O herdeiro do trono saudita está a levantar contra si parte substantiva da opinião pública ocidental.
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Sexto filho de um vigésimo quinto filho de um rei, Mohammed bin Salman é, aos 34 anos, provavelmente o príncipe de quem mais se fala no mundo.
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O saudita acaba de comprar o Newcastle United por 300 milhões de euros e está a levantar contra si parte substantiva da opinião pública ocidental, ou não fosse acusado de envolvimento no assassinato de um antigo diplomata do seu país, de provocar uma série de tensões e conflitos territoriais e diplomáticos, de promover uma purga interna que lhe aliviou o caminho rumo ao poder e ainda de ser o responsável maior da fome sofrida por 13 milhões de pessoas no Iémen. Por outro lado, há quem o considere um progressista responsável por uma série de reformas e aberturas culturais importantes no maior país árabe. Uma coisa é certa: Bin Salman ainda vai dar muito que falar.
Depois de terminar os estudos na King Saud University, Mohammed passou a ser conselheiro do pai, o hoje rei Salman, quando este responsável pela província de Riade. Nunca mais largou o ouvido do pai, tal a sua inclinação e apetite pelos assuntos políticos. À medida que o pai foi subindo na cadeia de poder saudita, Bin Salman foi subindo com ele, passando depois para ministro da Defesa, exercendo hoje o cargo de primeiro-ministro adjunto, depois de o pai ter sido chegado ao trono em 2015, após a morte do rei Abdullah - na lei saudita, o rei é primeiro-ministro. Movido por rivalidades com o Irão, Mohammed lançou ofensivas militares, muitas delas com resultados desastrosos. A principal delas foi o bombardeamento do Iémen, que redundou numa catástrofe humanitária, saldada por 13 milhões de pessoas esfaimadas. Ao mesmo tempo que se ocupava da gestão de várias companhias petrolíferas, Bin Salman entrou em conflitos diplomáticos com o Catar e com o Canadá. As crises valeram-lhe críticas nos corredores de poder, mas o agora príncipe cortou cerce qualquer intriga palaciana, mandando prender e silenciar familiares e outros rivais políticos com iguais ambições de poder.
Mas há outro lado de Bin Salman. Tido como progressista, tem vindo a diminuir o policiamento religioso, incrementou os direitos das mulheres, reabriu salas de cinema e tem fomentado o turismo, abrindo os horizontes da Arábia Saudita contra o dogmatismo do Islão. Contudo, a mancha que não sai é a do assassinato de Jamal Khashoggi, o ex-embaixador e conselheiro saudita morto em Istambul, em 2018. Apesar de o estado saudita negar qualquer envolvimento, a mancha não sai.