Miguel Campos destaca-se na Ucrânia: "Nestas ocasiões, até o cão nos liga..."
Em toda a carreira, o defesa com formação no Beira-Mar somava dez golos. Esta época já leva quatro e ambiciona mais, agora que assumiu a “pasta” das bolas paradas no Oleksandriya, colíder do campeonato.
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A cumprir a segunda temporada num escalão principal do futebol europeu, depois de ter passado pela Croácia, Miguel Campos está surpreendentemente envolvido na luta pelo título... e pelo topo da lista de artilheiros do campeonato ucraniano.
Como têm sido estes dias após o hat-trick? Muitas felicitações, seguramente.
-Nestas ocasiões até o cão nos liga a felicitar (risos)! Sim, têm sido muitas. Até de amigos ou pessoas da minha terra que nem sabiam onde eu estava a jogar. Agora já sabem.
Nunca tinha marcado um golo na conversão de bolas paradas até este jogo. Como surgiu este estatuto de especialista?
-Não me era dada oportunidade, mas eu também não me sentia preparado. Nos últimos tempos tenho treinado muito, especialmente os livres diretos, porque os penáltis normalmente são mais para dar confiança à malta que joga na frente. Tenho-me sentido mais confiante, os treinadores sentiram que estava pronto e comecei a bater. Para já é mais em jeito, de longa distância ainda não pratiquei muito. Normalmente costumo fazer de 20 a 30 bolas no fim dos treinos, se os guarda-redes tiverem essa paciência (risos), e acerto uma a cada três. No penálti, o meu lado preferencial é o esquerdo, mas normalmente olho para o guarda-redes antes de bater e aproveito as hipóteses matemáticas do lado mais aberto.
Tem alguma referência?
-Sempre me revi muito no Bruno Alves, que era um central muito focado, fisicamente muito forte e tecnicamente muito bom. Também jogo futevólei com os meus amigos, identifico-me muito com ele. É uma questão de mentalidade, de querer sempre ir melhorando, aprimorando as qualidades. Agora quero marcar tudo (risos)!
Agora ficou o bichinho de querer marcar golos em todos os jogos?
-Sem dúvida. Tenho vontade de ir para o campo bater livres e penáltis já amanhã (risos)! Agora, marcar golos tornou-se um vício, só quero fazer mais e mais.
Neste momento tem quatro na liga. Os melhores marcadores (quatro jogadores) têm sete...
-Pois. Mais um jogo como este e estou lá em cima (risos). Na verdade, nem eu nem os meus colegas nos lembramos de outro central que tenha marcado três golos num jogo. Mas falando mais a sério, o objetivo é ajudar o Oleksandriya a manter o estatuto de melhor defesa do campeonato [apenas sete golos sofridos em 12 jornadas].
Neste momento lideram a tabela, em igualdade pontual com o Dínamo de Kiev, depois de terem lutado pela permanência na época passada. Quais são os objetivos do clube para esta temporada?
-A ambição é voltar às competições europeias. Neste momento sentimo-nos confiantes, mas sabemos que o campeonato é longo, ainda faltam muitos jogos. Temos de manter uma atitude de humildade. Mas claro que internamente estamos muito contentes e motivados, já a sonhar com algo mais. Estamos a superar todas as expectativas.
Como é o futebol ucraniano? Surpreendeu-o de alguma forma?
-Sim. Não estava à espera que a Ucrânia fosse um país tão de futebol. Há muitos adeptos, e com muito entusiasmo. Esperava uma liga muito física, com jogadores altos, fortes e um jogo mais direto, mas não é assim, é bastante técnico. Eu também me destaco mais por gostar de sair a jogar e construir, e eles compraram-me mesmo por isso. O treinador [Ruslan Rotan] dá-me essa confiança.
Sempre teve esse registo enquanto central?
-Hoje sou um jogador completamente diferente do que era no início da carreira. Era um central que batia, basicamente (risos). Hoje sou muito mais capacitado e versátil, evoluí muito na parte técnica e na compreensão do jogo. Gosto muito do “um contra um” com o avançado, o roubar a bola, o desarme, e dificilmente perco bolas pelo ar.
e eu estava a jogar... Agora já sabem”
“Sei que é muito complicado, mas o meu sonho é jogar no Sporting”
Miguel Campos aspira a jogar em breve num campeonato “do top cinco europeu”, com preferência para Inglaterra e Espanha. “Penso que a nível físico ia encaixar muito bem na Premier League, é uma liga muito agressiva. E queria jogar na liga espanhola para me testar do ponto de vista técnico”, assume. O maior sonho, todavia, é jogar num clube português. “Sinceramente, a minha ambição maior é jogar no Sporting. Sei que se torna cada vez mais complicado, mas ainda é um sonho”, admite, revelando também que acredita ser “possível, mas difícil”, chegar à Seleção Nacional.