José Boto: "Já disse, preferia ficar na quarta posição a seis pontos, do que ser segundo a 20 e tal"
Oficializado em 11 de janeiro como diretor desportivo do Osijek, José Boto assinou até junho de 2026 pelo emblema da quarta maior cidade da Croácia,
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O Osijek tem crescido em competitividade desde a chegada de José Boto à direção desportiva do quarto classificado do escalão principal da Croácia, cuja seleção defronta Portugal na segunda-feira para a Liga das Nações de futebol.
“O objetivo a que me propus sempre foi não acabarmos o campeonato a 20 pontos do primeiro lugar. Até já disse que preferia ficar na quarta posição, que dá acesso às provas europeias, a seis pontos [do vencedor] do que em segundo a 20 e tal, porque significaria que estamos mais competitivos. Queremos jogar cara a cara com os ‘grandes’ clubes do país e é isso que se tem passado”, enalteceu o dirigente, em entrevista à agência Lusa.
Oficializado em 11 de janeiro como diretor desportivo do Osijek, José Boto assinou até junho de 2026 pelo emblema da quarta maior cidade da Croácia, situada cerca de 280 quilómetros a este da capital Zagreb, replicando as funções exercidas anteriormente no campeão grego PAOK Salónica (2021-2023).
“Para ser sincero, é um projeto inovador, com umas infraestruturas físicas ao nível de um Benfica. A grande motivação foi poder construir alguma coisa de raiz”, explicou o antigo líder do departamento de observação das águias (2007-2018), das quais saiu rumo ao bicampeão ucraniano Shakhtar Donetsk (2018-2021), tendo trabalhado em momentos diferentes com os treinadores portugueses Paulo Fonseca e Luís Castro.
O Osijek nunca foi campeão nacional, mas participou em todas as edições da Prva HNL desde a independência da Croácia, em 1991, e foi segundo colocado em 2020/21, atrás do hegemónico Dinamo Zagreb, recordista de cetros (25) e atual heptacampeão em título.
“Olhando para a qualidade de jogo, as distâncias estão mais esbatidas entre o Dinamo, o Hajduk Split, o Rijeka e nós. Estamos todos muito embrulhados [nos lugares cimeiros da classificação] e acaba por haver maior equilíbrio. Agora, sabemos que o Dinamo tem o peso de ser o Dinamo a vários níveis, até na confiança dos jogadores”, notou José Boto.
O Hajduk chegou à mais recente paragem do campeonato para os compromissos das seleções nacionais na liderança isolada, com 28 pontos, em 13 jornadas, contra 25 do ‘vice’ Rijeka, e 24 do Dinamo Zagreb, terceiro classificado, estando o Osijek e o Varazdin igualados na quarta posição, ambos com 20 pontos.
“Tivemos um começo um pouco atribulado. Nesta altura, estamos num momento muito bom e a cinco pontos do segundo lugar. O objetivo de ficar mais próximo do topo está a ser cumprido. Por outro lado, quisemos profissionalizar um pouco mais o clube, que tem umas infraestruturas fantásticas, mas precisava de subir o nível naqueles departamentos diretamente relacionados com o futebol. Até agora, estamos a consegui-lo”, avaliou.
Seis vitórias nas últimas oito jornadas, uma das quais no terreno do Dinamo Zagreb (4-2), aproximaram o Osijek da zona de acesso às provas europeias, retificando um início negativo de época, no qual foi afastado na terceira pré-eliminatória de qualificação para a fase de liga da Liga Conferência, ao perder com os azeris do Zira no desempate por penáltis.
“Fizemos um ponto nas cinco primeiras jornadas, que foram bastante marcadas pelo facto de termos começado muito cedo a temporada. Não perdemos nenhuma partida na Liga Conferência, mas fomos eliminados e isso tem sempre um peso negativo. Depois, o mercado de transferências estava aberto e tínhamos jogadores a sair ou a entrar. Isso não nos permitia ter estabilidade e acabámos por pagá-lo no arranque do campeonato”, traçou.
"As pessoas chamam ao Tiago Dantas o novo Luka Modric"
Na Croácia, antiga república da extinta Jugoslávia, José Boto tem visto uma realidade competitiva “à imagem do ADN do futebolista croata”, com “muito talento e qualidade técnica”, mas “um pouco atrasada a nível do treino e com alguma falta de cultura tática e intensidade”.
Além do extremo luso-guineense Mesaque Djú (Gorica), campeão europeu de seleções de sub-17 e sub-19 em 2016 e 2018, respetivamente, a representação portuguesa cinge-se ao internacional sub-21 Tiago Dantas, companheiro de equipa do dianteiro luso-cabo-verdiano Hernâni no Osijek, ao qual chegou em maio Alfredo Almeida, ex-coordenador técnico do Benfica.
“Para terem uma ideia, as pessoas chamam ao Tiago Dantas o novo Luka Modric [risos], devido à sua qualidade e dinâmica e ao facto de não falhar um passe. Tendo a oportunidade de jogar e a confiança do treinador, mostra qualidades enormes. É um futebolista específico para um determinado tipo de jogo e necessita dessa confiança”, finalizou José Boto, que coincidiu com o médio na formação ‘encarnada’ e em Salónica.
“Penso que faz mais falta o Modrić à Croácia"
A ausência do futebolista Luka Modrić por suspensão prejudicará a Croácia frente a Portugal, na segunda-feira, no encerramento do Grupo A1 da Liga das Nações, admite o diretor desportivo dos croatas do Osijek, José Boto.
“Penso que faz mais falta o Modrić à Croácia do que os quatro jogadores de Portugal que estarão ausentes [Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e Pedro Neto]. Com todo o respeito por eles, que são fundamentais, Portugal tem muitas soluções para substituí-los. Não se comparam, nem de perto nem de longe, às soluções da Croácia, que são de um nível bem mais baixo. Neste momento, Modrić é o motor, o coração e a alma da sua seleção”, admitiu o dirigente do quarto classificado da Liga croata, em entrevista à agência Lusa.
Portugal, vencedor da edição inaugural, em 2019, visita a Croácia, finalista derrotada em 2023, na segunda-feira, às 20:45 locais (19:45 em Lisboa), no Estádio Poljud, em Split, na sexta e última jornada do Grupo A1 da Liga das Nações, numa altura em que a equipa das ‘quinas’ já está qualificada para os quartos de final e tem a vitória assegurada na ‘poule’.
Os lusos acumulam 13 pontos, contra sete dos croatas, que ocupam a segunda posição, também de acesso à próxima fase, enquanto a Escócia soma os mesmos quatro pontos da Polónia, mas, ao contrário dos polacos, cujo destino passará pelo play-off de manutenção ou pela despromoção automática à Liga B da prova, ainda pode aceder aos ‘quartos’.
“Portugal não vai descurar a possibilidade de ganhar à Croácia, que tem realmente de vencer. Podemos esperar um jogo bastante interessante, embora Portugal tenha uma seleção bem mais forte neste momento. A Croácia ainda vive muito de Modrić e de alguns jogadores que são excelentes, mas não estão no seu melhor. Não foi feita uma renovação como devia, mas, de qualquer forma, é sempre a Croácia e tivemos algumas dificuldades contra eles na última partida”, recordou José Boto, que trabalha no Osijek desde janeiro.
Portugal e Croácia encontram-se pela terceira vez em 2024, após o triunfo da ‘vatreni’ (2-1) num encontro de preparação para o Europeu, em junho, no Estádio Nacional, em Oeiras, ao qual a equipa das quinas ripostou com uma vitória similar em setembro, no Estádio da Luz, em Lisboa, na jornada inaugural da quarta edição da Liga das Nações.
“Na minha opinião, Portugal tem o melhor grupo de jogadores de todas as seleções europeias. Há soluções para jogar de diferentes formas, podendo fazer descansar alguns atletas e colocar outros em campo. Acho que somos a seleção mais forte da Europa neste momento ou, pelo menos, com potencial para ser a mais forte”, caracterizou.
A goleada caseira sobre a Polónia (5-1), na sexta-feira, permitiu ao conjunto comandado pelo espanhol Roberto Martínez passar pela segunda vez a fase de grupos da Liga das Nações, após as eliminações prematuras em 2020/21 e 2022/23, e rumar com o estatuto de cabeça de série ao sorteio dos quartos de final, fase introduzida na atual edição.
“O treinador ainda estará um pouco à procura da melhor forma de jogar ou de ter dois ou três sistemas que permitam mudar esse estilo durante os jogos. De qualquer forma, não vejo nesta altura nenhum país europeu como Portugal, que tem este grande número de atletas tão bons, com experiência internacional e a jogarem nos melhores campeonatos”, reiterou José Boto, a conviver em Osijek com o internacional sub-21 luso Tiago Dantas e o luso-cabo-verdiano Hernâni.
Face às dispensas do capitão Cristiano Ronaldo e de Bernardo Silva, Bruno Fernandes, suspenso, e Pedro Neto, o ponta de lança Fábio Silva, em estreia, e o extremo Geovany Quenda, na iminência de se tornar o internacional ‘AA’ mais novo de sempre, foram chamados dos sub-21 para a deslocação à Croácia, que ficou no pódio dos últimos dois Mundiais e perdeu a final da Liga das Nações de 2023 no desempate por penáltis com a Espanha.
“Até por razões estruturais da Liga local, penso que a Croácia vai ter muita dificuldade em substituir esta geração e não se avizinha um futuro com tanto sucesso. Não há equipas B e os clubes não apostam tanto como no passado em jovens, que, depois, saíam para os grandes campeonatos e ganhavam outra experiência, permitindo-lhes competir ao nível em que a seleção esteve até agora. Esta nova geração tem o Martin Baturina, que normalmente é titular e tem um potencial muito grande, mas continua no Dinamo Zagreb”, ilustrou.