João Mota treinou Bruno, condenado por assassinato: "Muita gente não perdoa"
ENTREVISTA - João Mota já ganhou a Supertaça da Jordânia e tem mira à conquista do campeonato e Taça do país, na busca de um pleno. Reflete sobre vários destinos, fala de um país maravilhoso, que é o Brasil, com esse tormento da segurança. E lembra quando treinou o mandante de crime bárbaro com omissão de cadáver.
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João Mota é um trota-mundos, sem medo dos territórios, dos riscos e desafios. Tem feito vibrar adeptos do Al Hussein, da Jordânia, e a liderança é cada vez mais confortável. Já viveu todo o tipo de vivências no Brasil mas lembra o “estômago” de treinar ex-guarda-redes do Flamengo.
Portugal é já um país que ficou para trás, olhando ao domínio do Brasil e do mundo árabe na sua vida?
-De Portugal restam-me algumas pessoas queridas, amigos, filhos e netos. Tenho muita saudade da nossa gastronomia... mas já estou pouco identificado com o que se passa no país. Se um dia tivesse uma proposta de trabalho interessante, claro que aceitaria, é o meu país, tenho orgulho de ser português, mas quando vou a Portugal já sou um peixe fora da água. No Brasil só me custa a falta de segurança, sente-se o perigo a cada esquina, falo de São Paulo e Rio de Janeiro. Felizmente também tem muita gente maravilhosa e fazem-me sentir um deles. O mundo árabe tem sido mais o meu círculo de trabalho, não porque o procure, mas porque se interessam mais por mim e eu tenho de trabalhar.
Vendo passagens por Aparecidense, Rio Branco do Acre, Guarulhos, Tigres do Brasil ou Juventus Jaraguá, depreende-se que tem o país bem explorado?
-No Brasil tenho casa em São Paulo mas já vivi por conta do futebol na Goiânia (Aparecidense), em Rio Branco do Acre (Rio Branco), na Bahia (Botafogo Bonfinense) no Rio (Tigres), em Cuiabá no Mato Grosso. O Brasil não é um país, é um continente, nunca termina, é enorme. É um país maravilhoso, com gente maravilhosa. Mas com o problema de outros milhões.
Da experiência no Brasil sabe-se que treinou o Bruno, liberto depois de preso por assassinato da mulher. Caso delicado?
-Uma situação conturbada, ele vive debaixo de pressão constante, muita gente que não perdoa a situação ocorrida. E jogávamos, às vezes, em ambientes complicados. Nenhum treinador gosta de ver o seu jogador ser escorraçado. Havia o lado de o tentar proteger mas também me tinha de colocar na testa do problema. Ele sempre foi profissional enquanto estava com o clube, mas eu sabia que a vida dele fora do clube era difícil. Foi algo muito desconfortável.