“Para comprarem jogadores fortes e intensos os clubes vão à Dinamarca, que são mais baratos”, defende José Boto
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Contratado pelo Flamengo para o cargo de diretor para o futebol, a 30 de dezembro, o português José Boto começa a mexer cordelinhos no clube, prometendo uma reestruturação profunda a vários níveis, desde o futebol de base ao departamento de scouting.
Ontem, em entrevista ao “Globoesporte”, Boto abordou, por exemplo, qual o perfil de contratação que pretende para o Fla, na sequência do que aconteceu já esta semana com Juninho, avançado brasileiro contratado ao Qarabag, do Azerbaijão, e que já atuou em Portugal no Portimonense, Estoril e Chaves..
“O perfil de contratações vai ser o do jogador que serve para o nosso modelo de jogo. Se vem do Azerbaijão, se vem do Cazaquistão ou de outro país qualquer, isso não é importante. O importante é que tenha o perfil que procuramos. Aquilo que quero implementar é que o departamento de scouting nos dê mais Juninhos. É um jogador que o Filipe Luís [treinador] e eu conhecíamos. Não vem do scouting, mas sim do nosso conhecimento geral do mercado e encaixava-se perfeitamente nas características que nós procurávamos para um avançado do Flamengo neste momento. Mas o processo correto vai ser o scouting dar-nos Juninhos para observarmos, debatermos e contratarmos o melhor”, afirmou o novo homem forte do futebol do Flamengo, que é o emblema com mais adeptos no Brasil (46,5 milhões segundo uma sondagem efetuada pela Globo em 2022).
Outra ideia explanada por Boto na entrevista tem a ver com o trabalho desenvolvido pelos diversos treinadores na formação. O português pretende uniformizar um estilo comum a todos as equipas, à semelhança do que já acontece nos clubes europeus de topo, evitando que cada treinador aplique o seu sistema: “O facto de eu achar que o futebol brasileiro tem que voltar um pouco aquilo que são suas características e sua identidade, não quer dizer que tudo o que é modernidade, que ajuda ou aproxima o futebol brasileiro do europeu, tem que ser deitado ao lixo. Não. O que eu disse foi porque vieram muitos clubes da Europa buscar ideias daquilo que era a formação no Brasil e estão neste momento a formar jogadores mais criativos, mais talentosos do que o Brasil. Isso tem a ver com o facto de alguns dos fundamentos que fazem dos futebolistas brasileiros únicos estejam a ser desincentivados no início da formação do jogador. Há muitos treinadores na base que trabalham como se estivessem a treinar equipas profissionais. O conceito deve ser o de formar o jogador independentemente daquilo que pensa o treinador em termos de sistemas táticos, mas dando-lhes os fundamentos típicos do futebol brasileiro, que fazem com que os europeus venham aqui buscar tantos jogadores. Costumo dizer que, se for para buscar jogadores fortes e intensos, eles vão à Dinamarca, que são mais baratos. Aqui eles vêm buscar talentos.”