"Japão tem a liga mais forte da Ásia, apesar dos jogadores que chegam à Arábia Saudita"
Murilo, antigo extremo do Nacional, Braga e Gil Vicente, reconhecido ao trajeto feito em Portugal, que abriu portas de um mercado altamente sugestivo. Cita como grandes técnicos que apanhou cá Costinha, Abel Ferreira e Ricardo Soares
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Brilhou em Portugal, passando por Nacional, Braga e Gil Vicente com coroações especiais em cada clube, também tormentos com lesões em momentos críticos, mas sempre estimulando o futuro e abrindo portas. Murilo saiu do Gil Vicente para o Japão, onde jogou já alguns meses no Kyoto Sanga, estando prestes a começar a sua primeira época completa no país do sol nascente.
"A ida para o Japão foi um misto, na busca da segurança financeira, por ter chegado aos 30 anos. Sabendo do que sofri com essa lesão, que me tirou um final de época e um início de outra, praticamente uma temporada de fora, esta é uma compensação financeira. Depois escolhi o mercado asiático, que vem crescendo da maneira que se conhece. Não é só Arábias, sempre existiram outras ligas interessantes como Japão, China e Coreia. Pelo que tenho visto desde a minha chegada, tenho confirmado as informações que procurei. O Japão tem a liga mais forte do continente, independentemente dos jogadores que vão chegando à Arábia Saudita. Basta ver a competitividade, o nível de jogos, a qualidade de jogo dos japoneses e os estrangeiros também são cirúrgicos no que podem acrescentar. Muito feliz, não pensei duas vezes, foi hora de buscar novos desafios depois de sete anos na Europa", revela.
"A marca mais importante é marcar o nome num continente importante. Um jogador de futebol sempre sabe que há Europa e América do Sul mas, hoje, é a Ásia que está logo a seguir. E é um continente que tem feito o futebol crescer bastante, a minha perspetiva foi essa, abrir um mercado diferente, acreditando que se tudo corre bem aqui há outros países asiáticos que valorizam o teu trabalho e, financeiramente, quando desejam um atleta, não têm problemas em pagar. Mesmo sendo aí um jovem, sou experiente, deixei as minhas provas no brasil, Portugal e Espanha, vim em busca de outras coisas, uma nova cultura. Vou tentar permanecer no Japão, que vejo com um destino interessante, não correndo bem há sempre os mercados a que já estamos habituados", certifica o antigo extremo, que viveu grandes emoções em Portugal, logrando uma subida no Nacional, uma Taça da Liga em Braga e um acesso europeu no Gil Vicente.
"Cada um à sua maneira foi muito especial para mim, conquistei coisas importantes e fiz história. O título da Liga 2 pelo Nacional foi um marco incrível. Foi um ano mágico, o Rui Alves deu a oportunidade e o trabalho com o Costinha foi ótimo. O Braga marcou uma aprendizagem muito grande com alguns dos melhores técnicos da atualidade, tive sorte e percebi que o nível da carreira subiu. O Gil Vicente abriu-me portas depois de uma grande passagem no Maioca, onde gostaria de ter ficado mais tempo, mas faltou acordo com o Braga. Em Barcelos voltei a ser reconhecido, abri estas portas. De nada me arrependo, apenas lamento a grave lesão que sofri, que também me fez mais forte psicologicamente. Tive de crescer e saber lidar", recua Murilo, consciente que cada passo desenhou o seguinte. "Levo tudo pela positiva, consegui voltar a jogar ao melhor nível. Agora sinto que tenho tido boas prestações no Japão, após ter feito o meu papel em Portugal. Agora é outra aposta, faremos contas no fim se foi sucesso ou não, importante é estar feliz e tranquilo", sustenta o extremo, resumindo as suas experiências em solo nacional no que respeita à interação com treinadores e colegas.
"Um treinador sempre engrandece um atleta e o grupo engrandece um treinador. Vou citar três, o Costinha no Nacional, o Abel Ferreira, pelo que aprendi em Braga, a sua maneira diferente de ver o jogo, de pedir coisas diferentes a um jogador, de o fazer jogar em distintas posições. E, ainda, o Ricardo Soares, que acreditou muito no meu potencial. Era o treinador que precisávamos nesse Gil Vicente. Foi um grupo fenomenal que batia de frente com qualquer equipa. Era bonito de se ver", atira.
"Como jogadores destaco o Ricardo Gomes, no Nacional, um grande avançado, no Braga cito o Gaitán, pelo currículo e mentalidade, um jogador excecional. E no Gil tenho de incluir mais porque havia meninos talentosos como o Lino e o Fujimoto. Fomos muito felizes nessa época dentro do campo", regista Murilo, agarrando um balanço "proveitoso" da carreira. "Vivi em dois países incríveis como Portugal e Espanha, só tive pena de não ter dado continuidade maior em Espanha, mas falharam acordos contratuais. Aliás, em Espanha, também apanhei treinadores que me fizeram ver o jogo de outra maneira, melhorei o entendimento de algumas coisas. Se fosse pensar, quando saí do Brasil, de como seria tudo, não ia poder imaginar uma carreira tão vencedora como vem sendo. Mas ainda há muita coisa para acontecer e, a qualquer altura, posso voltar a Portugal ou Espanha", reflete Murilo, reconhecendo que uma conversa com Fujimoto, estrela do Gil Vicente, ajudou a clarificar o rumo Japão.
"Pedi-lhe conselhos e, obviamente, ajudou-me e deu dicas. É um jogador extremamente técnico e inteligente, que precisa de estar sempre a ser acionado a participar no jogo. Quando isso acontece, as suas valias surgem naturalmente e influencia positivamente os jogos. Acredito que, mais tarde ou mais cedo, vai respirar em patamares maiores. Estando no Japão percebi logo a técnica e a qualidade associados ao estilo dele. Bastou atuar contra a sua equipa, o Tokyo Verdy com uma escola altamente técnica que preza a posse de bola. Gostam muito dele no Japão", valida.