que segurança havia, como é viver no México. Eu disse-lhe que em seis meses nunca me aconteceu nada, que era seguro. Ele chegou e adaptou-se muito rápido porque é um grande profissional. Fez muita diferença ter padrões de profissionalismo muito próprios, tem nutricionista particular, psicólogo particular, tem vida regrada... Ele surpreendeu no México. Disse a um diretor do clube que me ia pagar um jantar porque o Paulinho ia ser o melhor marcador do campeonato e ele disse 'que exagero, há cá o Gignac...'".
Paulinho é o patinho feio da Seleção? "Não sei se o Roberto Martínez devia olhar para ele, ele é que sabe da realidade dele. Há uma coisa que sei. Tenho quase a certeza. Na Europa olha-se muito para estas realidades com desconfiança e diz-se assim 'ah o Paulinho faz estes números porque é no México'. Mas ele fez também em Portugal, e superiores. Dizem 'é América do Sul e isto é Europa'. Não se valoriza tanto, é um mundo de etiquetas. Se não saio do Benfica eu era um treinador de formação. Fica-se fechado numa etiqueta injusta."
Biel foi seu jogador no Bahia e demora em afirmar-se no Sporting: "Biel é um miúdo fantástico. Foi titular sempre connosco no Bahia. Depois com a chegada do Ceni e com várias contratações perdeu espaço. O plantel que tínhamos não era suficiente para sustentar o que o Grupo City queria. É um fantasista, parece que está sempre ligado à corrente, muito forte no um contra um, com golo. Precisa de um período de adaptação que o Sporting e o futebol europeu lhe vai exigir. Mas tem condições que vão facilitar muito a adaptação. Também está aí o Maxi Araújo, que treinei no Toluca. É diferente, já é titular do Uruguai. Faz todo o corredor esquerdo e é muito competitivo. Vão ser muito importantes. É preciso um pouco de paciência para estas realidades."
A meta de treinar na I Liga: "Não tenho dúvida de ser bem recebido em Portugal. É um objetivo. Não queria terminar a carreira sem treinar na liga portuguesa, é o meu país. Fico um bocadinho triste a olhar hoje para a realidade do futebol português porque há coisas que deviam mudar e não mudam. Estamos a meio do campeonato e só quatro treinadores mantêm o seu lugar. Acho que se despede com muita facilidade. Os despedimentos estão muito ligados a pessoas que tomam decisão sem conhecerem o que é o treino, o jogo, os jogadores. Não há uma filosofia e contrata-se o treinador X para jogar de uma forma, ao fim de sete jogos não funciona e contrata-se o treinador Y para jogar de uma forma antagónica. Para mim demonstra que não há projeto. Quando regressar vou ter muito cuidado com o projeto, mas é um objetivo, não quero terminar a carreira sem treinar na I Liga."