"Lembro-me, na altura, de jogarmos com 47 graus! Foi algo inacreditável..."
Um ano após ter subido o Al Kholood ao primeiro escalão saudita, o português Fabiano Flora repetiu a dose no Al Diriyah. Mianmar, Timor-Leste e Madagáscar foram outras das paragens do “globetrotter” Fabiano Flora, que guarda episódios curiosos
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De temperaturas escaldantes ao estádio cheio de budistas, Fabiano Flora revela histórias engraçadas.
Fale-me um pouco do seu percurso. É quase um “globetrotter”: Europa, Ásia, África... quais as razões desta diversidade na carreira?
—Sobretudo o mercado. Como sou um treinador jovem, ainda não tenho a capacidade de escolher onde treinar. Há uma coisa fundamental: nunca podemos deixar de experimentar e de agarrar as oportunidades que temos em mãos. Foi o que fiz. Agarrei as oportunidades, tentei crescer o máximo possível enquanto treinador e vivi experiências, culturas, países e cidades diferentes. Até porque a nossa função vai mais para aquilo que é o treinador principal. Cria-se uma base sólida no trabalho, que transportamos para o dia a dia e ficamos mais preparados para o inesperado.
Esteve em Mianmar, Timor-Leste, Madagáscar... Qual a experiência mais fora da caixa?
—Talvez Mianmar, um país totalmente diferente. Também modesto, com pessoas humildes e um campeonato muito difícil, também pelas questões climatéricas. Lembro-me, na altura, de jogarmos com 47 graus! Foi algo inacreditável... O nosso clube [Zeyar Shwe Myay] ficava perto da fronteira com a Índia. Como é que se conseguia jogar com aquelas condições? Mas conseguimos encher o estádio com muitos budistas. Quando cheguei, o clube não tinha adeptos e no último dia conseguimos encher o estádio. Também gostei da experiência em Madagáscar, até porque tive a possibilidade de competir e de fazer parte da qualificação para o Mundial do Catar. Foi absolutamente fantástico. A ligação que há entre o povo e a seleção é extraordinária, difícil de explicar.
Com essa experiência em contextos tão distintos, como é que se define enquanto treinador?
—Quero ser visto como alguém trabalhador. Sou muito rigoroso no que faço e tento seguir um princípio claro e importante para que as minhas equipas tenham sucesso, que é, sobretudo, a mentalidade. A coragem de que a equipa precisa para ganhar jogos. Coragem de progredir em fase defensiva. A bola tem de ser nossa e esse é o princípio que tento passar aos jogadores. Se cada um deles tiver isso dentro da cabeça, farão coletivamente a diferença. E é por isso que conseguimos subir duas vezes consecutivas em campeonatos difíceis e com bons resultados. Parte tudo dessa base de trabalho, do rigor tático e da mentalidade vencedora, até porque as minhas equipas têm de ser, aos meus olhos, as melhores do Mundo.