Mercado das marcas com dedo de um português

O futebol atual vai muito além do que se passa dentro das quatro linhas. Além dos compromissos com clubes e seleções, os jogadores - principalmente as grandes estrelas - têm contratos assinados com as marcas de vulto do desporto mundial. A guerra multinacional para assegurar os astros é feroz e, especialmente antes das grandes provas (Europeus e Mundiais), há sempre muita expectativa para ver os anúncios que têm os craques como protagonistas. No que toca à Seleção Nacional, Bernardo Silva, Rafael Leão, João Félix e Diogo Costa, entre outros, são patrocinados a título individual pela Adidas, por exemplo, e nos bastidores das negociações destes contratos está um português. Bruno Ferreira, 31 anos, é natural de Ovar, mas está radicado em Nuremberga há quase três e trabalha no quartel-general da marca alemã, localizado em Herzogenaurach.

“O que faço é ajudar a gerir o orçamento, otimizando o nosso portefólio de jogadores da forma mais eficiente possível, comunicando constantemente com os nossos colegas de diferentes territórios que, por sua vez, contactam com os atletas”, explica o português, que ocupa o cargo de “Senior Business Controller”. “Sempre que querem contratar ou renovar com um jogador, o processo de negociações passa, por norma, também por mim. Em comunicação com outros elementos, sou uma das pessoas que aprova os pedidos de orçamento”, aprofunda Bruno, em conversa com O JOGO. 

Para lá dos nomes das Quinas já mencionados, Francisco Conceição, António Silva e Palhinha também estão sob alçada da Adidas, à semelhança de outros que prometem brilhar no Europeu, como Jude Bellingham (Inglaterra) e Lamine Yamal (Espanha), ambos no raio de ação de Bruno - assim como... Messi. O médio do Real Madrid e da seleção inglesa - que até “veste” Nike - é, aliás, o rosto principal da campanha lançada pela Adidas à porta do Euro’2024. Uma “ativação” que, explica Bruno Ferreira, está “a cargo do departamento de comunicações”. Porém, o raio de ação do luso vai além do masculino. “Também trabalho com jogadoras de futebol feminino e com jogadores de scouting, desde muito novos. Temos, ainda, os embaixadores da marca, como o Beckham, o Zidane e a NBA”.

Contas feitas, são muitos milhões a passarem por duas mãos, no caso portuguesas e logo a operarem no seio de uma das maiores marcas a nível global.

NBA também está no leque

Praticante de basquetebol até à adolescência, nas camadas jovens da Ovarense, Bruno Ferreira mantém o “bichinho” da modalidade bem vivo através do trabalho. É que, tal como no futebol, o funcionário da Adidas também tem poder de voto na gestão de orçamentos dos contratos propostos ou já firmados entre a gigante alemã e os astros da NBA, entre eles James Harden (LA Clippers) e Anthony Davis (LA Lakers). Bruno, aliás, até se cruzou com o primeiro bem recentemente. “Há algumas semanas estive no Eurocamp da Adidas, em Treviso [Itália], como uma espécie de ‘faz-tudo’. É um evento que quase funciona como ‘pré-draft’ da NBA dirigido a basquetebolistas de todo o mundo. O Harden esteve lá. Só faltou falar com ele, mas tornou-se impossível com a quantidade de gente que teve sempre à volta”, lamenta Bruno em O JOGO.

Sem esconder as saudades de casa, o português sente-se “feliz” em Nuremberga, uma cidade “super segura e muito bonita”, munida de uma rede de transportes públicos “excelente”. A “qualidade da cerveja, que é ótima”, ajuda a contrariar “o frio e a falta de dias de sol” na região, que, por estes dias, serve de quartel-general à seleção da Alemanha, anfitriã do Europeu. “Aqui no complexo da empresa há uma espécie de hotel, mais localizado no meio da floresta, onde a seleção da Alemanha dorme. Já os vi passarem de bicicleta por mim, é um cenário relativamente normal”, remata, sobre a “Mannschaft”.