Pablo Alfaro, histórico do futebol espanhol ao serviço de Sevilha, Atlético Madrid e Barcelona, falou ao JOGO sobre Martínez, que viu crescer como jogador na segunda equipa do Saragoça, sobre Ronaldo e Pepe, e também sobre o amigo Seba, chefe de scout da seleção lusa, com quem fala todos os dias
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Mítico central do Sevilha, etapa que mais o consagrou, inclusive com um título da Liga Europa, apenas possa orgulhar-se de ter sido campeão muito novo ainda no Dream Team de Cruyff, Pablo Alfaro é um histórico do futebol espanhol e de La Liga, embora nunca tendo sido internacional A. Também cultivou a fama de durão, sobretudo fazendo dupla com Javi Navarro em Sevilha.
Agora treinador no Real Murcia, Pablo Alfaro, de 55 anos, é um adepto mais do sucesso de La Roja no Europeu, vibrando com os bons indicadores oferecidos pela equipa de Luís de La Fuente. "Estamos muito esperançosos com o comportamento da seleção e pelo papel que pode jogar neste Europeu. É uma equipa muito compensada entre veterania e juventude, vejo tudo muito equilibrado, havendo muito desequilíbrio na frente com jogadores muito rápidos, que estão a ser verdadeiras sensações do Campeonato", explica Alfaro, pedindo algumas cautelas no que é o deslumbramento normal nestas ocasiões. "Aqui somos muito dados a dizer que somos os melhores e, depois, num resultado mau, passa logo a desastre. Não podemos ir de um extremo ao outro em tão poucos dias. Mas é a nossa forma de ser, a nossa realidade. De qualquer modo, o presente é de emoção positiva pelos bons jogos feitos. O grupo mostra-se forte, transmite muita fome e vontade de vencer. Isso é o mais importante, vamos ver o que reservam os oitavos", atesta, já ciente do veneno de uma Geórgia que venceu Portugal.
Sobre os desempenhos da armada lusa, Pablo Alfaro até garante estar bem documentado, pois tem um amigo infiltrado na operação na Alemanha, íntimo ainda de Zaragoza, onde começou por jogar Roberto Martínez. "Quando me estreio na 1ª Divisão pelo Saragoça, ele jogava na filial. Saiu muito jovem a jogar no futebol inglês, no Wigan, mais dois espanhóis. Fez a sua carreira em Inglaterra, forjou aí também a de treinador. Vejo em Martínez um técnico moderno, que gere muito bem o balneário. Fez um trabalho fantástico na Bélgica com uma geração incrível. Recebeu um desafio importante de Portugal, uma seleção potente, de bons jogadores, alguns estrelas mundiais. Desejo tudo do melhor, desde que não seja contra a Espanha. Acho que ele pode acrescentar muito, tem uma capacidade de trabalho importante, com compromisso e implicação numa ideia."
O contacto mais estreito na esfera de Martínez é com Jesús Seba, antigo avançado do Belenenses. "Seba é o chefe de scout de Roberto Martínez, é de Zaragoza como eu, e foi meu diretor desportivo no Mirandés. Falo muito com ele, todos os dias. Fizeram seis pontos nos primeiros dois jogos e a qualificação ficou garantida. É uma seleção recheada de talento e com gente muito experiente. Acho que tem havido um especial cuidado na gestão do Cristiano, sempre essa avaliação do passado e presente de uma mega-estrela. Portugal e Espanha são favoritos, mas a estar nos quartos, depois o nível subirá muito e qualquer rival te poderá derrubar", alerta Alfaro, que não se cruzou por pouco com Pepe e Ronaldo em La Liga.
"Pepe inteligente a adaptar-se um futebol diferente daquele em que cresceu"
"Pepe é para mim um exemplo de profissional implicado no que faz, um exemplo de maturidade, hoje menos impetuoso, mas com mais presença e mais seguro em todas as ações. É uma trajetória enorme, impressionante, vem de um futebol no qual cresceu muito diferente do atual mas moldou-se bem, preservando as suas qualidades, compreendendo a evolução do trabalho de um defesa com o VAR, o saber que está mais vigiado. Tem na inteligência a sua virtude maior, quem é inteligente habitua-se a todo o tipo de situações distintas", avalia o antigo central do Sevilha, não se negando a olhar também para CR7.
"É um craque, sabe que os melhores anos passaram mas dizem-me que ele está altamente envolvido com a seleção e com enorme vontade de fazer algo grande no Europeu", regista Pablo Alfaro, refletindo sobre o destino o ter feito cruzar-se com Cristiano. "Se o tivesse defrontado teriam sido jogos duros. É um futebolista de um nível superlativo, uma das grandes estrelas da história do futebol mundial e uma figura que é o orgulho dos portugueses", destaca Alfaro, percorrendo também a sua extraordinária carreira.
"Foram 18 anos como profissional, mais de 400 jogos na 1ª Divisão. Vivi um futebol muito forte, a Liga Espanhola era compradora de talento internacional, os melhores avançados vinham jogar para Espanha, pelo que eram exames de altíssimo nível todas as semanas. É um orgulho ter vestido tantas camisolas importantes, o Zaragoza, o Atlético Madrid, o Barcelona, o Sevilha, onde vivi os melhores anos", observa o antigo central, travando na felicidade no Sanchez Pizjuan. "Foi um período mais mediático, onde conseguimos enfrentar o Barcelona, Real e Atlético que estavam muito fortes e vencer-lhes várias vezes. Fiz uma parelha mítica com o Javi Navarro, praticamente foram cinco épocas a jogarmos juntos todos os jogos. É certo que nos fizemos muito famosos, mas também conseguimos ajudar o Sevilha a transformar-se num clube grande na Europa, vencedor de Taças, de Ligas Europas. Guardarei as imagens dessa primeira conquista europeia, essa final com o Boro", relembra, tocando numa dupla que agarrou alcunhas intimidantes. Javi Navarro era o carnicero, Pablo Alfaro o Doctor Terror.