Daniela Lopes, empresária de futebol, é grande fã de Cristiano Ronaldo e desejava ser como o internacional português
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Em apenas dois anos, já esteve com nomes como Mbappé, Neymar e Cristiano Ronaldo. Sente que é um dever cumprido?
-Era impensável para mim conhecer o Cristiano Ronaldo. Era, e sou, fã dele. Passava os dias a ver vídeos, queria ser como ele. O Cristiano foi a minha fuga nos momentos mais difíceis. Sempre que quis ou pensei em desistir, ia ver vídeos dele e agarrava-me à força que transmitia. Ter a oportunidade de cumprimentar esses jogadores, apresentar-me, é para mim um motivo de orgulho, porque estamos a falar de estrelas mundiais. Era uma coisa impensável para mim quando vivia em Mirandela.
Quando esteve com Ronaldo pela primeira vez?
-Estava no orfanato e a Melissa Antunes, minha amiga e meu ídolo no futebol feminino, disse que tinha uma surpresa para mim. Nunca tinha visto um jogo de futebol ao vivo. Vivia no orfanato, de onde não podíamos sair. Mas ela tratou de tudo. Entrei no carro, fomos para Braga, e , quando cheguei, vi o autocarro da Seleção. Entretanto, um senhor da Federação veio ter connosco e disse-me que o Ronaldo estava à nossa espera. E foi aí que percebi que ia conhecê-lo. Já tive muitas mais oportunidades de estar com ele e o sentimento é igual. É como se estivesse a ver o meu ídolo, não consigo diferenciar. A dimensão que ele tem, nunca vamos ter igual. Nunca vamos ter um jogador com a influência que ele tem.
E ajudou-a a sair do aeroporto na Arábia...
-[Risos] A primeira vez que lá fui foi a convite da irmã do Ronaldo. Estava de férias, apanhei o avião e fui. Só que fui retida no aeroporto, veio a polícia e tudo. Não sabia falar muito bem inglês na altura e mostrei uma foto que tinha com o Cristiano, deixaram-me passar. Só aí dá para perceber a influência que tem.
“Ser mulher torna as coisas mais difíceis”
Daniela Lopes dá conta do preconceito de que já foi alvo no mundo dos negócios, apenas por ser mulher, e sente que tem de provar ser conhecedora do futebol para ter credibilidade no meio.
Quais têm sido os principais desafios que tem tido?
-Ser mulher e andar neste mundo torna as coisas mais difíceis. Ponto. Não quero desculpas, mas o facto de ter de estar sempre a provar aos presidentes, aos dirigentes, que sou capaz é desgastante. Se ligar para determinado presidente e lhe disser que tenho um jogador, é como se ele não me levasse a sério. Mas se lá for, se me conhecer, se perceber a forma como trabalho, acaba por dar-me a credibilidade. A questão de termos de estar sempre a provar que somos capazes é a única coisa que me incomoda.
Alguma vez se sentiu descriminada?
-Já, claro. Agora começo a ser um pouco conhecida e as pessoas sabem quem sou quando vêm falar comigo. Mas quando não era assim... Se for a um jantar de colegas empresários ou dirigentes em que sou a única mulher, não falam de futebol comigo. É preciso provar que sei do que estou a falar, que sei o que é um fora de jogo, quem são os jogadores, que sei como é que o treinador monta a equipa. Aí as coisas viram. Mas tenho de estar sempre a provar que percebo para que eles me deem a atenção que dão aos outros. Ou a credibilidade. Ainda assim, as coisas estão a melhorar.
Estão mesmo?
-Sim, estão. Cada vez mais. Até porque se começa a ouvir falar mais sobre as mulheres no futebol. Mas ainda está muito longe do que é suposto estar. Continuo a dizer que esta luta entre homens e mulheres não deve existir. Devemos lutar, sim, pelos direitos de igualdade. Ou seja, eu, ao entrar numa reunião, devo ser olhada da mesma forma como se estivesse a entrar um colega meu homem. Temos de lutar para aí chegar. E ser tudo um bocadinho à base disso.
Esteve no maior negócio do futebol feminino, com a ida da Telma Encarnação para o Sporting.
-[sorri] Sim. Ela tinha muitas propostas, e continua a ter. Mas não era intenção dela sair de Portugal e a opção foi o Sporting. Felizmente, fizemos o negócio e demos-lhe boas condições.
O facto de o jogo de Portugal ter sido disputado no Dragão é uma prova de evolução?
-Sim, claro. Estive no Estádio do Dragão há uns meses a assistir ao jogo da equipa feminina do FC Porto e lembro-me de ver imensa gente. Posso dizer que vi mais gente naquele dia, e a festejar, do que em alguns jogos de futebol masculino. Ou seja, a essência que existe no futebol feminino é o que também o diferencia do masculino. Saí do estádio e vi famílias, não interessa se eram adeptos adversários ou não, muito felizes com os filhos. A irem à bola, a levarem os filhos pela primeira vez ao Dragão, porque sentiram segurança para isso. Os ambientes são muito diferentes.
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