"Gostava de ter outra história no Sporting, nada posso fazer para mudar isso"
Rúben Vinagre analisa, em entrevista a O JOGO, a passagem pouco feliz por Alvalade, fazendo tudo para regressar ao clube da sua vida. Não esquece também o capítulo radioso no Wolverhampton
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A falta de afirmação no Sporting atrasou as suas intenções? Como reflete sobre essa etapa?
—O principal fator foi não ter jogado ou jogado pouco. Entendo que fiz o que me pediam quando jogava, mas depois faltava continuidade. Aqui comecei logo a jogar e só vou parar no final de maio. O somatório de jogos faz a diferença. Faltou-me isso, sofri com as opções mas o que se passou no Sporting fica como aprendizagem. Sou mais jogador do que era. Senti que podia fazer mais, sinto que ainda posso regressar aos patamares mais altos, nada disso é descabido. Apesar de ter acontecido o que aconteceu, a vida continua, faço o meu trabalho e foi, por conta disso, que fiz esta grande temporada.
Mas custou-lhe não singrar no clube do coração?
— Gostava que a história tivesse sido outra, nada posso fazer para mudar isso. Quando regressei, podia ter feito outras escolhas, mas optei por Sporting, também pelo que me diz. Mas só posso dizer que cresci muito trabalhando com um grande treinador e grandes jogadores.
Como avalia o Rúben Amorim, com mágoa ou votos de sucesso até para o capítulo que vive em Manchester?
—Não me sobram ressentimentos, tenho a certeza que é um grande treinador. Não era fácil a sua missão quando chegou ao Sporting e, agora, vai provar também no Manchester United como é bom e competente. Faz parte, foi parar a uma liga muito competitiva e chegou a um clube que está a reestruturar-se. Passar por isso não é fácil. Quando vi as notícias, achei que era a pessoa certa para recolocar o clube onde tem de estar.
Contava ter sido campeão em Alvalade? E que grandes alicerces teve a seu lado?
—A equipa podia ter sido campeã mas, infelizmente, não se concretizou. Conseguimos vencer a Taça da Liga e a Supertaça. Apreciei muito estar lá, jogar com Pote, Nuno Santos e Daniel Bragança. Foram elementos importantes para mim, com quem senti o gozo de jogar.
Indo mais atrás, são os anos nos Wolves que o catapultam?
—A chegada aos Wolves mudou a minha vida, porque o que mais queria era chegar à Premier League. Adorava ter continuado mas as coisas proporcionaram-se de outra forma. Realizei esse sonho e espero voltar. Apanhei a equipa no Championship, soube do interesse e foi normal aceitar, porque percebi que estavam a montar um projeto para subir. Estava o Nuno como treinador, o Roderick, Cavaleiro, Hélder Costa, o Rúben Neves, o Jota. Tudo correu bem e fiquei lá, contrataram-me a título definitivo e foram anos muito felizes.
E aquela atmosfera portuguesa? Algo impagável, imagino...
—Ainda é a história mais bonita da minha carreira, porque subimos, fomos campeões e no primeiro ano de Premier League atingimos a Liga Europa. Foi incrível, senti-me muito bem a jogar lá, o contexto da liga favoreceu-me, depois era o treinador, os colegas, era um ambiente fantástico. Os portugueses estavam sempre juntos, jantávamos. Era uma pequena cidade de Inglaterra onde se falava português. O Rúben Neves era adorado, foi o homem importante na subida, o Jota também, depois contratam o Rui Patrício e o Moutinho, ainda o Neto. Mais alguns jogadores com nome, mas ficou uma ligação muito forte aos portugueses.
Lembra-se de como chegava esse carinho ao campo?
—Eles cantavam muito para o Moutinho, que era como o Vinho do Porto. O Rúben fazia grandes golos e assistências, o Jota também brilhava. Era uma equipa fácil de se jogar, cheia de craques. E tínhamos o Nuno Espírito Santo, que continua a provar que trabalha muito bem. Confia muito em si, sabe ter os jogadores do seu lado e tirar o melhor proveito deles.