Roberto Martínez vê no agora avançado do Barcelona qualidades diferenciadas e acredita que ganhou maturidade depois de ter passado pelo futebol inglês. Entrevista exclusiva a O JOGO
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Selecionador nacional justifica as “polémicas” chamadas de Cancelo e Félix em setembro, quando não tinham minutos de jogo, pela excelente informação que tinha de ambos de estágios anteriores.
Sente que reabilitou João Félix quando este estava numa altura difícil da carreira?
-Acho que o João Félix ajudou-se a ele mesmo. O João tem uma mentalidade ganhadora, gostei muito de vê-lo num período difícil. Vi uma mudança no jogador que é agora, depois de ter jogado na Premier League. Vi uma maturidade diferente. Acho que é importante, na Seleção, seguir o caminho da pessoa que está por detrás do jogador. Para mim, sem dúvida, o João Félix tem um talento individual muito importante para o que nós queremos fazer na Seleção. E o êxito e o sucesso também precisa disso, de jogadores que podem dar algo de diferente. E o João mostrou que está preparado. Chegar a um clube como o Barcelona no último dia de mercado e apresentar os desempenhos que tem tido, demonstra a maturidade que é essencial para um grande jogador.
Em setembro, quando João Félix e Cancelo não tinham minutos de jogo antes de chegarem ao Barcelona, o Roberto Martínez não teve receio em convocá-los. Se antes de fazer a convocatória final houver jogadores numa situação semelhante, será capaz de os convocar na mesma?
-Cada caso e cada situação é diferente. A informação que tínhamos do João Cancelo e do João Félix durante o estágio de março foi muito importante. O estágio de setembro aconteceu no período mais instável da carreira dos jogadores. E era dar interpretação. Acho que a tomada de decisão foi correta. Olhar para trás agora é fácil... Foi importante valorizar o que os jogadores fizeram em março, o que têm para dar na Seleção em comparação com outros e também o que vai suceder num futuro próximo. Se jogadores como Cancelo e Félix estão agora a jogar no Barcelona, com papéis muito importantes num clube muito exigente a nível mundial, não podemos deixar de acompanhar estes jogadores. Para mim foi chave ter conhecido o potencial deles em março e acompanhar o que se passou no verão.
Sente que o Rafael Leão ainda não conseguiu atingir na Seleção o nível que já apresentou no seu clube, o AC Milan?
-Isso é muito subjetivo. Estou muito contente com o Rafael Leão. No jogo na Islândia, o mais difícil que tivemos para obter a vitória, o Rafael mostrou grande disciplina tática e capacidade de interpretar o que tinha para fazer. Depois cresceu muito, no jogo com o Luxemburgo em casa teve momentos em que foi imparável. Posso analisar todos os jogos que o Rafael fez connosco e gostei muito. Comparar com o clube é difícil. São situações diferentes, são 60/65 jogos. É olhar subjetivamente aos momentos bons e esquecer os maus. Eu gostei muito do processo do Rafael. Nos primeiros jogos não começou no onze inicial, entrou bem com o Luxemburgo, com o Liechtenstein. Agora, no jogo com a Bósnia fora, deu uma ligação com a nossa ideia de jogo muito interessante.
“O Cristiano é uma influência, é contagiante, um ganhador nato”
Vê alguém na Seleção, que em termos desportivos e de mentalidade esteja num caminho como o do Cristiano Ronaldo?
-Cada jogador na Seleção é muito único e particular. O Cristiano é uma influência, é contagiante, é um ganhador nato. Está há 20 anos na Seleção, mas vai para um novo jogo com a mesma obsessão de ser o melhor. Acho que nestes 20 anos ele deixou de ser o mesmo jogador, já não é um jogador de um contra um, da jogada individual... mas a qualidade de movimentação na área é superlativa. É impossível comparar com outro jogador. Ninguém teve um período de 20 anos como o Cristiano. O Pepe também é muito semelhante. Quando estão no treino é como se fosse a primeira vez que estão na Seleção. Acho que nunca tinha visto isso.
“Há muitos que têm grande capacidade de liderança”
Com o aproximar do final da carreira de Ronaldo e Pepe, Martínez não teme pela falta de líder no futuro, garantindo que “há muitos”, nomeando: “Acho que agora temos jogadores como Bruno Fernandes (na foto) que tem liderança num clube como Man. United, Bernardo Silva, Rúben Dias, que ganharam a Champions, o que dá uma liderança importante. Acho que ter o Rui Patrício é também importante para nós. Dá tranquilidade e maturidade no balneário. Há muitos jogadores que têm grande capacidade de liderança. E também o António Silva e o João Neves, jogadores jovens que não têm ainda uma experiência internacional alta, mas que podem vir a ter liderança. Temos muitos.”