
Rafael Giménez
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PERFIL - Saiba mais sobre Rafael Giménez, jogador do Cádiz, de Espanha
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Reza a lenda que chegou ao balneário do Barcelona B, para onde se transferiu no inverno de 2015/16, e deixou um aviso que acabou estampado no jornal "El Mundo Deportivo".
"Tenho 22 anos e dois filhos, quem não correr, parto-o todo" - com algumas liberdades, mas não muitas, a tradução do que terá dito dá mais ou menos isto.
Rafael Giménez, "Fali", é um homem de convicções fortes que por estes dias virou protagonista em Espanha pela recusa em regressar aos treinos e aos jogos do Cádiz enquanto não houver uma vacina para o coronavírus. "Prefiro voltar a comer pão com azeite", explicou o central, agora com 26 anos, peça importante da defesa do líder da II divisão espanhola e aparentemente nada incomodado com a hipótese de perder o contrato confortável que tem com os andaluzes até 2024. A prioridade é outra: proteger a família.
Aliás, o sentido de família foi apurado bem cedo. Com raízes ciganas e uma infância humilde, passada entre sucateiros, casou-se aos 16 anos com uma rapariga de 14 e foi pai pouco depois. O futebol entrelaçou-se nos sonhos como caminho de acesso a uma vida mais desafogada; queria "viver como um rei". Palavras dele. Depois de anos a penar em escalões modestos, conseguiu em 2016/17 uma época regular no Barcelona B, onde chegou por cedência do Nástic. Mas Camp Nou não lhe abriu as portas. No último inverno, uma proposta do Cádiz seduziu-o e esta época estava a correr-lhe bem: admirado pelos companheiros e esteio defensivo da equipa, habituado a travar adversários, não contava com um perigo invisível. O coronavírus desarmou-o.
Confinado num dos países mais afetados pela pandemia, Fali acabou por desenvolver aquilo a que os psicólogos espanhóis que têm sido chamados a falar sobre o caso apelidam de "síndrome da cabaña", que mais não é do que o receio de sair de casa e voltar à normalidade, isto numa altura em que, mais vigiado e controlado, o perigo continua à solta.
O Cádiz chamou-o para testes ao coronavírus e para recomeçar os treinos, mas Fali avisou que não ia. E disse também que abdicava do salário enquanto não jogasse. "O presidente quer continuar a pagar-me, mas se me enviar o cheque, devolvo-o. Fui pobre toda a vida e se tiver de voltar a sê-lo, não há problema", disse, num dos vários fóruns em que (à distância) tem participado. Uns veem-no como herói, outros como portador de um medo irracional com o qual estará a desrespeitar os companheiros. Pinto, ex-guarda-redes do Barça, foi mais pragmático na análise ao caso que fez na rádio Canal Sur. "Isto é como os cus, cada um tem o seu. É uma situação demasiado complexa para que um jogador tenha a enorme responsabilidade de tomar uma decisão".
