Milhões reduzidos, jogadores idos e clubes falidos: a crise do futebol chinês
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A sustentabilidade do futebol chinês está sob ameaça. A outrora abundância de recursos financeiros, capazes de atrair reconhecidos jogadores e treinadores da Europa, tem desaparecido progressivamente e redundado no encerramento de clubes e na limitação da construção de plantéis.
Atual campeão em título, conquistado em dezembro último, o Jiangsu Suning, que fora detido pelo grupo proprietário do Inter de Milão (Itália), foi o último a anunciar, no passado dia 1 de março, o "cessar de operações" definitivo.
O clube, agora à venda por um yuan (cerca de 14 cêntimos), acumulou quase 75 milhões de euros de dívida e o grupo Suning, especializado em retalho de eletrodomésticos, deixou, entretanto, de financiar a sua atividade.
Esse défice foi causado, em grande parte, pelos reforços contratados por cifras bem milionárias: por exemplo, o Jiangsu Suning pagou 50 milhões de euros por Alex Teixeira (ex-Shakhtar) e 28 por Ramires (ex-Benfica). Em 2019, o nome de Gareth Bale fora até associado ao emblema.
A situação calamitosa dos clubes chineses arrasta-se há já três temporadas. Na época anterior a essas, por exemplo, despenderam-se uns exorbitantes e irrepetíveis 380 milhões de euros em contratações: Tévez (tornou-se então no futebolista mais bem pago do mundo), Óscar e Paulinho foram só algumas delas.
Desde a época 2018/19, um total de 16 emblemas do país oriental já fecharam mesmo portas e outros foram alvo de duros castigos por parte dos organismos que tratam da gestão e organização do futebol local e continental.
No ano passado, o Tianjin Tianhai abriu falência - o Tianjin Teda (ex-clube de Tiquinho Soares, que reclama falta de salários) poderá ter o mesmo fim - e o Tianjin Quanjian desapareceu após corte de relações com o patrocinador. Recentemente, o Shandong Luneng foi expulso da futura edição da Liga dos Campeões Asiática por violação das regras de pagamento de salários em atraso.
Face à crise financeira do futebol chinês, agudizada com o despoletar da pandemia de covid-19, o governo de Pequim tratou de limitar os valores das transferências mais caras, estipulando que a federação chinesa recebesse o mesmo montante de uma transferência internacional acima dos 5,5 milhões de euros.
Ou seja, se um clube da China comprasse um futebolista por dez milhões de euros, teria que desembolsar outros tantos para o organismo federativo asiático. Por essa razão, para esta mesma época, os clubes chineses investiram apenas... 7,5 milhões de euros em aquisições.
Além disso, foi estabelecido um teto salarial de três milhões de euros a pagar no máximo por cada jogador - Óscar, do Shanghai, recebe dois milhões por mês e é agora o mais bem pago no país - e a Associação Chinesa de Futebol decidiu que os nomes dos clubes devem estar isentos de títulos corporativos.
Este apertar do cinto progressivo causou a "fuga" de várias figuras do futebol europeu e mundial, entre elas Hulk, Pellé, Ighalo, El Shaarawy, Pato, Witsel, Goulart, Leonardo, Obafemi Martins, Zahavi e Rondón, além de treinadores conceituados como Rafa Benitez, Cosmin Olaroiu, Marcello Lippi, Scolari ou Vítor Pereira.