Gonçalo Silva: "Nem nos meus melhores sonhos pensei que estaria a lutar por coisas grandes"
ENTREVISTA, PARTE I - Gonçalo Silva voltou a sonhar e é um dos destaques no surpreendente FC Noah, clube que, pela primeira vez na história do futebol da Arménia, conseguiu o apuramento numa prova europeia
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Na distante Arménia tudo corre de feição a Gonçalo Silva, o central português de 33 anos que, como confessa a O JOGO, nem nos seus melhores sonhos pensava num trajeto tão positivo e entusiasmante. O FC Noah, fundado em 2017, tem mais portugueses - técnicos e jogadores - na estrutura e está a fazer história, sobretudo na Europa, depois de ter passado a fase de qualificação na Liga Conferência.
Segundo o central, o treinador Rui Mota é bastante exigente e criterioso, também muito humano, o que se repercute na qualidade da equipa
Como tem decorrido essa aventura na Arménia? O Noah está a fazer um percurso único na história do futebol do país. No campeonato, na Liga Conferência…
-É uma aventura que tem corrido muito bem. Era algo que procurava há algum tempo, uma experiência diferente de todas as que já tivera e fiquei muito entusiasmado quando as pessoas do clube me abordaram. O Noah é um clube com poucos anos de história, mas com uma ambição gigante, e isso nota-se em tudo, do presidente a toda a Direção, staff, treinador e equipa técnica e também no plantel e família que formámos! Tudo se reflete nos nossos resultados positivos e, com quatro jogos em atraso no campeonato, só dependemos de nós para chegar ao primeiro lugar. Na Europa conseguimos um apuramento histórico para a fase regular da Liga Conferência, somos a primeira equipa de sempre do país a fazê-lo, depois de termos começado na primeira pré-eliminatória da competição.
O plantel do Noah é rico em nacionalidades, precisamente 13, mas Gonçalo garante que o balneário está unido e pronto a superar-se
Qual o segredo do sucesso? Não recearam o “choque” na prova europeia?
-O principal motivo reside na ambição e no desejo de alcançar coisas grandes. É isso que tem acontecido, assente nas boas estruturas do clube, que dispõe das condições ideais para estarmos focados e fazermos o nosso trabalho da melhor maneira. Depois, a construção do plantel foi sem dúvida pensada ao pormenor, com um misto de experiência e juventude aliada a uma enorme qualidade, não só futebolística como também humana. Tudo isso faz a diferença dentro das quatro linhas. Estávamos preparados para a Europa, apesar de sabermos da valia de muitos dos adversários e das contingências de uma prova desta natureza.
Barreirense, Lousada, Atlético e depois Braga, Belenenses e Farense, mais o Radomiak, da Polónia (2021/22) e agora o Noah perfazem a lista de oito emblemas que Gonçalo já representou
As condições de trabalho agradam? O profissionalismo tem um nível razoável na Arménia ou ainda não?
-Se falarmos do Noah, temos umas condições incríveis, de equipa grande, que irão ficar ainda melhores a partir de fevereiro, altura em que as obras da academia terminarem. Mesmo assim, não nos falta nada, o profissionalismo é real em todas as áreas e departamentos do clube. As condições dos outros clubes não são assim tão boas e isso reflete-se na qualidade de certos capos. Existem alguns sintéticos, mas penso que haverá uma mudança gradual, e a curto prazo, para que a qualidade do campeonato melhore.
“Antes de vir para a Arménia, nem nos meus melhores sonhos pensei que estaria hoje novamente a disputar uma competição europeia”
Planos futuros: voltar a Portugal ou ficar por aí?
-Deus e a vida ensinaram-me a não fazer planos, principalmente a longo prazo, mas sim a desfrutar de cada momento e é isso que tenciono fazer. Antes de vir para a Arménia, nem nos meus melhores sonhos pensei que seria assim, que hoje estaria novamente a disputar uma competição europeia e a lutar por coisas grandes e para ser campeão. Por isso, é continuar a trabalhar e a desfrutar do futebol, pensando no melhor para a família. Estou feliz, tenho dois anos de contrato, depois se verá o que o futuro reserva.
De mente aberta até ficar surpreendido com o que viu
Gonçalo Silva tentou não criar muitas expectativas com o ingresso no Noah, porque a última vez que tivera uma experiência no estrangeiro (Radomiak, Polónia) as coisas não correram como tinha idealizado.
“Vim de mente aberta para o Noah. Já me tinham falado da sua organização e a verdade é que fiquei bastante contente e surpreendido pela positiva, com tudo, desde a receção às condições e à disponibilidade que sempre tiveram comigo. E o país também me surpreendeu, pois não conhecia nada sobre a Arménia e Yerevan e fiquei agradado com tudo o que tenho visto e vivido aqui”.