Português campeão na Polónia: "Não era objetivo, a vida tem destas surpresas"
Nené deixou Portugal com 27 anos e 69 jogos na Liga pelo Santa Clara. Sagrou-se campeão polaco, decisivo em feito inédito do Jagiellonia e alcançou a realização de um sonho
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Aos 29 anos, Nené foi um dos grandes destaques da Ekstraklasa, celebrando um título inédito pelo Jagiellonia. De médio-defensivo, passou a goleador...
Como se descreve a emoção de ser campeão polaco por um clube sem esses créditos?
-Uma felicidade enorme, poder fazer parte da história do Jagiellonia na sua primeira conquista como campeão. Lembro-me que, no apito final do jogo que nos consagrou campeões, saiu um peso enorme das costas, pela ansiedade durante a fase final do campeonato, se íamos ou não conseguir este feito. E ver o meu pai na bancada, que veio do Canadá, junto do meu irmão, tornou tudo mais especial, pois pude festejar com eles.
Para um médio que conhecíamos como defensivo, fazer onze golos e sete assistências, conquistar a Liga polaca, só pode ser a época da vida?
-Sim! Foi a minha melhor época da carreira. É verdade que no Santa Clara desempenhava outro papel mais como um número “6”, com pouca chegada à área. Aqui fui praticando novas dinâmicas, a jogar mais como um médio box-to-box, e correu bem. Tinha os níveis de confiança muito altos e isso ajudou-me bastante. O meu treinador teve uma influência enorme ao ver o que eu podia trazer ao jogo e por ter-me transmitido essa confiança dia após dia.
Mas os números também o surpreenderam?
-Os meus amigos, em tom de brincadeira, exigiam que tinha de chegar aos 10 golos. Consegui, juntando mais um na Taça, além das sete assistências. Os dois golos ao Raków deram confiança e crença na luta pelo título. Sentimento de dever cumprido, pois fui regular toda a época.
Para quem nunca tinha saído do país, estes dois anos foram um salto grande? Desportivo e financeiro?
-Eu sempre tive o desejo de experimentar o estrangeiro. Ainda estive um pouco reticente, mas pesou a vontade de me aventurar. E, passados estes dois anos, foi uma aposta certa, a nível desportivo e financeiro. Mas é verdade que nunca imaginei poder ser campeão no Jagiellonia e o clube não tinha esse objetivo. A vida tem destas surpresas.
Depois deste impacto o futuro passa pelo Jagiellonia?
-O contrato termina no final da próxima época, sei que há clubes atentos à minha situação mas tento não pensar. Se continuar aqui sei que fico bem, sou valorizado e respeitado e gosto de cá estar.
“Tudo tem tempo certo, fez parte do crescimento”
Açoriano da Graciosa, com muito tempo passado nas divisões inferiores, Nené jogou três épocas no Santa Clara, antes de se transferir para a Polónia. Não quer pensar se chegou tarde a este cenário. “Nunca vou saber! Quando cheguei ao Santa Clara não estaria tão bem preparado para assumir um papel mais predominante na equipa, tinha forte concorrência e era jovem. Fez parte do crescimento e talvez não tivesse chegado ao nível onde cheguei. Nada acontece por acaso e as coisas chegam no tempo certo, para uns mais cedo que outros, só isso”, ilustra Nené, fintando qualquer mágoa.
Da Graciosa para a Champions
Como explica que esta liga seja muito procurada pelos portugueses?
-Não é um campeonato muito visto em Portugal mas é onde muitos portugueses têm sucesso e são acarinhados. Os ambientes em quase todos os estádios são incríveis, também hostis. É muita afluência. Adoro jogar aqui seja em casa ou fora. Todos os jogos são muito equilibrados, qualquer equipa pode ganhar.
E já se imaginou a jogar a Champions?
-Será mais um marco especial na minha vida. Deixa-me orgulhoso ter saído da pequena ilha Graciosa, onde nasci, e poder jogar a Liga dos Campeões, algo que nunca pensei que fosse possível.
Ao ver o Europeu, visualiza jogar por Portugal?
-Não penso muito nisso, tive a honra de poder representar a Seleção nos sub-19. A competitividade é enorme, há muita qualidade em Portugal uns chegam ao patamar mais alto outros não. Um sonho foi mas algo com que nunca me preocupei, por não poder controlar.
Adeptos dão força a fator casa
Que retrato do clube, da cidade de Białystok, do ambiente em redor?
-É o maior clube desta região da Polónia, muito apoiado pelas pessoas da cidade. E, de facto, foi o que mais me marcou, em contraste com Portugal. Aqui as pessoas apoiam muito os clubes das suas cidades, todos os clubes têm uma grande massa adepta. A cidade é tranquila, sem muito movimento, ideal para manter o foco. Nas folgas aproveito e vou a Varsóvia espairecer um pouco.
Como sente a ligação dos adeptos ao que fez?
-Sinto admiração por muita gente que me aborda na cidade, é gratificante ver muitos jovens que me admiram e ficam felizes por me verem. A estrutura também confia em mim, sempre me ajudaram com o que era preciso.